Quando chegou ao Parlamento Europeu, em julho de 2024, João Cotrim de Figueiredo, eurodeputado e candidato presidencial, chegou a "um grupo liberal que não era bem liberal". "Tive discussões acalorados para que a posição fosse claramente positiva relativamente ao acordo comercial entre a UE e a Mercosul. Num grupo liberal estar a defender o comércio livre devia ser o mínimo. Demorar 25 anos a aprovar um acordo de óbvia vantagem para a Europa é prova de duas coisas: falta de coragem porque é impossível tomar uma decisão verdadeiramente importante sem ofender interesses instalados.
Portanto, o primeiro choque foi chegar a um grupo liberal que não era bem liberal. O segundo choque foi que no Parlamento Europeu há uma quantidade brutal de eurodeputados que não têm noção do que custa a uma empresa apresentar mais um relatório", lembra João Cotrim de Figueiredo no debate "A Europa é eterna?", durante a conferência do Jornal Económico, que lança as bases das celebrações dos 40 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE.
O eurodeputado sublinha ainda que o País se apropriou do relatório Draghi, enquanto grandes defensores porque achamos que é "um relatório inteligente e corajoso". "Temos um banqueiro central a colocar na primeira página do seu relatório se a Europa não se reformar corre risco existencial", afirma João Cotrim de Figueiredo.
Em resposta à quantidade de antieuropeístas, o candidato presidencial respondeu que "já não há tantos como havia, sendo uma das grandes mutações da direita radical antieuropeia". A primeira pergunta a que temos de dar resposta todos, continua Cotrim de Figueiredo, é assumir se queremos estar dentro ou fora da Europa? "Se quisermos assumir estar fora temos de fazer as contas do que isso significa. Em 10 anos o nosso PIB potencial perdia 20%", explica. "Temos de defender o projeto europeu. Mas como está não pode ser: com a regra de unanimidade, falta de investimento, perda de competitividade e perda de influência geopolítica. O nó górdio começa a desenrolar-se no desenvolvimento económico", acrescenta.
Uma das razões da falta de velocidade da Europa é o processo de decisão e a necessidade de unanimidade, sobretudo no Conselho Europeu. " A Europa mexeu-se bem durante a pandemia e reagimos bem à invasão da Ucrânia pela Rússia. É uma organização que funciona bem nas urgências mas não no dia-a-dia. Há um lento declínio na vida das pessoas e temos de alarmar para o que está a acontecer".
A UE não é eterna e até pode implodir ou desagregar-se por falta de capacidade competitiva. É possível criar uma Europa a duas velocidades? "Se queremos ficar dentro temos de pagar alguns custos. Se a velocidade é essencial, temos que aceitar perda de soberania. Temos que aceitar uma maior centralização porque não há outra maneira de integrar mercados e até desburocratizar. Essa perda de soberania deve estar associada ao nível de projeto europeu", diz João Cotrim de Figueiredo.