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Estratégia de sustentabilidade nas empresas é "licença para operar”, diz Accenture

A consultora lançou uma nova edição do relatório interno de sustentabilidade, no qual demonstra que no ano passado doou 41.800 euros e fez 15.200 horas de trabalho 'pro bono', e reforçou o alerta às organizações de todos os sectores de atividade: "Não basta fazer o que o regulador obriga. Sem o filtro ESG estão condenadas ao insucesso".

A Accenture Portugal considera que a promoção de uma estratégia de sustentabilidade nas empresas significa atualmente uma “licença para operar”, que vai além das obrigações dos reguladores. Se as organizações mostrarem à sociedade a coerência entre essa visão e transparência nos resultados têm uma vantagem competitiva, crê a consultora.

“Se o meu produto não é sustentável eu não tenho acesso a crédito. Se não há transparência relativamente a dados do meu negócio para a sociedade, ele passou a não ser “limpo”, eu não tenho mercado, o meu produto não é passível de ter investimento e o meu cliente final – consumidor ou cliente - também não o quer, porque contamina negativamente a operação”, explicou ao Jornal Económico (JE) a diretora de Negócio Responsável (Responsible Business) da Accenture. “Não é fazer apenas o que o regulador obriga. A empresa que não incorporar essa estratégia está condenada ao insucesso”, alerta Patrícia Antunes.

Há cerca de três meses, a Accenture concluiu a aquisição da consultora brasileira Green Domus, ligada à indústria da sustentabilidade e experiente em apoiar empresários no planeamento e implementação de medidas mais amigas da sociedade e do ambiente há mais de duas décadas. O valor da operação não foi tornado público, mas sabe-se que o intuito é expandir os serviços de sustentabilidade da Accenture, através de uma equipa de profissionais (vindos da Green Domus) que criará planos de mitigação personalizados, soluções para recolher dados de carbono e relatórios de descarbonização.

Questionada sobre o negócio, Patrícia Antunes é pragmática: ainda é cedo para explicar as mudanças na organização. “Até que haja uma integração e uma incorporação do know-how, ainda demora algum tempo. Tipicamente, após estes negócios serem fechados, há muitas outras coisas a decorrer”, esclareceu, ressalvando que a área de M&A (Mergers & Acquisitions) é muito dinâmica na Accenture.

“Adquirimos empresas todos os anos e estamos permanentemente a trabalhar no sentido de permitir um ramp up acelerado em áreas, que não temos internamente, para garantir que conseguimos estar a par dos novos desenvolvimentos de mercado. Utilizamos IA para identificar tendências de futuro e caminhos para criarmos planos de formação e de aquisições. As aquisições são um ramp up muito mais elevado do que andar a pescar à linha os perfis de que precisamos”, defende.

Na prática, a sustentabilidade – que todos os anos é medida e exposta em relatório - é uma das chamadas “cinco forças impulsionadoras da mudança” nesta empresa, a par com: a revolução tecnológica (incorporação da tecnologia e o impacto que os dados e a IA têm em todos os negócios, processos de tomada de decisão e desenvolvimento de produtos e serviços), o talento (as empresas têm de captar e reter o melhor talento, incluindo reskill e upskill de recursos devido à necessidade de converter perfis) e o metaverso (atuação além do mundo real).

Há percentagens concretas e tópicos mensuráveis. A consultora atingiu os 100% de energia elétrica renovável nos escritórios, tendo reduzindo as emissões por colaborador em 85% de 2019 a 2022 – possivelmente, graças à pandemia – e mantendo o objetivo de chegar à neutralidade carbónica até 2025.

A quantidade de trabalho pro bono situa-se nas 11.300 horas e os donativos ultrapassaram os 75 mil euros, destinados a apoiar vários projetos sociais relacionados com a empregabilidade de pessoas mais vulneráveis, redução da exclusão digital ou resposta a desafios ambientais. Só no ano passado foram doados 41.800 euros e foram dadas 15.200 horas de consultoria gratuita.

“Eliminámos o plástico de uso único, estamos paulatinamente a fazer a transição para frota elétrica e híbrida e reduzimos drasticamente as viagens. É preciso haver um motivo de força maior para que a relação entre partes não aconteça no mundo digital. O trabalho remoto também trouxe benefícios grandes ao nível da qualidade de vida, do bem-estar, da produtividade de várias pessoas e da retenção de talento”, afirma Patrícia Antunes.

Em relação à concorrência na assessoria em ESG, a gestora da Accenture em Portugal garante: “Há espaço para todos no mercado”. “Nós temos uma atuação end-to-end. É parar e pensar: este projeto tem impacto ao nível dos direitos humanos? Há transparência no acesso aos produtos? Tem preocupações ambientais? Os dados recolhidos de forma ética e sem ser bias?”, detalha.