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Eleições disputadas em ano de regresso ao crescimento

A economia angolana deverá crescer mais de 5% este ano, deixando para trás um longo período de recessão, mas, em ano de eleições, os desafios continuam a ser o combate à pobreza, o desemprego e a diversificação da economia.

Depois de cinco anos consecutivos de recessão e de um 2021 de tímida recuperação, Angola vai a votos num ano em que a retoma económica se faz sentir de forma mais clara, com um crescimento estimado acima dos 5%, este ano, muito ajudado pela alta do preço do petróleo. No entanto, prevê-se que o ritmo de expansão baixe nos próximos anos, para um registo, inclusive, inferior à média prevista para os países da região e temas como a pobreza e o desemprego são relevantes na campanha eleitoral.

“O país acaba de sair de uma recessão, mas é um aspeto formal que ainda não produziu efeitos no plano social, nas condições básicas de vida da população. Portanto, a pobreza e o desemprego ainda alimentam muito o descontentamento que há em relação ao regime”, diz ao Jornal Económico (JE) Xavier de Figueiredo, partner do Africa Monitor, serviço de informação estratégica sobre assuntos africanos.

O Standard Bank projeta um crescimento médio anual de 2,5% da economia angolana, no período entre 2020 e 2025, considerando-o “um número muito fraco”, tendo em conta que a população cresce acima de 3% anualmente, totalizando mais de 32 milhões de pessoas. Assim, no ano passado, o crescimento económico terá sido de 0,7%, mas o rendimento per capita ter-se-á contraído 2,6%, segundo dados do Banco Africano de Desenvolvimento.

Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank para Angola, citado pela “Lusa”, considera que, apesar do crescimento anémico, “foram montadas bases muito sólidas para o país continuar a implementar reformas”, ainda que considere que Angola vai continuar a ser dependente do petróleo pelo menos durante os próximos dez anos.

Angola é um dos maiores produtores de petróleo de África e deverá ver o PIB petrolífero a crescer este ano, pela primeira vez desde 2015 – entre 1,6 e 2,1% segundo o Banco Fomento Angola –, fruto de novas fontes de produção em vários blocos petrolíferos, mas também dos preços elevados do crude e da vontade de os países europeus diversificarem as fontes energéticas e em que o gás natural terá um papel (ver texto nestas páginas). É um fator importante, quando o sector é responsável por pouco menos de um terço do produto interno bruto (PIB) e representa quase 90% das exportações.

Para Xavier Figueiredo, ainda há muito caminho a fazer no caminho da diversificação da economia. “A única maneira é através do capital estrangeiro, e das pequenas e médias empresas, e para isso é preciso captar investidores”, afirma. Assim, são necessárias reformas na justiça, pois a mesma “é muito condicionada pelo poder político, o que faz com que em relação a litígios escolha sempre a favor do Governo”. Ademais, “subsistem leis que reservam um papel importante para o Estado”. Persiste ainda “o problema da falta de infraestruturas, de energia, água” e da rodovia degradada, mas acima de tudo, na sua opinião, é preciso reformar a educação, que é “grande calcanhar de Aquiles de Angola”, sobretudo, por falta de professores e deficiências de organização”.

“Estes temas não entram muito para o debate político”, havendo preferência pelas desavenças políticas entre a histórica rivalidade entre a UNITA, encabeçada por Adalberto Costa Júnior, e o MPLA, partido que está no poder desde a independência, em 1975, e vencedor de todas as eleições gerais desde 1992, liderado pelo atual Presidente da República, João Lourenço. “Nos comícios prevalece o ataque pessoal e político”, aponta Figueiredo.

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