A empresa de eventos corporativos GR8 Events, fundada há cerca de três anos por Francisco Serzedello, ex-diretor da Desafio Global, prevê terminar este ano com uma faturação de seis milhões de euros e contratar mais duas pessoas. O negócio dos encontros das marcas, que ganhou vida nova com o híbrido e acabou por estabilizar a nível nacional, está a ganhar pujança com as empresas internacionais, garante o CEO ao Jornal Económico.
Francisco Serzedello considera que a indústria está dividida em dois tipos de agências: as que são muito criativas, fazem os clientes sonharem, mas depois não conseguem entregar as ideias propostas, e as que são exímias na concretização, embora não primem pelas experiências marcantes ou originais. É preciso unir estes dois polos, porque “os portugueses gostam de ser surpreendidos”.
“Há 10, 20 ou 30 anos, o que importava era o catering. Se se comesse mal estava o evento estragado e o que acontecia dentro da sala depois das pessoas entrarem era quase da responsabilidade do cliente. Hoje é o contrário. Criamos ambientes cenográficos e estamos envolvidos no conceito e na passagem da mensagem”, afirmou o especialista em conferências e festas empresariais.
Entre os cerca de 230 clientes da GR8 estão nomes como Sonae, Lidl, Galp, EDP, Fidelidade, ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Altice ou Brisa. Para os mesmos, o departamento de tecnologia da GR8 desenvolve internamente as soluções digitais de streaming e ambiente personalizado consoante se trate de ações com clientes, parceiros, colaboradores ou team buildings.
“Temos uma app com funcionalidades para cada evento que vendemos como um serviço. Imagine que precisa de saber quando os seus convidados entram e onde ficarão sentados. Porém, alguma individualidade falta e é preciso alterar a mesa. A alteração é feita em tempo real”, exemplifica o CEO.
O percurso nesta área permitiu-lhe perceber que, hoje, grande parte do sucesso está na “interação (engagement)” com a audiência. É por essa razão que alguns webinars, que “só transmitem”, não funcionam. “Isso é televisão, que transmite para quem quiser ouvir e quem não quiser. Até acreditei que, quando houve esta revolução digital, as televisões evoluíssem para sistemas mais interativos, mas ainda não os temos. As novas gerações não querem ser espectadoras, querem participar no evento, sentir que fazem parte do que está a acontecer”, argumenta.
Depois de promover sessões de ativação de marca em Paris, Madrid ou Luanda e conquistar multinacionais, a GR8 antecipa que o segmento internacional represente mais de metade das suas receitas “num futuro próximo”. Para Francisco Serzedello, “Portugal está entre o melhor que se faz no mundo inteiro ao nível dos eventos”.
Até ao início de novembro a empresa contabilizou 278 eventos realizados. O volume de negócios começou nos 1,75 milhões de euros nos dez meses de operação de 2021, mais que duplicou para 3,84 milhões de euros no ano passando e fixou-se nos 4,5 milhões de euros até setembro. A perspetiva é terminar 2023 com 6 milhões de euros de faturação e mais dois talentos séniores, que se juntarão aos 36 funcionários.
Quanto às contas no verde, deixa a porta em aberto: “Desde o primeiro ano que temos resultados positivos, mas este ano os investimentos foram muito avultados, porque a Great está a preparar-se para o futuro”.
Eventolândia nascida na Covid-19
A GR8 Events é uma sociedade que remonta a meados de 2020 e lançou-se oficialmente ao mercado no início de 2021, tendo estado “sempre a trabalhar”. No próximo mês de janeiro, completa um ano desde que o grupo Cosmos adquiriu uma posição maioritária na empresa.
“Surgimos quando o encontro de pessoas e as viagens estavam proibidos. Foi um desafio, completamente em contraciclo, porque quase 99% das empresas estavam fechadas e nós resolvemos lançar uma com 14 pessoas e sem qualquer ajuda”, lembra o empresário com mais de três décadas de carreira.
Após uma análise de prévia, a GR8 percebeu que a lacuna observada correspondia à visão dos fundadores: era preciso uma aliança entre a criatividade e a execução com inovação tecnológica por trás.
“O sector dos eventos teve um boom gigante quando a pandemia se afastou do nosso vocabulário, tanto que nem os venues nem as empresas tinham capacidade de resposta. Entretanto, essa capacidade foi reposta e o que existe agora é um boom da procura internacional. As empresas portuguesas acabaram por retrair-se um bocadinho da loucura dos últimos anos e regressaram aos níveis normais”, conta.
Quão elevada, em termos quantitativos, é essa procura? “Esse é o grande busílis da questão. Nem as associações do sector têm esses valores, porque o Turismo de Portugal usa a métrica de camas em quarto de hotel, que é redutora quando não é só uma entidade a tratar daquele evento. A repercussão económica do evento fica-se apenas pelo número de quartos”, esclarece o gestor.