Os partidos pediram e Costa assentiu. O ainda primeiro-ministro apresentou a demissão na terça-feira por considerar que as suas funções não estão asseguradas no momento em que é investigado num processo-crime.
"Não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito ou sequer de qualquer ato censurável", disse em conferência de imprensa.
"A dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade, a sua boa conduta e menos ainda com a suspeita da prática de qualquer ato criminal", indicou no discurso onde apresentou a demissão.
Antes deste mesmo discurso, e depois de serem conhecidas as buscas em São Bento, os partidos políticos já pediam a sua demissão. Nesta altura, não era público que António Costa estava a ser investigado pelo Supremo Tribunal da Justiça, no âmbito da investigação a negócios do lítio e hidrogénio verde.
Se antes os partidos pediam, em uníssono, a demissão do primeiro-ministro, agora pedem a rápida dissolução do Governo e eleições antecipadas para que o país possa ter os seus assuntos em ordem.
O que dizem os partidos?
Os partidos defendem que só existe um único caminho a seguir: eleições antecipadas.
A Iniciativa Liberal foi o primeiro partido com assento parlamentar a falar sobre o caso que levou à demissão de Costa.
"Creio que não há outra solução neste momento que não seja a dissolução da Assembleia da República e eleições para que os portugueses possam pronunciar-se sobre a nova constituição da Assembleia da República e um novo Governo", adiantou Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal.
A Iniciativa Liberal indicou que o fim político de António Costa, em plena fase de discussão do Orçamento do Estado para o próximo ano, é "também o fim de uma solução para o país que não funcionava".
Já o deputado único do Livre, Rui Tavares, disse que o partido está preparado para as eleições que se seguem. "O Livre está preparado para todos os desafios que se colocarem ao nosso país", atirou.
Ainda assim, Rui Tavares lembrou que o Presidente da República ainda vai ouvir os partidos e posteriormente o Conselho de Estado nos próximos dois dias.
E André Ventura, tal como tinha referido na manhã de terça-feira, voltou a defender a dissolução do Parlamento como "a única solução" disponível. Na declaração à imprensa, Ventura socorrendo-se das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, datadas de março.
Apesar de reconhecer que o atual panorama não comporta o "melhor momento" para eleições, o líder do Chega apontou que não existe alternativa. Nas palavras de Ventura, substituir Costa por um dos seus ministros, como Fernando Medina, seria "adiar" o problema.
O secretário-geral do PCP afirmou que o país precisa de soluções para a situação em que se encontra, mas que o partido está pronto para eleições antecipadas. "No atual quadro político institucional não se pode deixar de considerar a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições", afirmou.
No entanto, Paulo Raimundo lembra que o Governo está "profundamente fragilizado" com todas as investigações dos seus ministros.
O líder do PSD, o maior partido da oposição do Governo, também defende que a única solução é o país avançar para eleições antecipação. Na opinião de Luís Montenegro, esta é a opção mais viável.
"Não podemos perder mais tempo. É imperioso recuperar a credibilidade, a dignidade institucional e a confiança que se perderam e desbarataram. A recuperação só é viável com eleições antecipadas", garantindo que o PSD está "preparado".
PAN rejeita eleições antecipadas
A líder do PAN, Inês Sousa Real, não defendeu as eleições antecipadas, ao contrário dos outros partidos com assento parlamentar.
No entanto, Inês Sousa Real recusou uma solução que passe por uma substituição interna, como André Ventura afirmou ser possibilidade. A responsável do PAN disse ainda que o país não pode funcionar "em duodécimos", apelando a uma ponderação por parte de Marcelo Rebelo de Sousa.
Por isso mesmo, a deputada pelo PAN vai aguardar pelas palavras do Presidente da República após o Conselho de Estado, na quinta-feira. Ainda assim, deixou um aviso: "Todas as forças políticas e todas as instituições têm o dever de pôr o superior interesse do país e das pessoas à frentes dos interesses e das querelas políticas".
Assim, "por muito que possamos meter em cima da mesa a ideia que um futuro Governo possa não querer governar um orçamento que não é seu, este orçamento tem de ser um orçamento dos portugueses, e não de qualquer força política".
PS não fala sobre o futuro
O Partido Socialista, pela voz de Carlos César, não comentou o futuro do país.
O presidente do PS optou apenas por agradecer o trabalho desenvolvido por António Costa ao longo dos anos em que formou Governo. Sobre a sua demissão, Carlos César elogiou o "grande sentido de responsabilidade" e "enorme legado como governante".
Na rede social X (antigo Twitter), o o PS evidenciou ainda o "contributo absolutamente fundamental para os avanços que o país somou ao longo dos últimos oito anos".
Sobre a questão das eleições antecipadas, quer o presidente quer o próprio partido não se pronunciaram.
Marcelo só fala quinta-feira
O Presidente da República recebeu o António Costa por duas vezes na terça-feira. A primeira para Costa lhe dar informações sobre a investigação e a segunda para apresentar a demissão. Também Lucília Gago, procuradora-geral da República, foi recebida a pedido de Marcelo.
Posteriormente à demissão do chefe do Governo, Marcelo convocou os partidos políticos para quarta e quinta-feira, bem como o Conselho de Estado, para quinta-feira. Só neste último, dois dias após a queda do Governo, o chefe de Estado irá falar aos portugueses.
É importante lembrar que, no início do ano passado, Marcelo Rebelo de Sousa colocou em cima da mesa a hipótese de eleições antecipadas, algo que agora recusa comentar mas terá de preparar.