Seria uma questão de tempo – pouco tempo – até começarem a reprimir as mulheres afegãs tão violentamente como antes. Muito depressa se tornou evidente para Maryam que teria de abandonar o Afeganistão. A equipa da Euronews, com a qual colaborava, e membros dos Repórteres Sem Fronteiras, mobilizaram-se para a tirar do país. Houve várias tentativas, muitas idas frustradas ao aeroporto. Até que...
Era 26 de Agosto e o acordo com os talibãs previa que as evacuações aéreas terminassem no final do mês. O dia ia longo. Mais uma vez, Maryam tentava ultrapassar as barreiras militares e entrar no aeroporto, tal como tantos outros que diariamente se aglomeravam nos portões. Por volta das seis da tarde, uma enorme explosão fê-la estremecer. A seguir, foi o caos. Viu corpos de soldados americanos presos no arame farpado (morreram 13 militares); viu centenas de pessoas tombadas sob um rio de sangue, em ambos os lados do canal (morreram 180 civis). E, nessa noite, o último avião voltou a descolar sem ela.