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Infraestruturas. Uma pasta sem ministro; a TAP que não se privatiza e o aeroporto sem localização

A pasta "amaldiçoada" da maioria absoluta de António Costa acaba herdada pelo próprio, uma situação que deverá estender-se até à tomada de posse do novo Governo. "Opções passavam por queimar alguém do partido; não sei se alguém estaria disposto a isso", revela politóloga Patrícia Calca ao JE.

E no fim, os dossiers do Ministério das Infraestruturas, o mais turbulento do atual executivo (devido sobretudo à gestão da TAP), vão ser assumidos pelo primeiro-ministro. Este foi o desfecho acordado esta terça-feira entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa após uma hora e meia de reunião em Belém.

Com a demissão de João Galamba do cargo algumas horas antes deste encontro, o ministro que esfriou a relação entre Belém e São Bento já não foi tema de agenda desta reunião. A questão passava por quem iria ficar à frente das Infraestruturas, num de dois cenários: ou seria nomeado novo ministro ou se estes dossiers iriam ser entregues a outro governante já em funções no atual elenco.

Com o Ministério das Infraestruturas a concentrar duas das decisões mais importantes dos próximos anos e que à partida terão que merecer um consenso partidário que vai muito para além do Governo - privatização da TAP e a escolha do novo aeroporto de Lisboa - o que também parece consensual é que nenhum destes temas vai conhecer desenvolvimentos nos próximos quatro meses.

Além da possibilidade do primeiro-ministro poder assumir esta pasta, os analistas viam como prováveis duas soluções para a sucessão no Ministério das Infraestruturas: a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e António Costa Silva, ministro da Economia. Se algum desses nomes foi equacionado pelo ainda chefe do Governo, nenhum destes mereceu a aprovação em Belém.

Para os quatro meses que restam a este Governo, Marcelo Rebelo de Sousa quer António Costa Silva focado na atividade económica do país e Mariana Vieira da Silva, a ministra com a tutela global dos fundos europeus, concentrada em algo que o Presidente da República não quer que fique em stand by: a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (recorde-se que Marcelo chegou criticar a concentração de competências excessivas).

E recaindo a escolha em António Costa, é desejável que um primeiro-ministro acumule uma pasta tão sensível mesmo num espaço de poucos meses? Em entrevista ao JE, a politóloga Patrícia Calca considera que, no atual enquadramento governativo, esta foi a melhor opção: "A terceira via, a que foi escolhida, e que passa por António Costa acumular essa pasta, talvez tenha sido a melhor estratégia para não queimar mais ninguém numa pasta muito sensível".

Reconhecendo que esta "é uma pasta muito complicada e tornou-se ainda difícil", a politóloga elenca as alternativas, apesar de não reconhecer nenhuma como boa: "As opções passavam por queimar alguém do partido por meia dúzia de meses e não sei se alguém estaria disposto a isso ou mesmo se o primeiro-ministro quereria alguém nessas condições. A alternativa seria atribuir essa pasta a um dos atuais ministros sendo que se chegou a falar em Mariana Vieira da Silva e António Costa Silva".

"É uma posição muito ingrata. Faz-me lembrar quando Pedro Passos Coelho formou Governo após ganhar as eleições em 2015 apesar de saber que dificilmente esse Executivo iria passar no Parlamento. É uma situação muito complicada", concluiu.