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Nova Caledónia atrás da independência, com a China à espreita

Com o Pacífico a concentrar atenções geopolíticas, a distante colónia melanésia já não serve apenas para “tornar a França mais bonita”.

A independência da Nova Caledónia, a mais distante de todas as colónias de um país ocidental, não é um problema político para a França: está prevista há várias décadas e suspensa apenas da vontade dos caledónios em passarem a viver num país independente.

Neste domingo, 12 de dezembro, os habitantes da Nova Caledónia vão regressar às urnas para, mais uma vez, votarem sobre se querem ou não a independência – e, tal como nas ocasiões anteriores, o mais provável é que tudo fique na mesma.

Estando a Nova Caledónia inscrita desde 1986 na lista dos territórios não-autónomos das Nações Unidas, um primeiro referendo sobre a sua independência foi realizado no ano seguinte e a resposta foi um rotundo ‘não’ da maioria da população.

Na altura, os independentistas consideraram que a potência dominante não tinha feito tudo para que o referendo fosse justo. Nesse contexto, a França promoveu os Acordos de Matignon (de junho de 1988) e o Acordo de Nouméa (nome da capital, de maio de 1998), que permitiu à Nova Caledónia passar a um regime especial.

Este regime previa a transferência do poder político para os seus habitantes até que o território decida se prefere permanecer como parte da França ou tornar-se um país independente – com a França a controlar os assuntos militares, diplomáticos e monetários. Este acordo foi referendado pela população do território em novembro de 1998, com 72% de aprovação.

Só que, entretanto, os dois referendos realizados deram sempre a vitória ao ‘não’: 56,7% contra 43,3% em novembro de 2018 e 53,3% contra 46,7% em outubro de 2020.

Ao que tudo indica, o sistema – que parece assentar numa repetição de referendos até o ‘sim’ ganhar, estratégia em que as democracias têm grande competência – ainda não ditará, desta terceira vez sob a alçada do Acordo de Nouméa, a independência do território.

Segundo os jornais franceses, os diversos grupos independentistas não se entendem entre si, tendo mesmo acabado por decidir-se por uma espécie de boicote ao novo referendo, alegadamente por não estarem reunidas condições sanitárias (por causa da Covid-19) necessárias e suficientes.

O partido mais representativo dos independentistas, a Frente Socialista de Libertação Nacional (FLNKS), decidiu apelar à não-participação. Segundo o “Le Monde”, isto sucede porque, a partir do segundo referendo, e depois de saúdado o ímpeto a seu favor que com certeza levaria à vitória à terceira oportunidade, os independentistas afundaram-se em inesperadas divisões.

Em França, a divisão face à Nova Caledónia faz-se entre direita e esquerda: os socialistas e os comunistas apoiam frontalmente a independência, enquanto a direita – que de qualquer forma diz aceitar as decisões dos referendos – prefere que o território se mantenha sob a alçada gaulesa.

O presidente Emmanuel Macron junta-se a estes últimos: recebeu os resultados do referendo de outubro de 2020 “com profundo reconhecimento” e quando, no final de julho passado, visitou a Polinésia, disse que “a França seria menos bonita sem a Nova Caledónia”.

De qualquer forma, e ainda segundo a imprensa francesa, o presidente disse que “o Estado retomará a iniciativa de diálogo” no dia seguinte ao referendo.

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