As suspeitas que recaíram nos últimos dias sobre o processo Lava-Jato – no fundo, que este pode ter sido direcionado com fins políticos – podem ter ferido de morte o megaprocesso que se arrasta desde março de 2014, deitando por terra a tentativa de estancar e levar à justiça os responsáveis pelo plano de corrupção que para todos os efeitos manchou a vida social, económica e política brasileira na última década.
Após o site The Intercept Brasil ter publicado uma série de mensagens trocadas entre 2015 e 2018 entre Sergio Moro, então juiz responsável pelo julgamento dos casos de corrupção, e o procurador Deltan Dallagnol, que chefiava as investigações, vários arguidos e investigados parecem estar a preparar-se para pedir a anulação das investigações.
O caso é de tal forma passível de se transformar de megaprocesso num megaproblema político, que o próprio presidente, Jair Bolsonaro – normalmente muito rápido a fazer declarações sobre casos polémicos – preferiu desta vez pensar duas vezes antes de disparar tuítes.
Bolsonaro ficou em silêncio nas primeiras 24 horas após a publicação de notícias sobre os eventuais alinhamentos entre Moro e Dallagnol – isto apesar da circunstância de o juíz ser o seu ministro da Justiça, lugar para o qual o presidente não hesitou em convidá-lo, apesar das reservas de toda a oposição, que viu nessa nomeação a prova de que sempre era verdade que Moro tinha um projeto político por detrás das investigações.
Em vez de tuítes, Bolsonaro preferiu usar o secretário de Comunicação do governo, que leu um comunicado oficial onde estava escrito que “confiamos sem restrições no ministro Moro”. Bolsonaro preferiu deixar-se cair para segundo lugar em termos de reação às notícias, tendo deixado ao vice-presidente Hamilton Mourão a primeira reação. “O ministro Moro é uma pessoa da mais alta confiança do presidente, uma pessoa que dentro do país tem o respeito de uma grande parte da população”, disse este, citado pela comunicação social.
Mas os observadores não deixaram escapar aquilo que consideram ser uma muito inesperada reação do presidente – que tem em Moro bem mais que um ministro da Justiça: a presença do juiz no gabinete do executivo foi uma forma clara de Bolsonaro dizer deixar claro ao povo brasileiro que o seu governo está literalmente contra a corrupção que grassou nos anos mais recentes e que a Justiça é, precisamente, uma das suas prioridades. Além do mais, e num elenco onde não abundam ‘estrelas’, Moro serviu desde o início como uma espécie de garantia de honorabilidade, mesmo do ponto de vista internacional, depois das reservas vindas de muitos quadrantes (recorde-se a revista “The Economist”) sobre a figura do próprio Bolsonaro.
Esta demora em sair à praça pública em apoio do seu ministro pode resultar no abrupto fim do relacionamento entre os dois homens. Segundo alguns observadores, se Bolsonaro se vir impelido a quebrar a confiança em Moro, isso pode resultar no impedimento de o juíz ascender a um lugar no Supremo Tribunal de Justiça do Brasil.
Em maio, surgiram notícias, nunca confirmadas mas também nunca desmentidas de que o presidente Jair Bolsonaro pretende indicar Moro para o Supremo, mal haja uma vaga. As teorias da conspiração – que têm assolado o Brasil nos últimos anos – vieram afirmar de imediato que os dois homens haviam combinado essa ascensão até ao Supremo ainda Moro era o um juíz encarregado do Lava-Jato e que a passagem pelo Mnistério não seria mais que um ‘estágio’ de credibilização de Sergio Moro.