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EDP Renováveis não teme mudança de política com eleição de Donald Trump

EDPR diz estar tranquila com o regresso de Donald Trump ao poder, argumentando que o sector das renováveis depende dos estados e não de Washington. Primeiro mandato de Trump não teve impacto no sector das energias renováveis, mas vários analistas receiam agora que o republicano ataque medidas 'verdes' aprovadas por Joe Biden quando chegar à Casa Branca.

A 9 e 10 de novembro de 2016, a EDP e a EDP Renováveis (EDPR) desvalorizaram quase 1.500 milhões de euros na bolsa de Lisboa. Os investidores reagiram de forma muito negativa à vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, com receios de que o republicano viesse a atacar as energias renováveis.

Nos meses que antecederam as eleições, o então presidente da EDP Renováveis, João Manso Neto, tentava acalmar os analistas e investidores apontando que o caminho das energias renováveis nos EUA não dependia da Casa Branca.

O tempo deu-lhe razão. O mandato de quatro anos de Donald Trump entre 2016 e 2020 não provocou o desacelerar do investimento na energia verde.

Pelo meio, houve uma OPA lançada pela China Three Gorges (CTG) sobre a EDP. Com a tensão Washington-Pequim em máximos históricos, a operação estava condenada ao insucesso à nascença.

Uma entrevista do então embaixador dos EUA em Lisboa ao Jornal Económico foi a machadada final na ambição chinesa: "Opomo-nos absolutamente a esse negócio. Ora, a EDP está localizada nos Estados Unidos. Em nenhuma circunstância os chineses vão controlar o que a EDP tem nos Estados Unidos, o terceiro maior produtor de energia renovável", disse George Glass na entrevista publicada no JE a 15 de março de 2019. Mais. Ameaçava desmantelar a EDP nos EUA, se a CTG tentasse prosseguir a operação. O que nunca aconteceu. O óbito da OPA foi declarado a 15 de março de 2019.

Cinco anos depois, com o mandato de Joe Biden a aproximar-se do fim, e com o democrata a sair de cena para dar lugar a Kamala Harris, Donald Trump está de volta e as dúvidas dos investidores regressaram.

"O crescimento das energias renováveis nos EUA tem sido conduzido pelos estados. Não é preciso menhuma licença federal", começou por dizer o presidente-executivo da EDPR na sexta-feira numa chamada com analistas.

Sobre se o programa de fomento IRA, lançado por Joe Biden, está em risco, o gestor recusa essa hipótese. "Não é o caso, o consenso no mercado é que o IRA" não sofrerá alterações, salientando que os créditos fiscais ao investimento e produção (ITC e PTC) têm sido "bipartidários".

"Temos um pipeline forte. As grandes tecnológicas querem construir centros de dados. Temos muito conforto. Vai haver uma forte procura. Mesmo que seja a administração Trump, a procura vai estar lá", assegurou.

O gestor destacou que a companhia atua em mais mercados além dos EUA. "Temos um grande portefólio, muitas geografias e oportunidades. As melhores oportunidades em termos de risco e retorno. Construímos um pipeline forte. Não estamos preocupados com as eleições nos EUA. Continuamos a ver muita procura e muitas oportunidades em todo o mundo".

Um bilião de investimentos verdes em risco

Apesar das perspectivas mais otimistas, há analistas que estão a deixar alertas sobre os riscos que Donald Trump representa para os investimentos verdes nos EUA.

A consultora Wood Mackenzie acredita que a vitória de Donald Trump vai colocar em risco um bilião de dólares de investimentos em energia e apoio às energias renováveis.

A consultora acredita que Trump na Casa Branca vai colocar em práticas medidas que reduzem os apoios à energia renovável, à compra de carros elétricos e a tecnologias de captura de carbono. O objetivo? Promover a produção de combustíveis fósseis.

Por seu turno, um estudo da Bloomberg Intelligence (BI) aponta que Donald Trump poderá colocar em causa o programa IRA, criado pela administração Biden.

Dos 433 mil milhões de dólares em apoios, empréstimos e créditos fiscais, uma fatia significatica de 370 mil milhões poderá estar em risco.

"Uma vitória de Trump poderá ameaçar o crescimento estimulado pelo IRA, especialmente no sector da energia verde. Apesar de um cancelamento total ser improvável, podem estar na calha cortes aos incentivos fiscais", disse a BI.

