O chefe de uma das agências de espionagem israelita, a Mossad, David Barnea, declarou quarta-feira que qualquer pessoa envolvida na execução do ataque do Hamas em 7 de outubro "assinou sua própria sentença de morte". A declaração surge um dia depois de o vice-chefe do grupo Hamas, Saleh al-Arouri, ter sido morto num ataque israelita em Beirute.
Barnea fez o comentário, citado pela imprensa israelita, no funeral do ex-chefe do Mossad Zvi Zamir, comparando a missão declarada de Israel para eliminar os líderes do Hamas à operação levada a cabo há décadas - lançada pelo falecido chefe da espionagem - para caçar os terroristas palestinianos responsáveis pelo assassinato de 11 atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
"Que todas as mães árabes saibam que, se o seu filho participou do massacre de 7 de outubro, ele assinou a sua própria sentença de morte", disse Barnea. A citação, recorda a imprensa, é uma frase famosa do primeiro primeiro-ministro de Israel, David Ben Gurion, que disse num discurso de 1963: “Que todas as mães hebraicas saibam que confiaram o destino dos seus filhos soldados a comandantes dignos disso".
"Hoje também estamos no meio de uma guerra", disse Barnea no funeral. "A Mossad hoje, como há 50 anos, deve responsabilizar os assassinos que invadiram a área fronteiriça de Gaza em 7 de outubro - os que planearam e aqueles que os enviaram. Vamos colocar as mãos neles onde quer que estejam. O espírito de Zvika Zamir acompanhar-nos-á nesta missão", disse.
Zamir, que morreu na passada terça-feira aos 98 anos, liderou a Mossad de 1968 a 1974, seis anos tumultuados que viram a organização e o seu chefe embarcarem na caça mundial aos terroristas do grupo Setembro Negro após os ataques às Olimpíada de Munique. Enviar comandos para o coração de Beirute e alertar a população israelita da iminência dos ataques de Yom Kipur (em 1973, por parte de forças egípcias e sírias), foram algumas das ações mais memoráveis protagonizadas ou lideradas por Zamir.
Em gravações exibidas pela emissora pública Kan em dezembro, Barnea chamou a missão de matar os líderes do Hamas de "a nossa Munique". Em todos os locais, em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano, na Turquia, no Qatar, em todos", disse. "Levará alguns anos, mas estaremos lá para o fazer."
Uma parte da comunidade internacional considera inconcebíveis estas atividades da ‘secreta’ israelita, que estão para além de toda a legalidade. E que pressupõem a empresa de comandos militares em países terceiros para assassinar pessoas que de algum modo estão protegidas pelas leis internacionais. Mesmo assim, e tal como sucedeu sempre (desde antes de 1948), as organizações secretas israelitas (como a Haganah) sempre agiram a coberto de operações secretas e sem que tivessem que dar-se ao esforço de dar explicações.
Talvez por isso, acaba por ser uma espécie de efeito colateral o facto de uma série de israelitas estar a ponderar a hipótese de levar o Estado hebraico a tribunal para pedir indeminizações depois de as ‘secretas’ terem falhado a antecipação do 7 de outubro.
Além de possíveis assassinatos no exterior, diz a ainda a imprensa israelita, a Mossad e o Shin Bet (mais um dos braços das ‘secretas’) teriam formado um centro de operações especiais encarregado de rastrear e matar membros da unidade de comando do Hamas que liderou os ataques de 7 de outubro.
De acordo com o site de notícias Ynet, a unidade terá o nome da organização judaica clandestina Nili, da época da Primeira Guerra Mundial, um acrónimo para uma frase hebraica que se traduz como "o Eterno de Israel não mente".
Israel já anunciou a morte de vários comandantes do Hamas em Gaza durante os combates, embora o líder local do grupo, Yahya Sinwar, e seus vices permaneçam foragidos. Israel não assumiu a explosão que matou Arouri na terça-feira e abalou os subúrbios do sul da capital libanesa, um reduto do grupo libanês Hezbollah, mas fontes em Washington disseram que foi Israel a executar o assassinato.