A Galp está a recuar nas energias renováveis no Brasil, ao mesmo tempo que analisa os futuros leilões de petróleo no país. Do outro lado do Atlântico, mantém a aposta no gás natural em Moçambique e quer acelerar no petróleo na Namíbia.
"O Brasil é um lugar de que gostamos. Estamos a analisar cuidadosamente", disse Filipe Silva sobre o leilão de atribuição de novas áreas que vai ter lugar no Brasil em 2024. "Não esperamos [que eventuais novas áreas] que tenham um impacto significativo no Capex nos próximos anos", disse o presidente executivo da Galp numa chamada com analistas na segunda-feira.
A energética portuguesa também analisou o recuo nas energias renováveis no Brasil que obrigou a registar uma imparidade de 59 milhões de euros relativo a cinco projetos renováveis.
"O regulador deu a oportunidade às empresas de revisitarem os seus contratos para as interligações elétricas. Fizemos o mesmo, mas os projetos continuam no nosso portefólio, apesar de já não termos direitos de interligação. Iremos pedir quando o mercado virar", disse o responsável da Galp para as renováveis, salientando que 11 gigawatts estavam à espera de se ligar.
Georgios Papadimitriou apontou que o mercado brasileiro tem sido marcado por "preços baixos, altos custos de Capex, taxas de juro elevadas e inflação alta. É por isso que muitos promotores decidiram não avançar agora. Quando o mercado melhorar, iremos decidir. Não existem oportunidades para FID [tomar uma decisão de investimento] no Brasil".
Em relação a Moçambique, a Galp garante que mantém a sua aposta no projeto de gás natural Coral. "É uma jóia de projeto, gostamos dele. Coral está a trabalhar bem", disse Filipe Silva, apontando que assim que for levantada a suspensão por "force majeure" (razões de força maior, devido aos terroristas islâmicos), o projeto tem pernas para andar, com os trabalhos de engenharia a avançar em 2024. "O foco da Galp é retirar o risco deste projeto".
A "Reuters" noticiou no início de outubro que a Adnoc, petrolífera estatal de Abu Dhabi está interessada em comprar a fatia de 10% da Galp neste projeto.
Questionado sobre se está prevista uma segunda plataforma flutuante para o projeto, Filipe Silva adiantou que esta é uma discussão que decorre, mas que a empresa está mais focada no lado onshore do projeto, isto é, a fábrica para transformar o gás natural extraído em líquido para poder ser exportado.
Sobre a Namíbia, destacou os dois poços onde a Galp está a fazer pesquisa, tendo já investido entre 200 a 300 milhões de dólares.
A Galp aumentou os lucros em 18% para 718 milhões de euros até setembro face a período homólogo. A companhia petrolífera aumentou a sua previsão de EBITDA para este ano em 300 milhões para 3,5 mil milhões de euros, com o preço do petróleo mais alto, maior produção e margem de refinação a subir.