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EUA: tarifas também já servem para impor política de Israel em Gaza

O Canadá ainda não conseguiu fechar as negociações para um acordo comercial com os EUA:o seu recente posicionamento face a Israel está a bloquear o entendimento.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse esta quarta-feira que nada sabia sobre a intenção de vários países, nomeadamente Portugal, reconhecerem o Estado palestiniano, mas uma noite chegou para se inteirar do assunto e desde o dia seguinte que as negociações sobre tarifas com o Canadá ficaram bloqueadas. A um dia do prazo final para o acordo (1 de agosto), Trump disse que seria “muito difícil” chegar a um entendimento com o Canadá depois de o vizinho do Norte ter prestado público e repetido apoio à criação de um Estado palestiniano. Nesse contexto, são tarifa de 35% sobre todos os produtos canadianos não cobertos pelo acordo comercial EUA-México-Canadá (o antigo NAFTA) que estão em cima da mesa.
“Uau! O Canadá acaba de anunciar que apoia a criação de um Estado para a Palestina. Isso tornará muito difícil para nós fecharmos um acordo comercial com eles”, disse Trump na sua rede social. Antes disso, o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, já afirmara que as negociações podiam não ser concluídas dentro do prazo e que a sua remoção (pretendida pelo Canadá) é altamente improvável. O Canadá é o segundo maior parceiro comercial dos EUA (atrás do México), e o maior comprador de exportações norte-americanas. O país comprou 349,4 mil milhões de dólares em produtos norte-americanos no ano passado e exportou 412,7 mil milhões para os EUA.
O Canadá planeia reconhecer o Estado da Palestina na assembleia anual das Nações Unidas em setembro, anunciou Mark Carney esta quarta-feira, aumentando a pressão sobre Israel depois da assinatura por parte de 15 países de uma declaração que abre as portas a esse reconhecimento. Atualmente, 147 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas reconhecem oficialmente o Estado da Palestina – que é também membro observador permanente da ONU, o que lhe permite participar em reuniões e apresentar propostas, não tendo contudo direito de voto. Com os anúncios recentes de França, Reino Unido e Canadá de reconhecerem a Palestina, o contará com o apoio de quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas com apenas os Estados Unidos a destoarem. A declaração conjunta, divulgada após uma conferência internacional sobre a solução dos dois Estados, foi assinada por Portugal, França, Finlândia, Luxemburgo, Irlanda, Noruega, Islândia, Espanha, Andorra, Malta, San Marino, Eslovénia, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Entre estes países, Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovénia já reconheceram oficialmente a Palestina em 2024.
Carney disse que a realidade de Gaza significa que “a perspetiva de um Estado palestiniano está literalmente a desaparecer diante dos nossos olhos”. “O Canadá condena o facto de o governo israelita ter permitido que acontecesse uma catástrofe em Gaza”. E acrescentou que o reconhecimento se baseie em parte nas repetidas garantias da Autoridade Palestina, que representa o Estado da Palestina na ONU, de que está a reformar a sua governação e disponível para realizar eleições gerais em 2026, nas quais o Hamas “não poderá participar”.

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