O novo primeiro-ministro francês, Sébastian Lecornu, abordou pela primeira vez o tema da saúde – um sector para o qual estavam previstos vários cortes pelo governo anterior, no âmbito da proposta de poupança de 44 mil milhões de euros no Orçamento para 2026. Fê-lo, depois de ter dito já que não vai mexer no calendário dos feriados, que também fazia parte das propostas do seu antecessor, François Bayrou – mas a oposição, tanto à direita como à esquerda, não dá mostras de pretender emprestar-lhe um tempo, por mínimo que seja, de ‘estado de graça’.
"Não quero instabilidade nem imobilidade ", declarou Lecornu. O chefe de governo afirmou ser acima de tudo diferente de seu antecessor e simbolicamente anunciou que está a abandonar algumas das suas medidas. "Quero que poupemos aqueles que trabalham ", afirmou ainda.
Desgraçadamente para o próprio, a oposição mantém-se firme e assegura que Sébastien Lecornu não passa de uma espécie de versão recauchutada de Bayrou. Em Bordéus, Marine Le Pen deu o mote dobre o que Lecornu pode esperar: prevê a sua queda e promete um futuro brilhante para os franceses. Embora afirme que não quer censurar automaticamente o novo governo, a líder da extrema-direita fez um discurso de campanha, imaginando uma dissolução dentro de alguns meses.
É por isso, dizem os analistas, que a primeira aposta do novo primeiro-ministro é uma tentativa de se aproximar dos socialistas – afinal, a família política original do presidente Emmanuel Macron. Sébastien Lecornu mantém a ideia de aprovar um projeto de lei financeira com o apoio dos socialistas, o que significa limitar a redução do défice público e o impacto dos cortes nos gastos do Estado.
Será uma aposta ousada, mas as forças em volta de Lecornu estão a tentar fazer a ponte. O ministro da Economia demissionário, Eric Lombard, Os 44 mil milhões de euros de redução do défice? "Obviamente, esse esforço deve ser reduzido ", admitiu emdeclarações à imprensa. A eliminação de dois feriados? "Não foi bem recebido pela opinião pública ", o novo primeiro-ministro está certo" em abandoná-lo. Será adotado um orçamento? "Estou convencido de que há um caminho a seguir ", garante. Para já, não há qualquer reação dos socialistas – que, além do mais, são apenas uma pequena parte do lado esquerdo da Assembleia Nacional que votou favoravelmente à ‘morte política’ de Bayrou. E nada indica que, mesmo que os socialistas se deixem convencer a não bloquear de imediato o novo governo, nada indica que consigam convencer a França Insubmissa (o mais grupo da esquerda) a fazer o mesmo.