A saúde em Portugal tem dois problemas "graves", no entender do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho: um passa pela gestão e o outro pelo descontrolo na despesa. As acusações foram feitas pelo antigo chefe do Governo na sexta-feira e durante o fim-de-semana, não mereceram qualquer tipo de comentário por parte de Luís Montenegro ou outro membro do Executivo.
Mas Pedro Passos Coelho foi mais longe e refletiu ainda sobre a forma como a estabilidade política não deve depender apenas do Parlamento mas sim daquilo que designou de "vontade política" e "força moral" para fazer as mudanças que são necessárias.
Na apresentação do livro “Parcerias Público-Sociais: o caso dos Hospitais (des)nacionalizados”, da autoria do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos, Nuno Reis, Passos Coelho realçou que a sua crítica sobre o “enorme descontrolo da despesa pública na área na saúde” não tinha como destinatário um responsável político ou um Governo em concreto, dizendo que se verifica há vários anos.
Mais à frente, quando se referiu também a “um grave problema de gestão na saúde”, deixou um alerta: “Vamos ver quem tem força, autoridade e sabedoria para o resolver”, disse, avisando que os problemas no setor não se resolvem com “revoluções” ou contra os profissionais.
“Isso não pode ser feito senão num horizonte, num contrato social e político mais alargado, com alguma estabilidade. E essa estabilidade depende da perceção que as pessoas possam ter da relevância dessas políticas”, disse.
Para Passos Coelho, essa estabilidade não vem apenas “da força do parlamento”.
“Um governo pode ser minoritário e não lhe faltar força nenhuma na sociedade para fazer uma reforma que as pessoas percebam que é necessária. Claro, se os governos têm medo de tirar isso a limpo, torna-se difícil obter o apoio das pessoas”, admitiu.
O antigo primeiro-ministro defendeu que “é preciso mobilizar e convencer as pessoas que essas políticas são mesmo importantes”, o que não depende “da força política momentânea”.
“Depende de uma certa força moral, evidentemente, mas depende, sobretudo, de conseguirmos conquistar as pessoas para as mudanças que queremos fazer. Mas para isso temos de saber bem o que é que queremos e temos de testar”, avisou.
Por outro lado, acrescentou, é preciso também “vontade política” para concretizar as mudanças, manifestando-se contra uma certa forma de governação, sem concretizar destinatários.
“’Chuta-se a bola para a frente e depois vamos ver. O que é importante é andar. A gente depois logo vê como é que faz’. É uma maneira de governar. Eu não a recomendaria, pelo menos como sistema. Não quer dizer que às vezes não seja preciso dar um piparote qualquer, andar para a frente e depois vamos ver. Mas como método, não me parece que seja recomendável”, afirmou.
À saída, Passos Coelho não quis fazer declarações à comunicação social, numa sessão que contou com a presença do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.