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Falta de mão-de-obra deverá atingir 85 milhões de trabalhadores até 2030

Estudo 'Global Risk Management Survey' realizado pela Aon analisou os principais riscos para as empresas portuguesas. No caso da falta de mão de obra, é necessário que os empregadores e colaboradores, se adaptem à evolução das necessidades em termos de competências, no contexto das transições ecológica e digital.

O aumento da escassez de mão de obra é um dos principais riscos que as empresas poderão ter de enfrentar a médio prazo, segundo as conclusões retiradas pelo estudo 'Global Risk Management Survey' realizado pela Aon. Em declarações ao Jornal Económico (JE), Carlos Freire, CEO da Aon Portugal, acredita que a falta de mão de obra já era apontada como um dos principais problemas no mercado, num relatório divulgado pela Comissão Europeia (CE) sobre a evolução do emprego e da situação social na Europa (ESDE) de 2023.

"Estudos recentes também mostram que haverá uma escassez estimada de 85 milhões de trabalhadores em todo o mundo até 2030. É necessário que, tanto os empregadores como os colaboradores, se adaptem à evolução das necessidades em termos de competências, no contexto das transições ecológica e digital. O relatório conclui ainda que existe escassez de mão-de-obra em vários sectores e profissões em todos os níveis de competências e esta escassez deverá aumentar", refere.

Como tal, o responsável vê a dimensão destes números com enorme preocupação, considerando que é importante identificar as causas que levam a esta enorme escassez da mão-de-obra, como por exemplo, o envelhecimento da população e falta de mão-de-obra qualificada (falta de competências), salientando que devem ser tomadas várias medidas, tais como:

  • Ter uma proposta de valor forte para colaboradores actuais e futuros – reter talento e atrair o pouco talento disponível.
  • Apostar em áreas valorizadas pelos colaboradores, oferecer oportunidades de desenvolvimento e mobilidade, desenvolver uma cultura de propósito (52% dos colaboradores entre os 18 e os 24 anos não aceitam trabalhar em empresas que vão contra os seus valores relacionados com ESG), reforçar níveis de bem-estar mental, social, físico, financeiro e profissional (apenas 30% dos colaboradores na Europa são resilientes -> destes 80% não quer sair da empresa), garantir uma verdadeira política de inclusão em termos de género, origens, idades e outras dimensões; e Introduzir flexibilidade a vários níveis (local, horário e forma de trabalhar / carreiras horizontais, verticais, pausas, etc. / compensação e benefícios flexíveis).
  • Olhar para pools de talento alternativo.
  • Apostar no reskilling para acesso a pool de talento menos óbvios.
  • Apostar no digital/ virtual para alargar o âmbito da pool de talento disponível (+30% dos candidatos nem querem ouvir o salário, se não existir flexibilidade na forma de trabalhar).
  • Apostar nas lideranças (colaboradores não abandonam empresas, mas sim as suas lideranças).
  • Mudar competências das lideranças – de foco nos resultados para foco nas pessoas (que irá de forma sustentável ter impacto nos resultado.
  • Promover novas pessoas a líderes (com competências como agilidade, empatia, resiliência, etc.) e fazer upskilling dos líderes atuais
  • Alinhar compensação e incentivos com novas competências -> premiação alinhada com o que se pretende promover como competências core.
  • Desenvolver formas de retenção mais hard.
  • Criar planos de retenção em níveis mais baixos da organização (planos a 2/3 anos constantes -> pagamentos diferidos no tempo)
  • Apostar em modelos de referenciação para colaboradores que sugiram candidatos que fiquem e que tenham bons níveis de performance.

Ainda em relação a outros riscos para as empresas, Carlos Freire destaca que as alterações climáticas, a geopolítica e ainda a Inteligência Artificial serão desafios para o próximo ano. "As alterações climáticas começarão a ter um impacto ainda mais apreciável nos países e nas empresas, as tensões geopolíticas entre a China, a Rússia e os aliados ocidentais, complicará as respostas governamentais e empresariais (investimento em supply chain, tecnologia e a transição energética),a maior adoção da inteligência artificial generativa (IA) remodelará as empresas e os empregos, e apesar de perturbação notável em vários sectores, a maioria as empresas encontrarão maneiras de usar a IA para aumentar a produtividade", explica.

Por outro lado, as economias europeias devem recuperar ligeiramente em 2024, algo que poderá segundo o CEO da Ao, tornar-se imprevisível face aos impactos pela guerra da Ucrânia, causada pela invasão russa, e pelo aumento das tensões no Médio Oriente, entre Israel e o Hamas, que poderão afetar também o nosso país.

"A escalada de mais um conflito pode levar ao arrefecimento da economia mundial, devido ao aumento do preço do petróleo e ao adiamento de investimento e consumo, afetando também Portugal. Para as empresas portuguesas haverá sempre impactos relevantes ao nível do aumento dos custos e dificuldade no acesso a matérias-primas, entre outras consequências. E para além do impacto das guerras, em 2024 existirão eleições em importantes potências mundiais que poderão mudar a realidade política (e naturalmente económica), como a conhecemos em 2024", salienta.

Numa altura em que Portugal atravessa uma crise política e com o Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) a ser debatido no parlamento, Carlos Freire defende que o documento deve conter medidas de relevo que fomentem o crescimento e a competitividade da economia, que ajude à rentabilidade e desenvolvimento das empresas, dando como exemplo a recente análise feita pela Business Roundtable Portugal, que procurou perceber qual o impacto de ter 150 novas grandes empresas no tecido empresarial português.

"Dessa avaliação, que teve como base de análise os indicadores registados em 2019, estima-se que adicionar à economia nacional mais 150 grandes empresas, distribuídas pelos sectores mais produtivos, iria possibilitar um aumento de 4% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços de mercado, de 10% nas exportações, e de 5% na receita fiscal agregada. Para além destes fatores, também a produtividade aparente e os salários aumentariam 1% cada", sublinha.