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Luís Abrantes: "Generis ajudou o SNS a poupar 1,4 mil milhões de euros em 20 anos"

A cumprir vinte anos de existência, a Generis, liderada por Luís Abrantes, quer crescer a faturação nas exportações (já vende para mais de 30 países) sem nunca colocar em causa a disponibilidade de medicamentos aos pacientes portugueses.

A Generis celebra vinte anos em Portugal e confunde-se com o história dos medicamentos genéricos no mercado português, onde é líder. Com investimento em Portugal de vários milhões de euros e um crescimento de dois dígitos, a Generis exporta para mais de 30 países sendo que as vendas internacionais representam 16% da faturação total (18 milhões de euros).

Em entrevista ao JE, Luís Abrantes, CEO e Administrador Delegado da Generis Grupo Aurobindo, destaca que a Generis faturou 108 milhões de euros em 2022 e que nos últimos vinte anos, a Generis ajudou o Serviço Nacional de Saúde a poupar 1,4 mil milhões de euros.

A previsão de contratação passa pelo recrutamento de mais trinta novos colaboradores até ao final do ano, os quais se vão juntar aos mais de 300 que já trabalham na empresa. Superados alguns mitos em torno dos genéricos, a Generis prepara agora a entrada no segmento dos medicamentos biossimilares.

Que balanço pode ser feito destes vinte anos da Generis?

A Generis foi criada em 2003 e, rapidamente, tornou-se numa empresa líder em Portugal no mercado de medicamentos genéricos. Mais do que isso, a Generis veio trilhar um novo caminho para a saúde em Portugal, melhorando, de forma decisiva, o acesso a terapêuticas seguras, eficazes e mais sustentáveis. Hoje, é a empresa que mais doentes trata em Portugal.

Em 2006, foi adquirida e totalmente equipada a primeira instalação fabril da Generis, com o objetivo de implementar uma estratégia de crescimento sólida e sustentada, algo que tem vindo a ser construído e fomentado desde o primeiro momento. A empresa fabrica mais de 600 referências diferentes de produto acabado cujo destino principal é o mercado nacional, mas com crescimento assinalável no número de produtos para diversos países. Mensalmente, são libertados mais de 150 lotes e saem das instalações Generis aproximadamente 750 paletes de produto acabado, a que correspondem sensivelmente 2,5 milhões de embalagens/mês (30 milhões anualmente).

Atualmente, a Generis faz parte do grupo Aurobindo, presente em mais de 20 países, verticalmente integrado, desde a I&D à comercialização. O grupo detém 25 fábricas com os mais recentes equipamentos e exporta para mais de 150 países. Fruto da importância da marca e da unidade produtiva de excelência, o grupo decidiu manter a Generis como a entidade representante do grupo em Portugal.

Como tem sido o percurso dos medicamentos genéricos em Portugal e que obstáculos tiveram que ser ultrapassados neste período?

Quando os genéricos chegaram a Portugal, houve uma natural fase de adaptação, mas, hoje, este tipo de medicamentos é bem aceite pelos portugueses, no geral. Ano após ano, o valor dos medicamentos genéricos continua a ser provado e já não existem dúvidas quanto à sua qualidade, eficácia e segurança. Só isso explica que a quota de Medicamentos Genéricos tenha ultrapassado o patamar dos 50%, barreira mítica, mas que esperamos poder ser superada de forma significativa nos próximos anos – será um bom sinal para os portugueses. 

Mas tiveram que ser ultrapassados alguns mitos.

É certo que ainda existem alguns mitos, sobretudo quanto à ideia de alguma facilidade/rapidez na disponibilização destes medicamentos. Mas a verdade é que, antes de qualquer medicamento genérico chegar ao mercado, é necessário um complexo, dispendioso e moroso processo de Investigação & Desenvolvimento. Desta forma, há um exigente trabalho para garantir a bio-equivalência e bio-disponibilidade – os medicamentos genéricos não são uma simples cópia dos medicamentos originadores e são todos escrutinados e aprovados pelo Infarmed (entidade reguladora do medicamento) que trabalha em rede integrada com os seus congéneres europeus.

