A Reserva Federal manteve os juros diretores norte-americanos sem alterações na primeira reunião do ano, em linha com o esperado, interrompendo assim um ciclo de três decidas consecutivas face à incerteza criada pela nova política económica da administração Trump.
As taxas de referência da maior economia do mundo ficam assim entre 4,25% e 4,5%, ou seja, já 100 pontas base (p.b.) abaixo do pico dos juros durante o atual episódio de aperto monetário. A decisão era já largamente esperada pelo mercado, que atribuía 99,5% de probabilidades a um desfecho desta natureza na antecâmara da reunião, avaliando pela FedWatch Tool do CME Group.
Ainda assim, esta expectativa decorre de uma forte revisão em baixa no final do ano passado das previsões dos investidores e analistas quanto aos cortes de juros em 2025, antecipando uma inflação mais persistente à boleia das esperadas políticas económicas da nova administração.
No comunicado que informa da decisão, o banco central fala numa inflação “relativamente elevada”, uma alteração em relação à linguagem utilizada no anterior encontro, em dezembro, quando mencionava o “progresso” no retorno ao objetivo de 2%.
Do lado do mercado laboral, as “condições permanecem sólidas”, lê-se, o que reforça a noção de que a economia continua sobreaquecida. Ao contrário do seu homólogo europeu, a Reserva Federal tem um mandato duplo para a estabilidade de preços e pleno emprego.
A ameaça recorrente de tarifas generalizadas às importações norte-americanas aumenta a projeção da inflação no curto-prazo, acrescendo às pressões nos preços, enquanto a política de deportações poderá criar mais problemas de mão-de-obra num mercado laboral já bastante aquecido e rígido. Junta-se a isto o efeito expansionista destas políticas, que deverão resultar num crescimento mais forte e, por conseguinte, dificultar a descida dos juros durante o ano.
Recorde-se que, nas previsões atualizadas pela Fed em dezembro para a economia norte-americana nos próximos anos, os membros do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) antecipavam apenas dois cortes de 25 p.b. este ano, levando também a um ajuste em alta das expectativas de mercado quanto à taxa terminal.