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Distribuição absorve IVA de dois terços dos bens essenciais

Com o fim do IVA zero, o preço de 14 dos 41 produtos alimentares essenciais subiu acima dos 6%, com os aumentos mais expressivo a registar-se no iogurte líquido, óleo alimentar e atum posta em azeite, conclui a Deco Proteste. Nos restantes bens, supermercados e retalhistas absorveram, por agora, a subida do preço.

O fim do IVA zero já se está a fazer sentir no bolso dos portugueses. Desde o final da semana passada que terminou esta medida adotada pelo Governo há alguns meses para mitigar os efeitos da inflação e apoiar as famílias. Segundo uma análise da Deco Proteste, os preços subiram mais de 6% em alguns bens, mas o aumento parece ter sido, por agora, absorvido pelos supermercados e retalhistas em dois terços dos produtos do cabaz alimentar essencial. 

Entre 4 de janeiro e 8 de janeiro, o aumento médio dos 41 produtos foi de 5,29%, totalizando 7,51 euros e subindo o custo médio do cabaz de 141,97 euros para 149,48 euros, respetivamente, conclui a Deco Proteste. Isto depois de o cabaz ter aumentado quase seis euros na primeira semana de 2024 - ainda com o IVA zero em vigor -, alcançando o valor mais elevado dos últimos dois anos. 

Com o fim desta medida, que levou os produtos a regressarem à taxa de 6% de IVA, à exceção do óleo alimentar que passou para 13%, a associação para a defesa do consumidor aponta que o preço que mais subiu foi o do iogurte líquido. O custo aumentou 52 cêntimos numa embalagem de quatro iogurtes, para 2,54 euros, seguido pelo óleo alimentar e atum posta em azeite.

Também o preço da pescada fresca aumentou mais de um euro entre 4 e 8 de janeiro. Um quilo deste peixe passou a custar 12,93 euros. Na carne, foi a perna de peru que mais subiu (26 cêntimos) desde que o IVA voltou a ser cobrado. 

De acordo com a Deco Proteste, os preços dos 41 produtos essenciais que faziam parte do cabaz alimentar essencial aumentaram acima dos 6% em 14 produtos, sendo que os supermercados e as retalhistas aumentaram os preços abaixo do imposto nos restantes bens, à exceção de dois em que o preço baixou. 

Isto significa, segundo Rita Rodrigues, diretora de comunicação da Deco Proteste, que “poderá ter havido uma tentativa de mitigação do impacto imediato da reintrodução do IVA através de promoções em produtos abrangidos pela isenção. Essa prática pode ter contribuído para minimizar o impacto inicial sentido pelos consumidores”. 

No entanto, alerta, ainda é “possível que, especialmente no primeiro dia da reintrodução do IVA, tenha havido algum atraso na atualização dos preços afixados”. 

Preços ainda podem subir mais

Do lado das distribuidoras, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) disse, em entrevista ao Jornal Económico na semana passada, prever que o fim do IVA zero se reflita nos bolsos dos consumidores até ao final de janeiro, período em que os produtos vão ser alvo de novas tabelas de preços e que entram no mercado na segunda metade deste mês. 

“O aumento dos preços deverá sentir-se no final de janeiro. Desde logo são mais 6% de imediato que teremos de refletir no preço final e entregar ao Estado esse valor. Acresce que estamos ainda a enfrentar alguma pressão nas matérias-primas, que estão claramente inflacionadas, como, por exemplo, os cereais que tem consequências na produção de carne, leite e ovos devido às rações e no preço do pão”, disse ao JE Gonçalo Lobo Xavier.

Além da pressão nas matérias-primas, o diretor-geral da APED salientou ainda que o preço final de muitos bens alimentares poderá ainda vir a refletir o aumento de outros custos que recaem sobre as empresas. “Estamos a entrar em 2024 com um aumento significativo do salário mínimo, que terá implicações no salário médio de outros trabalhadores, e também com aumentos nas portagens e nos transportes, que naturalmente reflete-se em toda a cadeia de valor e no preço final dos produtos”, referiu, concluindo que o consumidores vão sentir os orçamentos “mais pressionados” com maiores gastos na compra de bens alimentares.

É preciso alargar os apoios sociais

É perante esta maior pressão que a Deco também já pediu que haja um alargamento da medida de apoio adotada após o fim do IVA zero para as famílias portuguesas. “Temos algumas dúvidas” de que o reforço das prestações sociais “seja suficiente” para apoiar quem mais precisa, salientou ao NOVO Natália Nunes, coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco.

“É verdade que a medida do IVA zero era transversal. E sabemos que as medidas devem ser mais direcionadas para quem mais necessita. Agora, não são só as famílias que estão verdadeiramente numa situação de vulnerabilidade económica, as pessoas que recebem as prestações sociais, que recebem abono social, que neste momento necessitam de alguma ajuda”, disse, defendendo que o “apoio devia ser mais alargado”, numa altura em que, além da alimentação, a habitação representa um grande encargo para as famílias.