A CCR Legal foi integrada na PwC. O que é que muda? Que alterações é que se podem esperar?
Primeiro, um orgulho imenso da equipa, eu incluída naturalmente, em fazer parte desta rede. A PwC é uma das marcas mais prestigiadas de prestação de serviços e poder beneficiar deste goodwill que é transferido para os nossos profissionais é algo excelente nas nossas carreiras.
Aquilo que nós sentimos que está a mudar é a adesão cada vez maior dos clientes nacionais à multidisciplinariedade. Muito pela polémica que foi criada, quase que parece que a multidisciplinaridade é uma novidade portuguesa, mas não é, de todo, na maior parte dos países e dos territórios as práticas são efetivamente multidisciplinares.
Aquilo que sentimos é que os clientes nacionais, hoje em dia, já nos procuram precisamente por soluções multidisciplinares, porque têm problemas multidisciplinares. Portanto, a maior mudança que eu sinto é um número cada vez maior de clientes – e os clientes nacionais estão a alinhar-se com os estrangeiros – a pedir uma solução multidisciplinar que inclua a parte legal. O que é ótimo, porque foi isso que levou o legislador a operar esta esta mudança.
Outra coisa que sinto que está a mudar é na parte do recrutamento, as autocandidaturas; nós tínhamos bastante facilidade em contratar e agora aquilo que sentimos, cada vez mais, são autocandidaturas, pelas pessoas sentirem que é um projeto vencedor.
Da parte dos clientes, o ser uma one stop shop é entendido como uma mais-valia?
Entendido como uma mais-valia principalmente porque os nossos clientes também estão eles próprios, cada vez mais segmentados; nós temos um head of Compliance, um head of Legal, o CFO, o CEO, o chairman, portanto, um conjunto de pessoas que, por seu turno, se vão lidar também com consultores eles próprios fragmentados torna-se uma torre de Babel. Por isso, os nossos clientes apreciam ter um contacto único que, basicamente, coordene todas as diferentes realidades, todas as diferentes especialidades e lhes dê, como eu costumo dizer, um conselho único. Eu lembro-me do tempo em que era advogada num escritório de advogados [tradicional] e havia sempre aquela frase ótima de disclaimer, do validem isso com os vossos auditores, validem isso com os vossos consultores, o que era uma forma também de nós limitarmos a nossa responsabilidade para o bem e para o mal. Hoje em dia, já não posso ter esse tipo de disclaimer, portanto, tenho mesmo de me entender com os meus e perceber o que é que funciona para os clientes dos diferentes pontos de vista.
Dá-nos muito mais trabalho, mas torna-nos profissionais muito mais robustos e com aconselhamento também muito mais robusto, sem dúvida.
Da parte dos advogados, é necessária uma adaptação ou no dia seguinte continuaram a funcionar da mesma forma?
É necessário um bom casting. Nós vendemos os nossos serviços, vendemos horas dos nossos advogados, e dos maiores desafios que eu tenho desde 2017 é o recrutamento, porque nem todos os advogados têm perfil para estarem numa consultora. É preciso perceber o mindset, é preciso sair muito daquilo que é a esfera do advogado tradicional; o cliente espera que nós, efetivamente, sejamos advogados diferentes daquilo que existe no escritório de advogados tradicional. E qual é essa diferença? A parte técnica, a parte relacional, a parte da confiança, a parte do sigilo têm de lá estar, nisso os clientes não transigem, mas esperam que nós estejamos muito mais alinhados com aquilo que é a estratégia do negócio, e isso faz com que nem todos os advogados consigam sair da sua pele de advogado tradicional para a pele de consultor. Essa é a maior diferença. Portanto, quando me perguntam qual é a diferença, é o casting; o casting tem de ser muito bem feito.
O sigilo foi das questões mais abordadas na discussão da nova lei das associações profissionais. É uma questão que ainda se coloca? Como é que se garante, para que não seja uma questão?
Nós vivemos com isso desde 2017. Garante-se da seguinte forma: a informação como, aliás, nos escritórios de advogados, tem de ser conhecida dentro da nossa rede naquilo a que nós chamamos uma need to know basis. Nós só partilhamos informação sobre clientes com colegas que estão envolvidos nos temas onde nós estamos envolvidos e, de todo o resto, a nossa informação está e estará sempre segregada, porque a lei foi alterada, mas não alterou nada sobre o sigilo profissional.
Portanto, os clientes que lidam com a PwC legal têm absoluta consciência de que a sua informação está preservada e é só partilhada com os colegas que estão envolvidos nos temas. E isso é uma garantia que nós conseguimos absolutamente transmitir aos nossos clientes e eles sabem que uma casa como a PwC não pode transigir nas questões do sigilo.
A multidisciplinaridade é uma promessa de alteração do mercado, como é que o vê estruturar-se? Mais consultoras a integrarem escritórios de advogados, sociedades a começarem a ter outra outras valências?
Tenho bastante contacto com muitos dos maning partners das outras firmas e sinto com orgulho que nós somos interpretados como concorrência. Claro que é uma concorrência que está em preparação, mas é uma revolução que eles sentem que está em curso, até porque quando nós olhamos para as consultoras noutros países, sabemos que é uma concorrência real, efetiva. As big four estão efetivamente no topo do ranking das sociedades de advogados e esse é o caminho que nós queremos fazer, por um lado. Por outro lado, sim, também se estão a robustecer com outros profissionais, o que é ótimo. Naturalmente, não só as consultoras têm essa capacidade, mas todos os escritórios de advogados a têm.
A vantagem de uma consultora é que essas práticas já existiam todas e nós estamos a fazer uma adição da prática legal, com uma vantagem que nós começámos efetivamente a ter uma oferta, ainda com as restrições legais que tínhamos, mas já tínhamos uma oferta multidisciplinar para os clientes, porque nada nos impedia de prestarmos serviços de forma associada. Portanto, eu diria que nós temos aqui uma vantagem competitiva, porque começámos mais cedo e, como disse, fizemos aquela viagem do alinhamento cultural, que é muito importante.
Eu sei que há alguns namoros antigos de alguns grandes escritórios com algumas consultoras, mas claro que há aqui um desafio cultural e esse desafio cultural é efetivamente para os incumbentes, para os grandes escritórios de advogados que pretendam fundir-se ou com uma grande consultora ou pelo menos recrutar consultores, que têm de fazer, no fundo, o alinhamento cultural inverso ao que nós fizemos.