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“Podemos deitar fora a maior oportunidade desde o ouro no Brasil”

O potencial das renováveis em Portugal está lá, mas é necessário que seja aproveitado. A pressão que a digitalização está a criar devia ser um alerta.

Se não olharmos para a energia ‘lato sensu’, como uma oportunidade de desenvolvimento socioeconómico deste país, estamos a deitar fora a maior oportunidade que temos, se calhar, desde o ouro do Brasil”, avisou Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN).
Mesmo sem ser “muito otimista”, acredita que em 2035 o setor valerá entre 16% e 18% do PIB português. “Não olhar de uma forma clara e objetiva para tudo o que está a ser feito e que pode ainda ser feito” seria “negligente”. “Temos de evitar que isso aconteça”, conclui.
Pedro Amaral Jorge recorda ainda que a digitalização da economia, que implica cada vez mais inteligência artificial, dependerá muito da energia. “Sem eletrões, não há inteligência artificial. Sem eletrões, não há computação. Portanto, os eletrões têm de ser sustentáveis, mas também têm de ser competitivos, têm de ser baratos e têm de ser controlados do ponto de vista soberano”, avisou.
“Ninguém vai investir em redes se não houver um compromisso claro de que esse consumo vai existir, para diluir o custo unitário das redes e o consumo final da energia”, acrescentou.
Já João Macedo, CEO da Akuo Portugal — a grande vencedora do concurso solar de 2019 — diz que os projetos na área da energia “necessariamente demoram tempo” e motivam “muitas queixas”, mas defende “algum otimismo”. Há casos “em que corre bem” e, por isso, “tem de se ter paciência, tem de se aprender também”, diz.
O consultor Nuno Ribeiro da Silva concorda. Considera que “o balanço para trás é positivo” e lembra que “o processo de transição é muito complexo”, lembrando que “tem de haver uma articulação entre muitas variáveis”, nomeadamente as redes, a capacidade de armazenamento, o licenciamento, e a dinâmica entre a oferta e procura”.
Hoje, afirma, “isto é evidente que é absolutamente crítico”, porque “há uma dinâmica de oferta, nomeadamente com a instalação de capacidade solar, que tem picos de geração nas horas de sol e que, como estamos numa situação de mercado, os preços a que o investidor vende essa eletricidade no mercado grossista vêm para zero”. Portanto, “isto, obviamente, acende uma luz laranja e mesmo vermelha em alguns investimentos em grandes empresas”, por “não haver razoabilidade económica para prosseguir investimentos”.
O antigo líder da Endesa Portugal considera que “não tem havido dinâmica” no licenciamento de sistemas intensivos no consumo de eletricidade, “nomeadamente, agora com os data centers” — “o que implica também uma ponte muito funcional com o Ministério da Economia”, sublinha. “A ministra do Ambiente disse ainda há poucos dias que está com um portefólio de pedidos e de solicitações enormes”.
Esse é o desafio. “O que é que andamos a fazer para criar um ciclo económico virtuoso em Portugal, com base no seu diferencial, por ter indústrias renováveis e todo um ecossistema favorável? Muito pouco”, aponta o responsável pela APREN. “Temos de fazer muito mais”, conclui.

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