O projeto da refinaria de lítio para Setúbal viu o seu custo previsto subir de 700 milhões, estimado em 2022, para um valor entre os 1.100 e os 1.300 milhões de euros.
A Unidade Industrial de Conversão de Lítio (UICLi) está a ser desenvolvida pelo consórcio Aurora Lithium, da Galp e dos suecos da Northvolt.
A entrada em operação está prevista agora para 2028, dois anos mais tarde do que o inicialmente previsto. O projeto ainda aguarda pela decisão final de investimento pelos promotores. Por ano, vai sair daqui o lítio suficiente para equipar as baterias de 650 mil automóveis.
O BEI está a avaliar investir 825 milhões de euros nesta unidade, que será a maior da Europa quando for inaugurada.
O estudo de impacte ambiental (EIA) encontra-se em consulta pública até 24 de outubro.
Em termos de postos de trabalho, o promotor prevê a criação de 357 postos de trabalho diretos e três mil indiretos, "dos quais 70% altamente qualificados, assim como a nível nacional, pela promoção do crescimento sustentado da cadeia de valor das baterias de lítio em Portugal, através da produção de um produto que atualmente não integra a base produtiva do país", segundo o documento.
Questionada pelo JE, a Galp explica a entrada em operação do projeto em 2028: “ O aumento do valor do investimento, atualmente estimado entre 1,1 e 1,3 mil milhões de euros, resulta do reforço da complexidade do projeto devido a um esforço de melhoria de processos de engenharia e de performance nas áreas ambiental –utilização integral de águas residuais, redução de emissões, componente de utilização de energias renováveis, etc. – e económica, e do aumento da sua capacidade das 28 para as 32 mtpa”.
Sobre a data em que podem tomar decisão final sobre o projeto, a companhia portuguesa afirma: “a Galp e a Northvolt continuam empenhadas na execução do projeto Aurora. No entanto, devido à natureza e complexidade do projeto, continuam a ser desenvolvidas ações (incluindo acesso a fundos nacionais ou europeus que nos permitam competir com outros projetos e que ainda não estão garantidos) e os estudos indispensáveis para a tomada de decisão final de investimento. É também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal”
No EIA pode-se ler que a refinaria tem uma vida útil prevista de 25 anos, com o objetivo de produzir anualmente 32 mil toneladas de hidróxido de lítio monoidratado, "utilizável para a fabricação do cátodo de baterias elétricas e podendo vir a ser usado tanto no mercado nacional como no internacional, estando, por isso, alinhado com a estratégia nacional para a transição energética, por via do seu contributo para o alcance das metas estabelecidas, através da produção de um material que permitirá a substituição gradual de veículos com motores a combustão por veículos elétricos".
A companhia prevê o uso de lítio extraído em Portugal. "Como principal matéria-prima será usado concentrado de espodumena, obtido a partir de explorações em território português e/ou noutras fontes de minério existentes à escala global. Prevê-se ainda a utilização de sulfato de lítio ou carbonato de lítio, com Li equivalente a 8 t/h de espodumena, como matérias-primas intermédias, com objetivo de otimizar a capacidade de produção".
Os promotores detalham que esta unidade, "como indústria de transformação química, utilizará como matéria-prima o concentrado de espodumena, proveniente da mineração de lítio, para obter como produto final o hidróxido de lítio monoidratado, utilizado para a fabricação do cátodo de baterias elétricas. É de referir, contudo, que, considerando as tendências do mercado, existe a possibilidade de a UICLi vir a utilizar também como matéria-prima outros produtos intermédios de lítio que resultam de tratamentos a montante na cadeia de valor (ex.: sulfato de lítio e carbonato de lítio technical grade)".
Esta unidade vai também ter muito 'apetite': o consumo anual de eletricidade vai superar os 397 GWh, com o de gás natural a superar os 17,,6 milhões de m3 de gás natural e mais de 142 mil m3 de água, "para uso industrial, com origem em água residual tratada (ApR) a fornecer pela SIMARSUL".
