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José Adelino Maltez: "TAP? Para que serve se não para fazer ingerência politica?"

"A maneira de a fazer é não deixar rasto", destaca ainda o politólogo em entrevista ao JE. José Adelino Maltez revela que não ficou surpreendido com as conclusões do relatório preliminar da CPI à gestão da TAP e admitiu que o documento tenha sido feito à medida do Governo.

O politólogo José Adelino Maltez considera que é "óbvio" que existiu ingerência política do Governo na TAP, de acordo com o que foi possível vislumbrar ao longo das horas em que decorreu a Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da companhia aérea, cujo a versão preliminar do relatório foi conhecida esta terça-feira.

Em entrevista ao JE, este politólogo não se mostrou surpreendido com as conclusões do relatório e admite a possibilidade de que o documento tenha sido feito à medida dos interesses do Governo, como chegou a apontar o Bloco de Esquerda.

A versão preliminar atribui a maior parte das culpas pela saída de Alexandra Reis da TAP à antiga CEO e aos advogados. O que diz sobre esta conclusão? Já era esperado?

O relatório refletiu dezenas e dezenas de horas de transmissão diária do ato, não é novidade.

Os relatórios das comissões de inquérito são quase sempre longos, chatos e compridos. Sobretudo quando tem um impacto público e até exageram. As horas televisivas dedicadas ao assunto é um papel conclusivo. Portanto, para fechar a coisa porque ninguém amanhã na história vai ler o relatório.

Acho que é notável a capacidade que tem a senhora deputada de falar sobre o que já foi dito e redito e que não acrescenta nada, sabendo perfeitamente que a votação se fará com a maioria do PS, mesmo que todos os outros estejam contra.

O caso que envolveu João Galamba e Frederico Pinheiro ficou fora do relatório. É uma decisão adequada?

Então se são PS, não vão lamber as feridas? É tão simples como isto. Foram momentos aborrecidos e quanto muito podiam fazer parte de uma crónica de costumes ou de um romance de pancadaria.

O que há aqui é a discussão sobre o papel dos serviços de informação, como é que eles foram acionados, mas que não têm a ver com o caso TAP, tem que ver com um perfil totalmente diverso. Foi uma maneira airosa de passar por cima de um incidente.

A relatora do documento também nega que tenha existido ingerência política, mas os outros partidos não vão por aí. Na sua perspectiva, houve ou não ingerência política?

Para que serve uma companhia nacionalizada com um ministro da tutela se não para este fazer ingerência politica em nome do bem comum? Agora, a maneira de a fazer é não deixar rasto.

Portanto, que houve ingerência politica é obvio se não porque é preciso de nacionalizar uma companhia? Agora, que a ingerência politica passa pela anedota de marcar um bilhete ou atrasar um voo para o Presidente da República não é ingerência politica é anedota política.

O mais interessante disto são algumas cenas de romance, neorrealista de pancadaria. Os segredos de estado que o outro levou no computador de bicicleta. Isto de facto dá para um filme, mas é uma cena de três minutos. Acho que na história da política portuguesa raramente se viu a elevação de um adjunto à categoria de ator principal. Isto é raríssimo.

Desviamos as atenções. São cenas ultra secundárias que inundaram de lixo o centro do poder. Quando o centro do poder se perde em informações secundárias o sistema padece de um vicio concentracionarismo e isto é um revelador de uma crise sistémica.

Alguns partidos consideram que o relatório da TAP parece ter sido feito à medida dos interesses de João Galamba e António Costa. O que acha?

Que é certíssimo.

O Chega chegou a dizer que o relatório foi feito pelo Governo e passado ao PS. Acredita nesta teoria?

É capaz de ser verdade, mas isso já a direita fez o mesmo.