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Lei "grande e linda" de Trump afinal poupa EDPR nos EUA

Estado de graça de 10 meses vai permitir às companhias arrancarem com novos projetos de energias renováveis nos EUA e continuarem a ter direito aos créditos fiscais. A América do Norte pesou 55% no EBITDA da EDPR em 2024. Apesar do alívio, setor energético vai desacelerar nos próximos anos nos EUA.

Uma boa nova para os investidores da EDP Renováveis (EDPR). A "lei grande e linda" de Donald Trump, afinal, vai penalizar menos o setor das energias renováveis no mercado norte-americano.

As companhias vão ter um estado de graça de 10 meses para arrancar com a construção de novos projetos e continuarem a ter acesso aos créditos fiscais, ou seja, podem recuperar parte do seu investimento através de um alívio na carga fiscal.

Para isso, vão ter de acelerar o início da construção destes projetos, o que deverá gerar uma corrida a equipamentos no mercado nos próximos meses, podendo contribuir para o aumento dos custos das empresas.

Os investidores da EDPR deverão ter celebrado com champanhe, pois a cotada chegou a disparar mais de 7% na segunda-feira na bolsa de Lisboa, tendo fechado a sessão a subir 6,5% para 10,36 euros, com mais de 2,3 milhões de ações negociadas, face à média de 1,3 milhões.

A clarificação agora emitida pelo ministério das Finanças dos EUA sobre a One Big Beautiful Bill Act (conhecida por OBBBA) estipula que os projetos que arranquem depois de 2 de setembro de 2025 ainda continuam sujeitos às regras antigas. Assim, só serão abrangidos pelas novas regras (sem direito a créditos fiscais) os projetos que iniciarem a construção depois de 5 de julho de 2026.

Desta forma, os projetos que iniciarem operação nos quatro anos após o arranque da construção continuam a ter direito aos créditos fiscais para as energias renováveis. Isto é, se os projetos da EDPR iniciarem a construção até meados de 2026, vão ter 4 anos para entrar em operação e reclamar os créditos fiscais.

Este foi o "melhor desfecho possível face às conversações iniciais", segundo os analistas da Jefferies.

Já os especialistas do Citigroup consideram que o estado de graça "é muito menos penalizador do que as regras estritas que eram temidas", segundo a Bloomberg.

Outras companhias europeias com presença no setor energético nos EUA também beneficiaram da notícia. A dinamarquesa Vestas, que produz aerogeradores, disparou 18% em Copenhaga, o maior ganho diário em 3 anos.

Apesar de os créditos fiscais terminarem mais cedo do que o previsto com o presidente Joe Biden, a questão é que agora existe visibilidade sobre o que vai acontecer.

Outras cotadas europeias também subiram mais de 4%, como a Nordex e a Orsted.

Apesar do alívio, a OBBBA vai continuar a pesar no setor energético. Nos próximos 5 anos, os novos projetos solares vão cair mais de 20% e os eólicos recuam 50% face ao estimado anteriormente, segundo a BloombergNEF, com a viabilidade de muitos a ficar em causa com a retirada dos subsídios.

"As famílias e as empresas americanas vão pagar mais pela eletricidade como resultado da ação, e a China vai continuar a ultrapassar-nos na corrida por eletricidade para alimentar a IA", disse a responsável pela associação americana de energia solar, Abigail Ross Hopper, citada pelo New York Times.

EDPR mantém planos para os EUA apesar da ‘Big Beautiful Bill’ de Trump

A EDP Renováveis (EDPR) já tinha dito em junho que mantinha os seus planos para os Estados Unidos da América (EUA) apesar da “big beautiful bill” de Donald Trump, que prevê cortes nos apoios aos projetos de energias renováveis.

A garantia foi dada a 17 de junho pelo presidente-executivo da elétrica, que anunciou que a companhia mantém inalterados os planos para 2025 e 2026, apesar da One Big Beautiful Bill Act (OBBBA) ainda ter de ser aprovada pelo Senado, podendo vir a ser sujeita a alterações.

“Estamos a preparar um novo plano de negócios. Iremos ao mercado no dia 6 de novembro, com projeções não só para 2025 e 2026, mas neste plano daremos mais visibilidade sobre aquilo que se passará de 2027 adiante”, começou por dizer Miguel Stilwell d’Andrade na ocasião, conforme revelou então o Jornal Económico.

“Para 2025 e 2026, mantemos as nossas estimativas, quer do ponto de vista de resultados, quer do ponto de vista de instalação”, garantiu o gestor em declarações à margem da The Lisbon Conference, organizada pelo canal “Now”.

Sobre a continuidade da empresa neste mercado, afirmou que a “aposta nas renováveis nos Estados Unidos é para ficar. Depois, podemos modelar o nível de investimento em cada ano, em função também das especificidades de cada ano. Agora, quando tomamos as decisões de investimento, é para 35 anos; vamos continuar a investir ao longo dos próximos anos”.

A companhia mantém as suas previsões de instalação de 2 gigawatts a nível global para este ano, com 1 gigawatt previsto para os EUA. Para 2026, prevê instalar 1,5 gigawatts no total, com 750 MW nos EUA.

“No ano passado fizemos dois gigawatts nos EUA; este ano faremos um gigawatt nos EUA. Vamos continuar a investir nos EUA; o nível exato de investimento pode variar em função do que sair da aprovação do reconciliation bill, concluiu o executivo.

A América do Norte pesou 55% no EBITDA da EDPR em 2024, mais de 850 milhões de euros, sendo o seu maior mercado.

Donald Trump disse que queria ter a legislação aprovada até ao dia 4 de julho, quando os EUA celebram a sua independência, mas a Fox News noticiou que era provável que esta data derrapasse perante dúvidas de vários senadores republicanos sobre os impactos do projeto-lei.

A legislação republicana é “pior do que o esperado” para as energias renováveis, segundo uma nota da Jefferies divulgada após a aprovação pela Câmara dos Representantes, com os analistas a acreditar que a lei aprovada pela Câmara dos Representantes venha a sofrer alterações no Senado.

A proposta “representa um pesadelo para os defensores da energia limpa e do IRA da era Biden [programa de fomento industrial]”, segundo a BloombergNEF.

Os créditos fiscais começam a terminar em 2029, mas na proposta inicial estava previsto que se estendessem até 2032. Agora, os projetos que queiram ter direito a este desconto fiscal têm de arrancar 60 dias após a lei entrar em vigor.

Os EUA tiveram uma ideia em 1994 para fomentar as energias renováveis no país: descontar nos impostos parte do investimento feito. Estes créditos fiscais vigoram desde então e foram alargados várias vezes. A mais recente tinha sido com Joe Biden, que atirou o seu fim para 2035, mas Donald Trump quer acabar com os apoios mais cedo.