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“A legislação regulamentar está a ser tão forte que impõe que haja concentração em vários mercados”

Cristina cabral Ribeiro, partner de Legal da PwC, és especializada na área de M&A. Ao JE,prevê uma retoma do mercado no próximo ano, com maior apetência pela indústria, imobiliário e saúde.

Como vê a evolução do mercado de M&A em Portugal?
Muitos anos de M&A volvidos, sabemos que temos de estar muito atentos ao que se passa na Europa, porque [os movimentos] normalmente chegam a Portugal entre seis meses a um ano depois. Portanto, nós sabemos que o segundo semestre do ano passado foi bastante fraco, e estamos a falar das principais economias, dos Estados Unidos, do Reino Unido, mesmo da nossa vizinha Espanha, que é um mercado maior que o nosso e nós sabemos que eles tiveram o último semestre [de 2023] fraco, que naturalmente se traduziu num primeiro semestre [de 2024] fraco do nosso lado. Não tão fraco em Portugal como nos demais, até porque a nossa especialidade é claramente o M&A de medium caps e não as large caps e sentimos que não houve tanta descida. Mas claro que o mercado português ressentiu-se e continua a ressentir-se.


Aquilo que nós perspetivamos, também em linha com aquilo que aconteceu nos outros mercados, é que no final deste ano haja uma retoma das operações.


Há algumas grandes operações que estão anunciadas, que eu creio que vão mexer um bocadinho o mercado em 2025, favorecidas também por outras questões, designadamente a descida das taxas de juro.


As capitais de risco continuam com bastante capacidade de investir e, depois, os family offices, que são um novo player recente no mercado; nos últimos dois ou três anos notou-se claramente esta vaga de fundo.

Nota maior apetite dos players internacionais ou os agentes que estão a mexer no mercado são private equity e family offices locais?
Noto bastante apetite, mas não quer dizer que necessariamente todas as transações depois se concretizem. Nós temos esses dados, 47% do investimento ocorrido na Europa é um investimento estrangeiro, de fora da União Europeia. Não estou convencida, pelo contrário, que existam esses mesmos números em Portugal.


Esta é uma mensagem que eu gostaria de passar às empresas portuguesas:no ano passado aconteceu muito isso, havia muito apetite, as capitais de risco estavam muito capitalizadas e até alguns family offices entravam e olhavam para alguns negócios portugueses interessantes, com boas margens, muito na área da manufatura e também na da tecnologia, mas muitos desses negócios foram abortados, porque, claramente, as empresas portuguesas não estão necessariamente preparadas a vários níveis, designadamente contingências fiscais, contingências a nível de recursos humanos, o que que faz com que haja uma dificuldade muito grande do investidor estrangeiro, que não está habituado a certo tipo de contingências, em investir em Portugal.


Há efetivamente apetite. Não quer dizer que todos esses negócios se concretizem, mas se falar com todas as capitais de risco em Portugal, todos eles se queixam da concorrência dos players internacionais, porque cada vez mais, quando nós falamos de consolidação de portefólio por parte das capitais de risco, muitas vezes acontece que o elemento que falta na cadeia está e pode estar em Portugal, e isso é uma coisa que nós sentimos que as capitais de risco olham cada vez mais para a possibilidade de consolidação vertical e horizontal dentro da União Europeia. E depois os temas do ESG, aquilo de que nós falamos e falamos muito repetidamente, que é o facto de a Europa se reindustrializar e de Portugal ter uma palavra a dizer sobre isso faz com que haja mais interesse no nosso mercado.


Há interesse, mas temos de nos preparar para a sofisticação daquilo que são os investidores estrangeiros.

Quais são as principais tendências que vê na evolução em M&A e em que setores?
Claramente, a manufatura. Haverá também uma retoma na parte do real estate, portanto, tudo aquilo que seja imobiliário. Saúde é um setor que continua em voga e quando eu digo saúde, digo o bem-estar em geral, incluindo o animal. E também a parte da tecnologia, embora muitos dos targets já tenham passado de mãos e hoje em dia torna-se mais difícil.


Aquilo que nós sentimos é que há muitos setores, muito por imperativos regulamentares, que estão a ser obrigados a consolidar: a banca, os seguros, fornecedores de tecnologia. A legislação regulamentar está a ser tão, tão forte que impõe que efetivamente haja em vários mercados, inclusivamente na advocacia, concentração. Sentimos que o M&A é uma tendência que virá para se consolidar nos próximos tempos e muito nessa lógica de consolidação de setores, já maduros, mas que precisam de desafiar-se dessa forma.