Não é nenhuma garantia, mas as opiniões sobre a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, quando recolhidas a Ocidente (na União Europeia), tendem a enfatizar que o bom-senso acabará por prevalecer. Um prognóstico que tem por base a evidência de que uma guerra comercial de longa duração não beneficia ninguém – e em primeiro lugar, por maioria de razão, os dois principais implicados.
Os números macro emanados das duas economias envolvidas dão disso nota insofismável: a pujança da economia norte-americana era mais evidente no momento em que Donald Trump, contra todas as expectativas, se tornou o inquilino da Casa Branca; e na China a fase do crescimento a rasar os dois dígitos está transformada numa memória de grata recordação.
De algum modo, o bom-senso do lado dos Estados Unidos surgiu repentinamente como uma obrigação de política interna, quando os primeiros sintomas de alarme soaram com estrondo, consubstanciados no anúncio (no final do ano passado) de que a poderosa General Motors iria fechar sete fábricas (quatro nos Estados Unidos) e despedir 15% da força laboral no país de origem (14 mil empregados), para conseguir cortar até 2020 seis mil milhões de dólares (5,2 mil milhões de euros) nos custos de operação.
Trump ficou furioso – chegou a dizer num tuíte que estava “dececionado” com a GM, tendo incentivado os seus responsáveis a reverterem a decisão – mas em determinada altura lá lhe terá passado pelo espírito que as novas tarifas à importação de aço e alumínio haveriam de ser, ao menos em parte, responsáveis por tão drástica decisão.
Mas, contra esta ótica, como disse ao JE Filipe Garcia, responsável da Informação de Mercados Financeiros (IMF), está o ‘timing’ da China: a aproximação do bom-senso à Casa Branca obedece indiscutivelmente, e entre outras razões, ao ciclo eleitoral – Trump tentará para o ano ser reeleito, coisa que em princípio não lhe será difícil de conseguir – mas Xi Jinping, o presidente chinês, não tem que se preocupar com essa maçadora invenção ocidental.