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Nazaré: projeto de aquacultura atrai investimento de 71 milhões até 2026

Noruegueses e a aceleradora portuguesa BGI são os principais financiadores do futuro berço de microalgas e peixes seriola no distrito de Leiria. Os trabalhos começam já em maio, dois meses após o início da construção. EIT Food, da União Europeia, vai ter uma participação inferior a 10% no projeto.

A Nazaré vai receber nos próximos dois anos uma “onda gigante” de investimento português e estrangeiro, de mais de 70 milhões de euros, para aquacultura, nomeadamente produção de peixes e microalgas. O projeto do sector marinho, que envolve a Noruega e a União Europeia, prevê a criação de mais de quase 30 postos de trabalho.

Chama-se “AmpliAqua” e as obras arrancaram na semana passada, quando os detalhes da iniciativa vieram a público. O Jornal Económico (JE) sabe que esta primeira construção deverá ficar concluída até ao final do próximo mês de abril e a inauguração ocorra no dia 23, mais precisamente às 17h30, para que os trabalhos arranquem logo em maio.

O projeto envolve 3,2 milhões de euros de investimento nas duas primeiras fases e 68 milhões de euros na terceira, num total de 71,2 milhões de euros até 2026. Por detrás, estão diversas organizações internacionais, bem como a aceleradora BGI - Building Global Innovators, de Lisboa.

A saber: (1ª) BGI, F4S – Food4Sustainability (Idanha-a-Nova), EEA Grants; BGI, F4S, EIT Food e tecnológica norueguesa BlueCirc (2ª) e BGI e investidores internacionais (3ª). A Aqualgae, com sede em Espanha, e a International Development Norway também estão envolvidas. Na assessoria estão os suecos e noruegueses da AFRY e Morefish, consultoras parceiras na gestão deste sector.

O EIT Food – do Instituto Europeu da Inovação e da Tecnologia – vai tornar-se acionista na segunda etapa do projeto. Ao que o JE apurou, a participação deste organismo da União Europeia será inferior a 10%.

Para o CEO da BGI, a economia azul “tem o potencial de ser uma nova economia, multidisciplinar por natureza e de elevado valor acrescentado”. “Vai colocar a capacidade técnica e de eficiência burocrática à prova. Estamos a concorrer com outros países e Portugal necessita de investir um mínimo de mil milhões de euros para material e ser um player relevante nesta área”, afirmou Gonçalo Amorim ao JE.

“As instituições envolvidas nos licenciamentos têm de se articular e agilizar, formar os seus técnicos que estão envolvidos nos processos de licenciamento e de criar uma cultura orientada para resultados positivos em tempo útil. Há muito trabalho a fazer. O país tem de se tornar interessante no que toca a agilidade e foco no cliente e no mercado - e não se esconder na burocracia e destruição de valor económico”, alertou o investidor.

A terceira fase do AmpliAqua, no porto da Nazaré, será a mais impactante, porque consiste na construção de uma unidade industrial com capacidade instalada de seis mil toneladas seriola (peixe da família Carangidae), vegetais e microalgas com valor anual estimado de 45 milhões de euros, de acordo com as informações transmitidas pelo CEO da BGI ao JE. A instalação estará perto da Docapesca.

A primeira etapa - que requereu 1,3 milhões de euros (dos quais 914 mil euros dos EEA Grants - Programa Crescimento Azul - é uma infraestrutura pré-industrial com cerca de mil m2 para criação de um subsistema de microalgas e de peixes, cujos resíduos serão reaproveitados para nutrir as plantas cultivadas hidroponicamente (sem solo), que irão purificar a água que volta aos peixes. A estimativa é que fique pronto ainda durante o primeiro semestre.

Por sua vez, a segunda é um lote de 2.500 m2 para a primeira unidade de aquaponia (aquacultura e hidroponia) em Portugal para reaproveitamento de micronutrientes entre os peixes e as plantas sem utilização de químicos de síntese.

Quem estará a trabalhar no porto da Nazaré? Pelo menos, 27 pessoas altamente qualificadas em piscicultura, microbiologia, ecologia marinha, agronomia, sequenciação de nova geração, Tecnologias da Informação e Comunicação, Inteligência Artificial, bioinformática, entre outras especialidades.

“Vemos Portugal a marcar pontos no sector de aquacultura e mar que parece estar a renascer das cinzas e que espera que volte a ter a importância estratégica para o país tal como os descobrimentos tiveram há 500 anos para a geração de conhecimento, valor social e económico. Para a BGI, é o início de uma nova fase decrescimento para esta spin-off, que nasceu no seio do programa do MIT Portugal e que está agora a reposicionar-se estrategicamente com um foco na inovação e no crescimento económico sustentável”, comentou Gonçalo Amorim aquando do início das obras.