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Da "obscuridão" ao "negócio estranho": O que dizem os partidos sobre a compra de ações dos CTT pela Parpública

Partidos da direita querem explicações sobre todo o processo e consideram grave a utilização da Parpública no negócio, enquanto a esquerda rejeita responsabilidades ou benefícios políticos.

A compra de ações dos CTT por parte da Parpública entre 2020 e 2021, por ordem do Governo mantendo atualmente uma participação não-qualificada no capital da empresa que gere o serviço universal de correios, mas que nunca foi divulgada está a gerar discórdia entre os partidos políticos. A compra das ações dos CTT teve lugar numa altura em que o governo liderado por António Costa procurava assegurar o apoio do Bloco de Esquerda para aprovar o Orçamento do Estado para 2021, o último da “geringonça”.

No lado da direita, o Partido Social Democrata, pela voz do deputado Hugo Soares, considera que a decisão está "envolta em grande nublosa e grande obscuridão”, e pede explicações. “O PSD exige saber a razão da Parpública não ter dado nota destas participações e aquisições nos relatórios anuais como faz relativamente a outras aquisições”, realça.

Em conferência de imprensa, o deputado pediu ainda que Pedro Nuno Santos, atual secretário-geral do PS e candidato à liderança do Governo, venha a público explicar as razões que levaram à decisão. “Pedro Nuno Santos brincou aos aviões e quis brincar aos correios”, atirou Hugo Soares, referindo-se a toda a situação que envolveu o ex-ministro das Infraestruturas, bem como o resgate milionário de Bruxelas.

Para o deputado do PSD  mais importante do que saber porque escondeu, é perceber a razão do Governo ter ordenado a Parpública a adquirir estas participações. "O que diz o despacho das Finanças? É importante saber se o ministro que tutelava o sector deu instruções às Finanças, como a lei prevê [despacho conjunto], pudesse ser feita”, adiantou. Hugo Soares acusou ainda António Costa de estar a usar o poder para “fazer campanha eleitoral”. “O primeiro-ministro que se demitiu, sabe que vai haver eleições, mas anda em campanha eleitoral e usa o Governo de Portugal a favor do PS”, atirou.

Por sua vez, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, considerou “grave” a utilização da Parpública como “instrumento político”, pedindo também esclarecimentos ao Partido Socialista. "A possibilidade da Parpública ser usada como instrumento político e de determinar as suas ações para agradar a determinados partidos políticos ou promover determinadas soluções politicas é uma situação grave independentemente daquele que seja o valor da participação realmente comprada", afirmou aos jornalistas no Parlamento.

O líder da IL deixa ainda criticas ao Governo por ter dado instruções à Parpública para adquirir uma participação nos CTT "por pressão do Bloco de Esquerda", acrescentando que é importante saber que papel teve Pedro Nuno Santos nesta operação e se a considera transparente e minimamente vantajosa para os portugueses. “Que outras decisões similares foram tomadas por pressão do Bloco de Esquerda ou do PCP, com prejuízo direto para os interesses dos contribuintes e como estratégia de manutenção do PS no poder?”, questionou Rui Rocha.

Já André Ventura,  líder do Chega, afirmou que o processo da compra das ações dos CTT “é um negócio estranho, onde tudo aparenta haver aqui suspeições de influência política externa e desnecessária e injustificada para a realização do negócio, e era importante que Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua explicassem essa interferência”.

Para André Ventura é importante compreender, se houve interferência política por parte do PS, cujo ministro das comunicações era Pedro Nuno Santos, bem como perceber se o Bloco de Esquerda, na altura liderado por Catarina Martins, teve ou não influencia na chantagem sobre o Governo para a compra de ações através da Parpública dos CTT, como moeda de troca do Orçamento do Estado.

“É importante perceber porque é que o Estado português decidiu gastar dinheiro daquela forma naquele momento, quando já se sabia que o modelo de gestão dos correios estava em mudança e este seria, com grande probabilidade, dinheiro perdido”, sublinhou o líder do Chega.

Esquerda rejeita responsabilidades ou benefícios políticos

O líder do PS e antigo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, recusou comentar a compra de ações dos CTT pela Parpública, em 2021, recusando qualquer ligação a essa operação tornada pública pelo Jornal Económico (JE) na passada segunda-feira, 1 de janeiro. “Não tenho nada para dizer. Não foi uma operação que tenha sido conduzida por mim ou sob “ordem” minha”, disse Pedro Nuno Santos ao JE.

No lado dos bloquistas, o líder parlamentar Pedro Filipe Soares afirma ser "absolutamente falso que o Bloco de Esquerda tivesse negociado quaisquer compras de ações minoritárias nos CTT com o Governo do PS em troca do voto para o Orçamento do Estado para 2021", considerando que "não faz sentido nenhum essa insinuação, essa mentira ser propalada, porque ela não tem qualquer adesão à realidade".

Pedro Filipe Soares criticou o PSD, mas sobretudo o Chega pelas declarações que fizeram sobre esta matéria, dizendo que “é público que o Chega tem entre os seus financiadores elementos da família Champalimaud, atuais acionistas dos CTT” e acusando o partido liderado por André Ventura de “propalar uma informação falsa para tirar dividendos políticos e até dividendos para esses acionistas privados”.

Quanto à posição do BE sobre os CTT, reiterou que o partido sempre defende publicamente que deve ser “uma empresa nacional, do Estado, com participação completamente pública” e referiu que “denunciou a descapitalização da empresa feita pelos privados e o incumprimento do contrato de concessão”.

“Partir daí e dizer que daríamos aceitação para uma compra minoritária da empresa, feita pela calada da noite, é de facto não conhecer nem a posição do BE, nem o que defendemos para a empresa, que não é o benefício aos privados pelo mal que estavam a fazer à empresa, que foi isso que o Governo esteve a fazer”, argumentou.