Os novos projetos de gás natural liquefeito (GNL) nos Estados Unidos da América e no Qatar são cruciais para garantir a segurança de abastecimento da Europa. A Europa já se afastou das garras da Rússia, mas precisa de mais gás natural para ficar totalmente livre da esfera de influência do Kremlin e de Vladimir Putin.
A conclusão é do Goldman Sachs que analisou os projetos de liquefação de gás natural (para depois ser transportado via navio) que estão a ser construídos por todo o mundo.
O banco norte-americano considera que o mundo está a caminho de um "mega-ciclo" de GNL, com a nova capacidade de liquefação a atingir os 48 millhões de toneladas por ano (mtpa) entre 2025-28, face aos 13 mtpa entre 2020-24, atingindo um pico de 70 mtpa em 2026.
A maioria desta nova capacidade vai ser instalada nos EUA (40%) e no Qatar (20%), mas há mais países com projetos como o Canadá, Austrália, Indonésia, Mauritânia, Rússia, México, República do Congo, Gabão ou Papua Nova-Guiné. Em termos de promotores, surge empresas como a BP, Eni, Cheniere, Shell, Exxon, Qatar Energy, ou Totanl Energies.
Em 2022, ano da invasão russa da Ucrânia, que as compras de GNL pela Europa dispararam 60% para substituir o gás russo.
Mas ainda não é suficiente. "Esperamos que a procura europeia por GNL continue a acelerar, com a maioria a acontecer em 2025, beneficiando da nova vaga de GNL a entrar em operação em 2025", segundo o GS.
O aumento anual no fornecimento de gás natural entre 24/28 é "duas vezes maior do que a média anual de produção de energia renovável (eólica onshore/offshore e solar) na Europa durante o mesmo período".
O GS acredita que o GNL desempenha um papel muito importante na transição energética.
Como resposta à agressão russa à Ucrânia, o mercado de gás natural liquefeito acelerou investimentos depois do fechar da torneira do Kremlin.
Até 2028, vai chegar ao mercado mais de 200 millhões de toneladas por ano (mtpa) de GNL, quase duas vezes o gás russo que desapareceu do mercado europeu.
Mas isto "vai provocar um excesso de fornecimento ao mercado global de gás", especialmente a partir de 2026-2028, segundo o Goldman Sachs.
O excesso de oferta poderá atirar os preços para um valor entre os 4-6 dólares por mil pés cúbicos (mcf), 50% abaixo do preço atual e 60% do preço registado no ano passado.
Em termos de risco altista sobre os preços, o GS aponta que o próximo inverno de 24/2025 pode vir a ser "mais frio do que o habitual" e que a procura por parte da China pode vir a ser "mais forte do que o esperado".
"Reconhecemos que até à nova vaga de GNL chegar ao mercado, os preços deverão continuar vulneráveis a interrupções de fornecimento e aumentos na procura, especialmente durante o inverno, quando a procura inelástica e dependente da metereologio corresponder a mais de 60% do consumo", segundo o GS.
"Assim, um inverno mais frio do que o habitual em 24/25 ainda representa um risco para o nosso outlook dos preços europeus", de acordo com a análise que aponta que a descida de um grau centígrado face ao habitual provocaria um aumento na procura em 12% da capacidade de armazenamento, e sem mecanismos para limitar o consumo, "os preços podem subir rapidamente de forma a travar a procura".
Paralelamente, se a economia chinesa acelerar em 2024, e com o consumo de gás a acompanhar, poderá provocar um disparo nos preços.
A análise destaca que os preços spot do gás recuaram quase 50% o que aponta para uma "normalização significante no balanço da procura e da oferta", o que deve-se a um consumo abaixo do esperado face a um inverno mais ameno, atividade industrial mais fraca e fraca procura de produção de eletricidade a partir do gás natural, devido a menor consumo de eletricidade juntamente com um ano mais chuvoso (barragens produzem mais) e maior produção nuclear.
Depois da crise energética provocada pela Rússia, os preços do gás na Europa começaram a normalizar. Nos últimos 12 meses, os preços spot e a um ano do mercado TTF caíram mais de 60%, com a maioria do recuo a ter lugar desde outubro passado.
Com as temperaturas acima do esperado na Europa nas próximas duas semanas, e tendo em conta os níveis de armazenamento (70%), o outlook para os preço do gás para "o resto do inverno permanece bastante fraco" e ainda poderá "piorar" com a queda sazonal que tem lugar na primavera.
Para ter uma ideia, os preços do gás durante a pandemia recuaram para 1 dólar/mcf (3 euros/MWh). Atualmente, os preços spot estão nos 9,2 dólares/mcf (28 euros/MWh), em linha com os preços de longo prazo na Europa.
Contudo, o GS argumenta "que isto ainda não é o fim da normalização do preço do gás", o que só deverá acontecer a partir de 2025 com a chegada de mais gás ao mercado com os novos projetos em operação.
Os preços mais baixos do GNL devem estimular a procura, mas somente com os preços abaixo dos 10 dólares/mcf.
Entre os maiores compradores de GNL encontram-se a China e a Índia com cerca de 30% do consumo global. O GS prevê que a procura nestes dois países cresça 11% por ano em 24/25 com os preços mais baixos de GNL.