Pagar a influencers para promoverem peças de vestuário. Um link com direito a um desconto é suficiente para atrair milhares de jovens mulheres, o público-alvo. Uma nova moda, bastante efémera, é criada imediatamente. Do outro lado da linha, as fábricas chinesas estão prontas a fabricar o novo modelito que será vendido a um preço competitivo face às ‘zaras’ da vida. Num só dia já chegou a colocar mais de seis mil novas peças à venda. Há quem tenha comprado 30 bikinis por 100 libras... Para comprar, basta clicar na app e entregam em casa passados uns dias. Mas porquê fast fashion? Pela rapidez com que uma nova tendência, criada pela própria marca, nasce e morre; e a rapidez com que fabrica novos modelos.
Quanto é que vende este novo gigante do retalho? Ninguém sabe. A empresa não está cotada e as suas contas não são reveladas. Um parceiro norte-americano adiantou à “CNBC” em janeiro que as suas vendas podem superar os 30 mil milhões de dólares anuais, o que a colocaria em linha com a Inditex, a dona da Zara, e à frente da sueca H&M, mas não há provas. Em 2022, terá vendido 23 mil milhões de dólares, segundo fontes citadas pelo “Wall Street Journal” num artigo de maio de 2023. Oobjetivo seria vender mais 40% em 2023. Foi atingida a meta? Não se sabe.
A empresa pode vir a ganhar mais transparência no futuro, entrando em bolsa (IPO). Wall Street era a preferida, mas pode optar por Londres. A companhia considera improvável que o regulador norte-americano SEC aprove o seu IPO. O senador republicano Marco Rubio já pediu à SEC que bloqueie a Shein, defendendo mais informação sobre as suas operações na China.
“As empresas com ligações próximas à China vão achar mais desafiante cumprir as regras dos EUAem relação à transparência, e como satisfazer os reguladores chineses ao mesmo tempo”, disse à “Bloomberg” Gary NG da Natixis, apontando um IPO em Hong Kong como alternativa.
OIPOfoi avaliado em 50 mil milhões de dólares no final de 2023, abaixo dos 80-90 mil milhões de dólares que a companhia esperava obter.
Este IPO vai servir para a empresa “ financiar a próxima fase de crescimento global da empresa, permitindo uma expansão ainda maior em novos mercados e segmentos. Em segundo lugar, oferece uma oportunidade para a Shein reforçar a sua infraestrutura, investindo em tecnologia, sustentabilidade e cadeias de fornecimento éticas, elementos cada vez mais valorizados pelos consumidores e investidores modernos”, disse ao JE Henrique Tomé da XTB.
Para o futuro, existem riscos para a sua operação, que beneficia de uma economia com menor poder de compra: “no longo prazo, se houver sinais de melhoria económica, o negócio da empresa poderá ser afetado negativamente, na medida em que os consumidores poderão optar por outras marcas mais caras”, segundo Henrique Tomé.
A grande dúvida é se vai manter o ritmo de crescimento, perante relatos de incumprimento de direitos laborais na China, com turnos de 17 horas, recorda a “Time”, e com um modelo ambiental insustentável de produção que também arrisca afastar muitos consumidores.