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O árbitro e o contador de histórias

Carlos Monjardino fez carreira na banca. É um prático, assertivo nas palavras e fino no humor. Cultivou amizades para a vida, como a de Mário Soares. Escreveu uma página da história de Macau no tempo em que foi político. 14 meses que não mudaram o mundo, mas mudaram a sua vida. No regresso a Portugal, tornou-se o rosto da Fundação Oriente, ponte entre civilizações. Concorda que já vivemos no século chinês e quer ver a Índia ‘on board’.

Carlos Augusto Pulido Valente Monjardino nasce em Lisboa e finta a medicina, onde o pai e os dois avós fizeram história. No seu horizonte estava Londres – impelido pelo pai, que o queria poupar à estreiteza da pátria – e o curso de Arquitetura Naval. Fruto de várias peripécias, acabou por estudar Comércio Internacional. O principal ensinamento que trouxe de terras britânicas? “O respeito pelo próximo e pelo seu espaço. Bastava as viagens do metropolitano para ir para o College, todos os dias de manhã, para perceber que havia uma coisa que num país latino não é costume ver-se: as pessoas iam a ler o jornal e não havia aquela conversa de chacha de perguntar pelo cão, pelo gato e pelo periquito... Ou seja, as pessoas iam a ler e ninguém as importunava”.
Fez o seu ‘grand tour’ entre boleias, comboio e barco pela Escandinávia, com um amigo “que era rico, eu não”, diz, com um sorriso. E acabou em Paris, “a roubar leite nas portas dos prédios, porque já não tinha dinheiro para comer outra coisa que não uma baguete”, recorda, antes de nos garantir que a viagem fez muito pela sua autoestima. “Era eu que decidia tudo. No fundo, aprendemos a desenrascar-nos, como se diz em bom português”. E o que lhe ensinou a banca? Teve várias fases, explica. “Uma primeira fase bastante boa no Banco Português do Atlântico (BPA), onde me formei como bancário. Depois, levei um pontapé para cima, que foi um pontapé amigável, do meu particular amigo Vasco Vieira de Almeida, que me levou com ele para o Grupo Bullosa. E, com 29 anos, fui mandado para Paris, para tomar conta de um banco falido”. Por lá ficou 13 anos.
Monjardino admite ter uma elevada apetência por desafios e que, a esse nível, a vida lhe tem corrido bem. À exceção do Banco Português de Gestão, “que nunca ganhou dinheiro”. Uma experiência “muito pouco brilhante”, refere, “mas está quase vendido. Da parte do Banco de Portugal, o processo está fechado. Só falta luz verde do BCE”.

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