Tal como se perspectivava, Pedro Nuno Santos ganhou mesmo a liderança do partido, garantindo a eleição para secretário-geral a José Luís Carneiro com pouco mais de 24 mil votos, correspondentes a 62% nas eleições diretas que tiveram lugar entre sexta-feira e sábado
José Luís Carneiro foi o segundo mais votado, com 36%, e Daniel Adrião ficou em terceiro lugar, com 1%, anunciou o presidente da Comissão Organizadora do Congresso do PS, Pedro do Carmo, na sede nacional deste partido, em Lisboa.
O antigo líder da Juventude Socialista, homem dos bastidores no tempo do entendimento do PS com os partidos à sua esquerda (que permitiu aos socialistas governar com apoio parlamentar de bloquistas e comunistas e ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos chega agora à posição.
Uma vez eleito, e perante os socialistas que encheram o Largo de Rato, o novo líder dos socialistas não esperou muito para desferir um ataque ao PSD para dar o PS como um exemplo de estabilidade. Isto porque Pedro Nuno Santos é o nono líder da história dos socialistas e o PPD/PSD já teve 19 presidentes ao longo da sua história. “É essa que estabilidade que nos caracteriza que também projetamos para o país”, defendeu.
Em relação aos resultados das eleições diretas para o cargo de secretário-geral do PS, o novo líder dos socialistas cumprimentou "os camaradas" de partido que “foram circunstancialmente” seus adversários, José Luís Carneiro e Daniel Adrião, elogiando o contributo que deram para o debate interno.
“Contamos com eles para a unidade. No PS, fazemos confrontos internos, mas terminados ficamos unidos. Somos um partido inteiro. O PS sempre teve essa capacidade de se unir”, sustentou.
Soares, "o nosso maior" e "orgulho imenso em Costa
Na parte inicial da sua intervenção, o novo líder do PS também recebeu uma prolongada salva de palmas quando evocou Mário Soares, fundador e primeiro secretário-geral do PS, que em 2024 faria 100 anos, dizendo: “É o nosso maior”.
Além da questão da unidade interna, depois da referência a Mário Soares, afirmou ter “orgulho” no legado do primeiro-ministro, António Costa, referindo que esteve com a sua liderança “do primeiro até ao último dia”. Recebeu então uma prolongada salva de palmas por parte dos seus apoiantes. "Tenho muito orgulho, um orgulho imenso de ter estado com ele desde o primeiro até ao último dia".
E explicou que todo este orgulho no agora ex-líder do PS está relacionado com legado destes oito anos: "crescimento económico, emprego, aumento de salários e de pensões" . E quanto ao futuro? Pedro Nuno Santos garante que o PS contará sempre com Costa e que o ainda primeiro-ministro deverá sempre contar com o PS. Está aberta a porta para que António Costa se mantenha como um dos maiores ativos do PS: para a campanha para as legislativas e quem sabe para as europeias ou mesmo para as presidenciais.
Questionado sobre a sua relação futura com António Costa, Pedro Nuno Santos esclareceu que trocará impressões com o ex-líder do PS (acabaram por se reunir os dois este domingo no Largo do Rato) e defendeu de seguida que "não aproveitar a experiência, inteligência, a inteligência e a sagacidade" do ainda primeiro ministro "seria tonto" da sua parte.
PNS ao "centro"
A partir do momento em que contou com o apoio na primeira hora de Francisco Assis, adivinha-se um reposicionamento de Pedro Nuno Santos. Isso foi evidente nas entrevistas de campanha mas também no discurso de vitória e no teste do algodão chamado SNS. "Não está tudo bem no nosso SNS. Não está", reconheceu o novo líder dos socialistas que avisou que "a solução não é desistir dele, privatizar ou complementá-lo com o privado como dizem".
Logo de seguida, PNS defendeu que a sua candidatura não renega no entanto o papel de nenhum sector, de qualquer empresa privada e do sector privado da saúde". O objetivo, como defendeu, passa cuidar do SNS "público, universal e tendencialmente gratuito", uma conquistar que diz querer preservar.
"Um PS europeísta"
Num discurso em que pareceu em alguns momentos demarcar-se do seu posicionamento à esquerda (e mesmo da famosa frase de 2011 em que prometia pôr as pernas dos banqueiros alemães "a tremer", Pedro Nuno Santos teceu o elogio às "contas públicas certas" e a continuação da política de "baixar a dívida pública", algo que no seu entender resultou e que para "pasmo de alguns", permitiu ainda o "aumento de rendimentos e de pensões".
Apesar dessa estabilidade e da necessidade da mesma em ser protegida, Pedro Nuno Santos garantiu não querer "um país a arrastar" e que "faça acontecer" com "ambição e inconformismo". E lembrou que o PS é e será sempre "um partido europeísta": "Apesar das críticas, seremos sempre europeístas", garantiu.
E serão estas eleições um embate entre moderados e radicais? Pedro Nuno Santos recusou essa divisão para defender outra: "Portugal divide-se entre quem tem convicções e não tem. Não sou radical nem moderado, sou socialista, é um facto. Eu cá tenho convicções", terminou.