Vários promotores de energias renováveis defendem o lançamento do leilão eólico offshore até ao final do ano. Os promotores que falaram com o Jornal Económico formalizaram a sua manifestação de interesse no leilão e participaram na fase de diálogo que teve lugar em janeiro deste ano.
Por sua vez, o Governo não se quis comprometer com datas. "O Ministério do Ambiente e Energia encontra-se a analisar este dossier", respondeu fonte oficial da Rua do Século às questões colocadas pelo JE.
Segundo o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2030, o país deverá construir dois gigawatts de energia eólica offshore até 2030, com mais oito gigawatts a ser construída na década seguinte.
Para a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), o leilão deve ter lugar em duas fases, com a primeira a ter lugar este ano. "Se o modelo que for adoptado pela tutela for o modelo centralizado sequencial em que se faz primeiro a atribuição do TUPEM através de um procedimento concorrencial penso que esse leilão inicial poderia ser até ao final do ano", disse ao JE fonte da APREN.
A segunda fase "poderá ser feita entre 18 e 24 meses depois, para serem feitas todas as análises e estudos, e depois um procedimento concorrencial para a atribuição" do direto de injeção na rede elétrica (TRC) e também para a atribuição de um contrato por diferenças (CfD), segundo Pedro Amaral Jorge que prefere que o leilão seja realizado em duas fases: o primeiro este ano e o segundo em 2027, sendo depois necessário "entre nove meses a um ano para se fecharam os financiamentos e os investimentos para arrancar a construção".
O JE falou com várias empresas que defendem que o leilão deve ter lugar em 2024, como os alemães da RWE. "O Governo anterior teve muito trabalho a preparar a pré-qualificação e penso que o lançamento este ano enviaria os sinais certos ao mercado. O mercado precisa de um sinal de que a eólica offshore vai ter lugar em Portugal. Muito trabalho foi feito, Portugal tem muito potencial e agora é o momento de tirar vantagem de avançar primeiro", disse Álvaro de Miguel ao JE.
O gestor é um defensor do leilão realizado numa única fase: "permite obter um CfD só num leilão, o que é algo essencial para um projeto ser viável. Penso que os promotores pré-qualificados podem realizar estudos em conjunto e o vencedor reembolsaria depois os perdedores, assim não há dinheiro em risco para quem perder. Com o CfD na mão, o vencedor pode fechar acordos com a indústria e a cadeia de abastecimento. Nas duas fases, ganhamos o direito a usar o espaço marítimo, mas há incerteza sobre se vamos conseguir um CfD".
Já para Sergio Pinar, responsável de mercados de energia e regulação da Ocean Winds (consórcio EDP/Engie), a primeira fase do leilão deverá ter lugar este ano. "Espero que seja [lançado este ano]. Esperamos que a decisão final sobre o modelo seja anunciada brevemente, com os prazos, esperando que ainda este ano. Nas duas fases, fechamos as receitas mais tarde, depois de termos analisado a área. Temos dois anos para analisar e ficamos com toda a informação. Podemos licitar com mais precisão".
Por sua vez, o consórcio luso-hispânico Greenvolt/Bluefloat também defende que o leilão deve ser realizado ainda este ano. "Esperamos que o novo Governo pegue no que foi feito pelo anterior executivo e que continue o processo", disse Nailia Dindarova da Bluefloat ao JE à margem na conferência da APREN que teve lugar a 17 de abril em Lisboa.
A norueguesa Equinor, por seu turno, está disposta a aguardar. "A nossa mensagem é: não apressem as coisas para não perder a qualidade. O flutuante é mais complicado, mais arriscado. O Governo tem de depender mais do promotor. É preciso um equilíbrio. Este ano seria bom, mas preferimos ver um leilão com mais qualidade no próximo ano", disse ao JE Anne Marit Hansen, responsável ibérica da Equinor.