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Global Media tem seis propostas que vão do aumento de capital à compra do ‘JN’ e TSF

Grupo de comunicação social, que se encontra em difícil situação financeira, recebeu seis manifestações de interesse que vão desde injeções de capital na ‘holding’ à venda em separado do “JN” e da TSF, no que seria o início do desmembramento do grupo de media, apurou o JE. Tribunal vai decidir arresto pedido por Marco Galinha nos próximos dias, o que poderá devolver o controlo da Global Media ao Grupo BEL.

Os acionistas da Global Media, empresa que atravessa uma difícil situação financeira e tem salários em atraso, receberam até ao momento seis manifestações de interesse de potenciais investidores, que vão desde a realização de aumentos de capital na holding à compra em separado de ativos do grupo, nomeadamente do “Jornal de Notícias”, da TSF e de “O Jogo”, apurou o Jornal Económico (JE).

Segundo as fontes ouvidas pelo JE, das seis manifestações de interesse, duas passam por um aumento de capital na holding do grupo. Uma dessas propostas foi apresentada pelo Nobias European Studios (NES), do empresário Ricardo da Silva Oliveira que, tal como o JE noticiou na sexta-feira, está disposto a investir dez milhões de euros, em troca de uma participação de 51% do capital da Global Media.

Outra proposta semelhante será de um grupo de empresários que estão dispostos a investir cinco milhões também num aumento de capital na holding, tal como o JE avançou na passada quinta-feira. E em cima da mesa está também uma proposta para a compra de 100% do capital da Global Media, mas até ao fecho não foi possível apurar quem a apresentou.

As seis manifestações de interesse foram entregues a Marco Galinha, na qualidade de presidente do conselho de administração da Global Media. O empresário  ainda detém 49% da Páginas Civilizadas, holding que controla a Global Media, e, na semana passada, deu entrada com uma providência cautelar de arresto dos 51% detidos pelo WOF, invocando o incumprimento contratual do acordo celebrado em julho para a venda de 51% da Páginas Civilizadas ao fundo sediado nas Bahamas. Se a Justiça der razão ao empresário, poderá existir a possibilidade de a gestão liderada por José Paulo Fafe ser afastada e o grupo BEL, de Marco Galinha, retomar o controlo do grupo de comunicação social.

Três propostas para desmembrar o grupo Global Media 

As outras três propostas são para a compra de algumas marcas do grupo, no que seria o início do desmembramento da Global Media. Tal como o CEO José Paulo Fafe revelou na semana passada no Parlamento, uma dessas propostas foi apresentada pelo próprio Marco Galinha e por um grupo de investidores e consistia numa oferta de 12 milhões de euros pelos dois jornais do grupo que são considerados rentáveis, o “JN” e “O Jogo”.

Outra proposta foi divulgada pela Lusa na passada sexta-feira e foi entregue pela Officetotal Food Brands, grupo proprietário das bolachas “Saborosa” (as antigas Belgas), incidindo sobre o “JN”, “O Jogo” e as revistas da Global Media, cujas redações estão maioritariamente sediadas no Porto. Em declarações ao “Negócios”, este fim de semana, Diogo Freitas, dono desta empresa que tem sede em Ponte de Lima, afirmou que os títulos da Global Media não devem valer mais de oito milhões de euros. Embora o seu foco esteja nas publicações sediadas a norte, a Officetotal Food Brands está também disponível para contribuir para uma solução que viabilize a sobrevivência da rádio TSF, adiantou.

Ao que o Jornal Económico apurou, existe ainda uma sexta manifestação de interesse, desta feita para a compra da TSF, mas até ao fecho não foi possível identificar o proponente.

Um grupo em crise profunda

As manifestações de interesse surgem numa altura em que o grupo atravessa uma grave situação financeira, que veio a público após a entrada do World Opportunity Fund (WOF), uma entidade sediada nas Bahamas, no seu capital. Em julho último, tal como o JE noticiou em primeira mão, este fundo comprou ao empresário Marco Galinha 51% da holding Páginas Civilizadas, que por sua vez detém 52% da Global Media.

Depois de no início ter prometido investir no crescimento do grupo e nos seus títulos, a gestão nomeada pelo WOF anunciou a intenção de eliminar cerca de 200 postos de trabalho, sobretudo no “JN” e na TSF, para evitar o que considera ser a falência iminente do grupo. O novo CEO, José Paulo Fafe, que foi indicado pelo WOF, criticou publicamente as anteriores administrações, responsabilizando-as pela situação em que o grupo se encontra, numa forma de atuação que tem merecido fortes críticas por parte das estruturas representativas dos trabalhadores, que acusam o responsável de desvalorizar, com as suas palavras, o valor das marcas do grupo Global Media.

Por sua vez, o anterior CEO, Marco Galinha, bem como os outros acionistas de referência, Kevin Ho e José Pedro Soeiro, têm afirmado que o grupo estava numa situação financeira positiva até à venda ao WOF, acusando este último de ter aumentado significativamente os custos com as contratações que realizou nos últimos meses e de ter levado a uma descida das receitas de publicidade e de eventos, devido à forma como tem gerido a empresa.

O grupo de media tem assim estado envolto em polémica, com trocas de acusações entre acionistas, greves e protestos por parte dos trabalhadores, críticas por parte de vários partidos políticos e inclusive propostas para a sua nacionalização, um cenário extremo que o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, colocou de parte na semana passada, no Parlamento.

Enquanto isso, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social deu início a um procedimento de averiguações para descobrir a identidade dos novos proprietários da Global Media, uma vez que o fundo WOF não divulga quem são os detentores das suas unidades de participação. Este procedimento poderá levar, no limite, à suspensão dos direitos económicos do WOF e ao afastamento da comissão executiva liderada por José Paulo Fafe, que foi indicada pelo fundo. No mercado, os rumores sobre a identidade dos controladores do fundo têm sido muitos, falando-se de empresários brasileiros próximos do presidente Lula da Silva. Um cenário que, de acordo com a edição do “Expresso” da passada sexta-feira, vai ao encontro da forma como o fundo foi constituído nas Bahamas, com um formato que é tradicionalmente utilizado por milionários brasileiros que colocam capitais naquele paraíso fiscal.