Nova temporada não rima, forçosamente, com novo diretor artístico. Mas, no caso do Teatro São Luiz, em Lisboa, setembro não traz apenas uma nova temporada, mas também um novo timoneiro. Miguel Loureiro sucede a Aida Tavares na direção artística e herda uma programação em grande parte 'desenhada' por ela.
E agora é tempo de abrir as hostilidades! “A Boémia de um Cabaret Sonoro”, de Suzie and the Boys, assinala o início da temporada, a 2 de setembro, com um concerto “num ambiente de blues, ritmos latinos, mambo, swing e rock and roll”. A maestrina Miss Suzie sobre ao palco juntamente com oito músicos vindos, entre outros, de projetos como Irmãos Catita, Cool Hipnoise, Ena Pá 2000, Terrakota, X-Wife, Cais Sodre Funk Connection, Farra Fanfarra e Tora Tora Big Band.
Na abertura da temporada, de entrada livre e sujeita à lotação, haverá também “Zabra Soundscapes”, do artista João Pedro Fonseca e do DJ Manuel Bogalheiro, projeto conjunto, que se assume como “movimento artístico com espaço dedicado à experimentação e investigação”.
“A Tempestade”, de Shakespeare, encena-se pela primeira vez em Portugal com a obra do compositor Jean Sibelius. O encenador António Pires explica que a música incidental do compositor vai ser “fundida” com uma orquestra, um coro participativo composto por 40 pessoas, e solistas ucranianos – do Kyiv National Operetta’s Theatre”. Já o responsável pela cenografia, o artista Pedro Cabrita Reis, realça o facto de, nesta “aventura”, ter tido a “ocasião de fazer o que eu sempre sonhei poder fazer, ou seja, pintura sobre tela. Descartar tudo o que não reforçasse a escrita de Shakespeare e o teor e a estrutura dramatúrgica da peça, recusando o uso da cor”.
A montagem evoca a mensagem de Shakespeare e coloca-a no “momento que a humanidade atravessa, com uma sangrenta guerra a acontecer em plena Europa”, tomando as palavras de Próspero, com mais de 400 anos, como “tema central”: “Só o perdão e a redenção podem veicular um futuro e uma ideia de continuidade.”
A programação do São Luiz também se faz de ópera filmada, “ecofeminista e ecomulherista”, numa aproximação aos movimentos Black Feminism e Black Lives Matter, liderados por mulheres afro-americanas. A antestreia de “virino kaj naturo # _” está marcada para dia 7 de setembro e tem libreto de Ilda Teresa Castro e música de Vítor Rua.
A 28 de setembro, o mote será lembrar Pedro Gonçalves através de “Um Olhar Que Era Só Teu – A Música dos Dead Combo”. Um concerto que não é “nem uma celebração, nem uma despedida”, e que além da outra metade do duo, Tó Trips, vai reunir em palco mais de duas dezenas de músicos como Aldina Duarte, Alexandre Frazão, Filipe Melo, Gaspar Varela, Mário Delgado, Nuno Rafael e Peixe.
Nos dias 7, 14 e 21 de outubro, espaço para o ciclo “Topografias Imaginárias – Do Punk ao Near Silence”, que promove o encontro entre o cinema, a música e a cidade de Lisboa. Ocasião para desbravar a urbe através do olhar de Edgar Pêra, Nuno Calado e David Francisco, Ricardo Espírito Santo, Nuno Duarte e Nuno Galopim, feita igualmente das sonoridades de músicos e bandas como Censurados, Pop Dell’Arte, Manuel João Vieira e os Irmãos Catita, e de momentos épicos registados no palco do Rock Rendez Vous, por onde todos eles passaram.
“O Salto”, de Tiago Correia, com a companhia A Turma, estará em cena de 4 a 8 de outubro. A peça resulta da investigação sobre a emigração portuguesa dos anos de 1960, parte de testemunhos reais, e tem o objetivo de “levantar o véu a um período da história” que “se mantém tabu, pela miséria e obscurantismo em que se vivia, pela opressão da ditadura ou porque invoca o tema dissidente da deserção da guerra colonial.”
Os Artistas Unidos marcam presença no São Luiz com várias estreias: “Europa”, de David Greig, com encenação de Pedro Carraca, em outubro; “Abstract”, de Cão Solteiro e Vasco Araújo, em novembro; e “Bravo 2023!”, do Teatro Praga, que encerra dezembro. Cátia Pinheiro apresentará “Carta à Matilde”, em setembro.
O Alkantara Festival está de volta ao São Luiz, com os espetáculos de Calixto Neto, Sónia Baptista e Marcelo Evelin e o programa com curadoria do coletivo Aurora Negra – Cléo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema –, que, entre espaços de resistência e sonho, encontros à volta de comida, ou amores de verões tardios, convocam o público para novas formas de estar em comunidade.
De novembro a dezembro é um ‘saltinho’, e não podíamos deixar de invocar a folia, o absurdo, a tragédia e o riso que os acontecimentos de 2023 inspiraram aos autores-criadores do texto que passa em revista o terceiro ano da década de 20 deste milénio. O formato escolhido foi o da tradicional revista, para provar à saciedade que esta “tem alma e não morre”. No São Luiz, o ano em curso será varrido para as calendas com a revista Bravo 2023! do Teatro Praga, num espetáculo “estouvado, para sacudir os espíritos mais calados e agitar o público”.