Outra das dúvidas é sobre a energia eólica offshore. "Uma administração Trump seria negativa para a indústria eólica offshore. A questão é até que ponto. Estamos a ver linguagem de Trump que sugere uma resposta mais retaliatória", disse em maio à "Bloomberg" Timothy Fox, da empresa de research ClearView Energy Partners.

O candidato republicano disse este ano num evento privado de angariação de fundos no estado da Florida que odeia centrais eólicas, segundo a "Bloomberg".

Já o líder da associação sectorial American Clean Power Association Jason Ryan disse que a "energia limpa é uma parte significante, em crescimento e permanente da economia norte-americana. O desenvolvimento de energia eólica, em particular, está a promover uma cadeia de abastecimento doméstica, incluindo a construção de navios e a promover o crescimento económico em comunidades costeiras".

EDPR está a comprar mais a fornecedores americanos

Na apresentação aos analistas, Miguel Stilwell d'Andrade destacou que a "energia eólica e solar estão isoladas do risco político nos EUA" e que os créditos fiscais têm sido extendidos no passado, mesmo com administrações republicanas.

Outro argumento, é que existe um apoio bipartidário à produção local e abastecimento de energia doméstico, salientando que 80% dos investimentos domésticos de produção foram atribuídos em distritos republicanos.

O gestor apontou que a empresa tem aplicado uma estratégia de compra de material a fornecedores de forma a "evitar riscos" e problemas com o  Uyghur Forced Labor Prevention Act (UFLPA), que visa a proibição de importação de produtos fabricados na província de Xinjiang, no oeste da China, para tentar proteger a minoria muçulmana Uigur de ser usada para trabalho forçado por certas empresas, exigindo às empresas chinesas provas que não produzem nesta região.

Recorde-se que em 2023 a empresa teve de adiar a entrada em operação de quase um gigawatt de energia solar nos EUA, por dificuldades dos seus fornecedores chineses de painéis em fazerem entrar os seus equipamentos no mercado norte-americano, devido a esta legislação.

A EDP diz agora que está a recorrer mais à produção de companhias americanas. Para este ano, diz que já tem todo o equipamento solar nos locais dos projetos. Para 2025, diz que já tem 100% dos produtos assegurados, sendo produzidos nos EUA.

Lucros da EDP Renováveis disparam 163% no primeiro semestre

Os lucros da EDP Renováveis dispararam 163% para 210 milhões de euros no primeiro semestre, face a período homólogo, anunciou a companhia na sexta-feira.

Já o resultado líquido recorrente subiu 106% para 210 milhões de euros,  "refletindo a  recuperação do desempenho operacional e os ganhos de rotação de ativos, apesar da subida de €64M dos custos financeiros".

A impactar negativamente, estão 46 milhões de euros relacionados com um projeto em desenvolvimento na Colômbia.

O EBITDA recorrente subiu 26% para 860 milhões, incluindo 171 milhões de ganhos com rotação de ativos. O aumento da produção de eletricidade em 5% também contribuiu à boleia da subida de 15% na produção nos EUA.

Os preços médios de venda estabilizaram nos "61 euros/MWh, em resultado da subida de preço médio nos EUA, e redução de preços na Europa, mitigada
pelo impacto positivo da estratégia de coberturas assim como a melhoria do rácio de Core Opex por MW médio em -8%".

Durante este período, as vendas de eletricidade subiram 5% para 1.145 milhões de euros, com esta métrica a ser impactada pela "recuperação na geração
(+5%vs.1S23), com forte contribuição da América do Norte e um preço médio realizado estável quando comparado com o período homólogo".

As receitas desceram 1% para 1.209 milhões de euros, com o aumento das vendas de eletricidade a ser neutralizada pelo impacto de 34 milhões de euros na Colômbia ou de 26 milhões na Roménia.

Outros rendimentos operacionais aumentaram para 248 milhões de euros, impulsionado pela "forte execução da rotação de ativos contabilizando 171 milhões de ganhos de rotação de ativos nos EUA, Canadá e Itália".

Os resultados financeiros atingiram os 223 milhões (mais 64 milhões), "principalmente impulsionados pelo aumento da dívida financeira nominal, apesar do menor custo médio da dívida".

Por sua vez, o investimento líquido de expansão subiu 3% para mais de 1.800 milhões, com 2.300 milhões de Capex de Expansão.

A dívida líquida subiu 1.700 milhões para 7.500 milhões de euros "refletindo os investimentos de caixa feitos no período, com mais rotação de ativos e rendimentos de Tax Equity esperados para o final do ano, compensando a evolução dos investimentos a ser realizados durante o ano".