É, por isso, importante sensibilizar sobre esta questão junto de diferentes públicos, nomeadamente os profissionais de saúde, tendo em conta que estes medicamentos têm uma qualidade, eficácia e segurança que deve ser transparentemente comunicada a quem os receita (classe médica). Também os farmacêuticos são essenciais neste processo, sobretudo do ponto de vista da sustentabilidade dos preços praticados, já que são estes profissionais quem acompanha os utentes de uma forma mais próxima na fase de pós-prescrição.

As exportações da Generis já chegam aos 16% da faturação. Vai ser possível melhorar esse desempenho?

A Generis exporta para mais de 30 países, oriundos de continentes como Europa, Ásia, África e América do Sul, representando cerca de 16% da faturação total. A ambição permanente da Generis passa por estar na primeira linha dos novos produtos fora de patente. 

A visão da companhia passa por reforçar a liderança no mercado nacional, em números de pacientes tratados, mantendo-se como referência no panorama industrial e consolidando a sua posição enquanto parceiro de confiança no setor farmacêutico. Vamos continuar a trabalhar para fortalecer a nossa presença tanto em Portugal como no estrangeiro, sem nunca colocar em causa a disponibilidade do medicamento para os pacientes portugueses.

Que investimento está previsto em Portugal e que áreas vai abranger?

Em 2022, a Generis faturou 108 milhões de euros. A unidade fabril representa 40% da sua faturação e tem capacidade para produzir, todos os anos, 30 milhões de embalagens, o equivalente a 1,2 mil milhões de unidades (contemplando comprimidos, saquetas ou cápsulas). Trata-se de uma unidade industrial com 8.125 metros quadrados de área útil, divididos entre produção, área de análise, escritórios e zona de armazenamento.

Neste ano e nos seguintes, faz parte da estratégia da empresa investir vários milhões de euros em Portugal, nas áreas de capacitação industrial e descarbonização. Em Portugal, a Generis conta com mais de 300 colaboradores, sendo que também estão previstas novas contratações até ao fim do ano, superando os 10% relativamente aos efetivos atuais. 

Que poupança preveem continuar a proporcionar ao SNS?

A missão da Generis passa por produzir e disponibilizar as melhores soluções terapêuticas, contribuindo para um maior acesso e garantindo sempre os mais elevados padrões de qualidade. Nos últimos anos, as estimativas apontam, com base na nossa quota de mercado, que a Generis tenha ajudado o Serviço Nacional de Saúde a poupar 1,4 mil milhões de euros.

Ainda muito pode ser feito, sendo que a sustentabilidade dos medicamentos genéricos é o principal desafio. O acesso a terapêuticas seguras, eficazes e mais sustentáveis já deu muitas provas do seu contributo, pelo que acreditamos que os genéricos vão continuar a contribuir para uma melhor saúde dos portugueses e reforçar o seu papel. 

E quais os principais desafios que se colocam à Generis?

Podemos dizer que o desafio diário de cada um de nós na Generis é o de garantir que a nossa liderança no mercado se traduz num efetivo serviço aos pacientes portugueses. Dito isto, não consideramos que seja um mero chavão, mas um sentimento genuíno de responsabilidade, face ao importante peso no mercado nacional do medicamente, não unicamente de genéricos. Proporcionamos o maior portfolio de medicamentos aos nossos pacientes e trabalhamos arduamente para que assim continue a ser.

A vossa entrada num novo segmento pode ser uma mudança importante?

A médio prazo, encaramos a entrada no segmento dos medicamentos biossimilares (medicamento biológico desenvolvido com o objetivo de ser similar a um outro medicamento biológico já aprovado) como o nosso maior desafio. Contamos com um vasto portfolio em desenvolvimento por parte do grupo, que nos permitirá disponibilizar as primeiras soluções terapêuticas até final de 2024. Serão soluções que irão beneficiar numa primeira fase o segmento hospitalar, mas que esperamos se possam estender também num curto espaço de tempo a soluções em ambulatório. Estamos muito confiantes com a adopção cada vez mais efetiva de medicamentos biosssimilares por parte da generalidade dos nossos Profissionais de Saúde.