O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem qualidade, mas os constrangimentos que persistem têm levado cada vez mais portugueses a procurarem cuidados de saúde privados através da contratação de seguros. Mais de metade da população residente já tem um seguro, plano ou subsistema de saúde, mas nem todas as famílias têm capacidade financeira para pagar estas proteções, com o preço dos seguros de saúde a poder ser um travão, admite Eduardo Consiglieri Pedroso, membro da comissão executiva do grupo Ageas Portugal.
Num estudo sobre a saúde dos portugueses, divulgado pela Médis, do grupo Ageas Portugal, é revelado que “apesar dos desafios enfrentados pelo SNS, 53% dos portugueses dizem-se satisfeitos com a qualidade da saúde em Portugal. Esta perceção positiva demonstra a importância do SNS na vida dos cidadãos e a sua capacidade de garantir cuidados de saúde satisfatórios para uma parte significativa da população”, afirma o administrador executivo da seguradora ao Jornal Económico, notando, porém, que “existem alguns constrangimentos no acesso a estes cuidados, que impactam negativamente a saúde de muitos portugueses, especialmente no que toca à desigualdade regional”.
Estas dificuldades têm vindo a mudar o panorama da saúde em Portugal. De acordo com Eduardo Consiglieri Pedroso, a “percentagem de portugueses que depende exclusivamente do SNS caiu de 36% em 2021 para 25% em 2024. Este movimento, aliado ao crescente interesse por seguros e planos de saúde, aponta para um provável aumento na percentagem da população com cobertura adicional de saúde”. Os dados do Observatório dos Seguros de Saúde mostram que 55% da população tem seguro, plano ou subsistema de saúde. Em 2023, havia 1,8 milhões de pessoas com apólices individuais e 2,1 milhões com seguros de empresa.
“A perceção de que o SNS enfrenta desafios, nomeadamente no que toca à rapidez no acesso a cuidados de saúde, e a crescente preocupação com a saúde e bem-estar, impulsionada principalmente pelos jovens, são fatores que podem explicar esta tendência” de contratação de seguros de saúde, refere o administrador da Ageas Portugal. No entanto, o estudo que contou com 1.056 pessoas mostra também que “43% dos inquiridos afirmam não ter capacidade financeira para lidar com problemas de saúde”, afirma.
“Este dado levanta a questão se o preço dos seguros de saúde se torna proibitivo para uma parte significativa da população, limitando o acesso a cuidados de saúde complementares”, remata. De acordo com dados da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), o preço médio mensal pago por casa seguro individual de saúde ascendeu a 33,80 euros no primeiro semestre deste ano. Nas apólices de grupo, ou seja, contratadas pelas empresas, o valor era de 32,50 euros.
Quando questionado sobre se a resposta das seguradoras a esta realidade deverá passar por oferecer seguros low cost, Eduardo Consiglieri Pedroso, diz acreditar “que os operadores adequarão as suas respostas às necessidades do mercado e que farão uma reflexão profunda quando for o momento”, sendo também necessário “aprofundar as razões por detrás da menor procura por parte dos seniores, um grupo etário com maiores necessidades de cuidados de saúde”.