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Mercados acalmam com recessão nos EUA fora do cenário base

Os analistas consultados pelo JE apontam para um acréscimo da volatilidade, sobretudo dada a divulgação na próxima semana da inflação nos EUA, mas consideram que uma recessão não será o cenário mais provável para este ano, enquanto os mercados vão recuperando das perdas do início do mês.

As bolsas registaram quedas acentuadas na primeira sessão da semana, mas o sentimento dos mercados já se mostra bem diferente, com subidas generalizadas nos principais índices. Em causa está uma maior "acalmia", ao mesmo tempo que o iene desvaloriza. Ainda assim, e apesar de não ser o cenário base, uma recessão nos Estados Unidos não é uma hipótese colocada de lado, de acordo com os analistas ouvidos pelo Jornal Económico.

As más contas apresentadas durante a presente época de resultados justificam, em parte, "as correções" que se verificaram na passada segunda-feira. A perspetiva é do economista e presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, de acordo com quem a volatilidade recente "faz algum sentido", como explica ao JE.

"De vez em quando temos umas correções deste tipo" e, neste caso, o movimento que "não se pode caracterizar normal" foi a "queda abrupta" que se observou no Japão. De resto, "as correções que tivemos nas bolsas podem enquadrar-se dentro da normalidade de funcionamento dos mercados", sublinha.

Nesse sentido, face às variações que se registaram na segunda-feira, "não é habitual que as coisas fiquem só por aqui", assinala, fazendo uma ressalva para fatores que podem mexer com os mercados no atual contexto.

"Penso que vamos ter mais volatilidade, até porque temos uma situação de incerteza relativamente a questões geoestratégicas e outras, muito relacionadas com as eleições nos Estados Unidos", sublinha Filipe Garcia.

O economista faz ainda uma ressalva para a importância de perceber qual será o sentimento dos mercados até sexta-feira. "A forma como esta semana vai fechar vai dizer muito daquilo que é o sistema de mercado para os próximos dos próximos tempos".

O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, por seu turno, aprova a ideia de que a maior tranquilidade nos mercados deverá manter-se, mas alerta para os dados da inflação nos EUA, que serão conhecidos na quarta-feira e podem mexer com os mercados.

O anúncio do Bank of Japan contribuiu para um clima de maior tranquilidade e permitiu travar o "pânico" que se viveu nos mercados, já que aquela instituição transmitiu que não está a antecipar uma nova subida nos juros, depois de os ter aumentado em 25 pontos base, até aos 0,25%, na semana passada.

Dito isto, o carry trade que se verificava nos mercados, com os investidores a contraírem crédito no Japão, para depois investirem em Wall Street, torna-se "inválido". De resto, a tendência de maiores dificuldades naquelas transações já se sentia desde a descida em cadeia do Índice de Preços no Consumidor (IPC) nos Estados Unidos em junho, na ordem de 0,1%, naquele que foi o primeiro recuo desde meados de 2020.

Tudo somado, depois da valorização que se observou na primeira sessão da semana, deu-se uma desvalorização do iene, esta terça e quarta-feira, a beneficiar do anúncio do Bank of Japan, que priorizou a estabilidade dos marcados, salienta Paulo Monteiro Rosa.

O próprio aponta ainda para o crescimento de 2,8% da economia norte-americana no segundo trimestre. Um número que, sublinha, é bastante significativo e, por esse motivo, gera maior tranquilidade nos investidores.

Recessão nos EUA menos provável

Um sinal positivo para os investidores vem do Goldman Sachs, que fez saber esta terça-feira que a sua nova ferramenta para análise da volatilidade de mercado mostra valores em linha com a média histórica. O novo índice de stress financeiro (FSI, em inglês) está em valores elevados, reconhece o banco norte-americano, mas longe de serem anormais.

“Apesar de o stress de mercado ser maior do que habitual, o FSI sugere que não houve disrupções sérias até à data que obriguem os legisladores a intervir”, escrevem os analistas da Goldman citados pela Reuters, afastando assim a possibilidade levantada nos últimos dias por algumas vozes mais bearish de uma mexida nos juros fora do calendário pré-programado.

Ainda assim, o índice de condições financeiras, também compilado pelo banco de investimento, aponta para um impacto negativo do sell-off recente no crescimento no próximo ano, à volta de 12 pontos percentuais.

Na mesma linha, a Capital Economics mantém a ‘aterragem suave’, ou seja, o regresso a uma inflação moderada sem originar uma recessão, como o cenário base para a economia norte-americana. Sendo as preocupações macroeconómicas dos investidores um dos motores do fenómeno bolsista, estas projeções trazem alguma calma após uns dias frenéticos de receios que parecem, por enquanto, exacerbados.

As probabilidades estimadas de uma soft landing são agora de 38%, enquanto uma ‘aterragem bruta’, ou seja, com uma recessão associada, mostra apenas 27% de probabilidade – o que, ainda assim, corresponde a uma subida, à boleia dos dados abaixo do esperado do emprego, conhecidos na semana anterior.

O think-tank sublinha que “grande parte da subida na taxa de desemprego, até agora, deve-se ao crescimento da força laboral acima do crescimento do emprego, em vez de uma queda do emprego”, argumentando que o panorama atual na maior economia mundial não sugere uma recessão em breve.

“O risco principal, na nossa opinião, é precisamente que a reação desordenada do mercado possa, ela mesma, alimentar uma probabilidade maior de recessão”, remata a análise da Capital.