Se a ómicron adensou esta semana os receios quanto a um aumento das restrições à circulação de pessoas e consequente desaceleração económica, uma posição gradualmente menos expansionista da Reserva Federal dos EUA (Fed) agravou ainda mais as preocupações dos investidores. Desaceleração económica aliada a uma rápida retirada de estímulos e subida de taxas juro é uma combinação indesejável de fatores negativos que assombra os mercados num final de ano, talvez, atípico.
A meio da semana, as palavras de Jerome Powell perante o Congresso norte-americano impulsionaram novamente em alta os futuros das taxas de juro da Fed (as Fed Funds Rate), que voltaram a antecipar três subidas de taxas de juro, de um quarto de ponto cada, em 2022. A primeira a 4 de maio, com uma probabilidade ligeira de 51,3%, a segunda na reunião da Fed de 21 de setembro e probabilidade de 58,5% e a terceira na última reunião de 2022 a 14 de dezembro e uma probabilidade de 53,9%. Ou seja, um aumento de 0,75% pontos percentuais do atual intervalo de [0% a 0,25%] para [0,75% a 1%] no final do ano de 2022. Estas projeções dos futuros corroboram as palavras de Powell de uma rápida redução dos estímulos monetários, provavelmente ainda no primeiro trimestre de 2022. Nas sessões que se seguiram ao surgimento da ómicron, e antes das palavras de Powell, os possíveis aumentos das restrições haviam refreado as expectativas de subidas de juros, mas a meio da semana Powell surpreendeu com uma postura energicamente hawkish. Powell sinaliza que o banco central dos EUA considera acelerar a retirada das compras de títulos à medida que aumentam os riscos de inflação, pressionando um mercado preocupado com a variante ómicron. A Fed irá rever o cronograma para reduzir o seu programa de compra de títulos na sua próxima reunião de 14 e 15 de dezembro. Powell alertou que a Fed precisa estar pronta para responder à possibilidade de a inflação não recuar no segundo semestre de 2022.
A volatilidade tem marcado o mercado e na quarta-feira as ações europeias registaram mesmo a sua melhor sessão em quase seis meses, enquanto os investidores procuravam as ações mais penalizadas pela nova variante ómicron no selloff das sessões anteriores. A Europa já estava a impor mais restrições antes da ómicron devido ao agudizar da pandemia no velho continente. O sector de viagens e lazer tem sido bastante penalizado nas últimas semanas.
A FDA espera ter informações sobre a eficácia das atuais vacinas face à nova variante nas próximas semanas. Mas as farmacêuticas parecem divididas. O CEO da Biontech referiu que a vacina da Biontech e Pfizer provavelmente irá oferecer uma forte proteção contra esta variante, enquanto o CEO da Moderna acha improvável que a atual vacina seja tão eficaz como era contra as anteriores variantes.