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Magistrados do MP enviam abaixo-assinado a Marcelo contra ideia de perseguição a políticos

Mais de 820 magistrados repudiam críticas públicas, de que tem sido alvo, de que são "justiceiros que perseguem políticos". Documento entregue ao Presidente da República surge após críticas de diversos quadrantes da sociedade sobre mediatização de buscas, utilização prolongada de escutas e sua divulgação. Em causa estão processos como a Operação Influencer, que levou à demissão de António Costa, e o caso que investiga suspeitas de corrupção na Madeira, que resultou também na demissão do Governo regional.

O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) anunciou, esta segunda-feira, que lançou um abaixo-assinado contra as críticas públicas de que tem sido alvo o Ministério Público (MP), rejeitando "juízos infelizes, falsos e despropositados" e repudiando críticas públicas de que tem sido alvo de que são "justiceiros que perseguem políticos". O documento intitulado "Em defesa dos cidadãos e da Justiça" foi enviado nesta segunda-feira, 8 de junho, ao Presidente da República, contando já com a assinatura de mais de 820 procuradores.

“Os magistrados do Ministério Público abaixo assinados rejeitam, veementemente, a forma como têm sido tratados na praça pública e vêm demonstrar o seu profundo repúdio pelo desconhecimento e desinformação gerada por um conjunto limitado de cidadãos que proferem juízos infelizes, falsos e despropositados, baseados em preconceitos e que nada têm que ver com a realidade dos homens e mulheres que trabalham nesta magistratura”, lê-se no abaixo-assinado, que conta, entre os signatários magistrados do MP envolvidos em processos mediáticos, com João Paulo Centeno e Ricardo Lamas, dois dos três procuradores que lideraram a investigação do caso Operação Influencer.

Esta última operação, lançada em novembro do ano passado, resultou na queda do anterior Governo liderado por António Costa e que tem sido um dos processos em que a atuação do MP mais tem gerado críticas. O antigo primeiro-ministro apresentou a demissão ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a 7 de novembro do ano passado, após o Ministério Público anunciar, num comunicado, que Costa era alvo de uma investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio, na sequência de escutas extraídas do processo.

Numa clara referência a estas suspeitas e investigação autónoma, os magistrados vincam, no documento, que "ao contrário de outros sistemas legais, os princípios basilares do nosso processo penal, como o princípio da legalidade, impõem que o Ministério Público abra inquérito sempre que tenha conhecimento de factos que possam consubstanciar um crime público".

"Basta de falsidades", dizem magistrados

No abaixo-assinado, os magistrados dizem que “basta de falsidades que visam descredibilizar, desprestigiar e menorizar a magistratura do Ministério Público e que contribuem, de forma avassaladora, para a crise das instituições portuguesas, colocando, assim, em sério perigo o Estado de Direito democrático”. Lembram ainda a defesa do interesse público em diversas áreas e reiteram a importância da autonomia do MP como uma conquista do 25 de Abril, ao vincarem que se trata de "uma das garantias mais importantes" e que a sociedade portuguesa "é um verdadeiro Estado de Direito" democrático.

"Os magistrados bem sabem que não estão acima da crítica e do escrutínio público (nem querem estar), mas não podem deixar de manifestar a sua repulsa perante afirmações inadmissíveis sobre quem defende o interesse público nas mais diversas áreas (v.g. legalidade democrática, adultos com capacidade diminuída, crianças e jovens, trabalhadores, sinistrados e seus familiares, ambiente e consumidores)", lê-se no documento, onde salientam que estes profissionais "não são correntes de transmissão da vontade do poder executivo ou da oposição e nem por estes se deixam condicionar”.

O SMMP dá ainda conta de que “a independência de um sistema de justiça não é apenas um conceito vazio/vago, é antes a pedra de toque de qualquer sociedade que se queira livre, democrática e respeitadora dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”. Uma alusão e repúdio às críticas de diversos quadrantes da sociedade sobre a mediatização de buscas ou a utilização prolongada de escutas e a sua divulgação em meios de comunicação social, tal como a atribuição das fugas de informação de processos em segredo de justiça aos procuradores.

O abaixo-assinado do SMMP surge numa fase em que o MP tem estado debaixo de fortes críticas. Em causa, nas críticas ao MP relativamente à atuação em dois processos com repercussões políticas, a Operação Influencer e o caso que investiga suspeitas de corrupção na Madeira, que resultou também na demissão do Governo regional.