Em termos de localização, foram analisados oito locais em Portugal, e um em Espanha. A escolha recaiu sobre Setúbal, no parque industrial Sapec Bay devido à "melhor ponderação entre a capacidade logística do parque industrial, a disponibilidade de serviços, a possibilidade de simbioses industriais e, a nível de impacte ambiental, o que melhor perspetivava uma aposta na circularidade".
Este projeto foi reconhecido como Projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN).
Impactos positivos e negativos
Analisando os impactos ambientais, o promotor começa por dizer que o projeto foi vai ao encontro dos objetivos do PNEC 2030 "na ótica da redução da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE), uma vez que irá produzir hidróxido de lítio monoidratado (HLM), constituinte das baterias de lítio, contribuindo para suportar a transição energética e a progressiva substituição de veículos com motores a combustão por veículos elétricos".
"Em síntese, em termos de avaliação global de impactes, registam-se efeitos desfavoráveis, mitigáveis e classificados geralmente como “pouco significativos”, e por vezes até como “sem significância” nos diversos fatores ambientais avaliados. Destacam-se, pela negativa, os impactes negativos identificados no âmbito da Componente Social, classificados como muito significativos, nomeadamente a “afetação negativa de atividades económicas” e a “adaptação psicossocial da população com atitudes muito negativas face à UICLi”. No entanto, em termos de impactes residuais, ou seja, os que se mantêm após a aplicação das medidas de minimização, apenas na fase de construção subsistem impactes negativos muito significativos no Património Cultural (afetação de um sítio arqueológico– OIP Sapec 3– encontrada nos trabalhos de prospeção realizados) ou significativos, na Componente Social e associados à deslocação de trabalhadores e materiais durante a obra. Na fase de exploração, todos os impactes residuais são positivos e significativos e dizem respeito aos Recursos Hídricos e à Componente Social".
Em termos de impactes positivos, o documento destaca os "socioeconómicos associados, na fase de construção, à utilização de mão-de-obra local e à atração de trabalhadores para o local da obra. Na fase de exploração, referem-se, como impactes positivos, a criação de riqueza, a dinamização económica do concelho e da região e a promoção de emprego, nomeadamente através da atratividade económica do concelho e daempregabilidade no sector da indústria transformadora. Na fase de exploração, salienta-se ainda a utilização de Água para Reutilização (ApR) que contribui para a circularidade do projeto, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos pelo facto de o projeto não ter de recorrer a captações de água no meio natural. Ao nível nacional, a promoção do crescimento da cadeia de valor das baterias de lítio e um circuito gerador de empregos".
Consumos previstos
- Consumo de água potável da rede pública – 16.562m3
- Consumo de ApR para uso industrial – 142.272m3
- Consumo de energia elétrica - 397,2 GWh/ano
- Consumo de gás natural - 17.647.276m3
A companhia diz que vai assegurar que "toda a energia utilizada na unidade industrial será 100% de fontes renováveis, quer pela aquisição da mesma com garantias de origem dos comercializadores, quer pela promoção de projetos de renováveis nas imediações".
Refinaria de lítio de Setúbal derrapa dois anos
A refinaria de lítio prevista para Setúbal está atrasada dois anos. A revelação surge num documento do Banco Europeu de Investimento (BEI) datado de março e revelado esta semana pelo “Sifted”.
Assim, o projeto Aurora da Galp e dos suecos da Northvolt só deverá entrar em operação em 2028.
Quando foi anunciado em 2022, o consórcio anuncio que o “início das operações deverá ocorrer até ao final de 2025 e o início das operações comerciais está previsto para 2026”.
O BEI está a avaliar investir 825 milhões de euros nesta unidade, que será a maior da Europa quando for inaugurada.
As duas empresas anunciaram o consórcio em 2021, com o objetivo de produzir 32 mil toneladas por ano de hidróxido de lítio, o suficiente para equipar baterias para 650 mil automóveis, por ano.
Contactada pelo Jornal Económico, a Galp/Northvolt disseram que “continuam empenhadas na execução do projeto Aurora”.
“No entanto, devido à natureza e complexidade do projeto, continuam a ser desenvolvidas ações (incluindo acesso a fundos nacionais ou europeus que nos permitam competir com outros projetos e que ainda não estão garantidos) e os estudos indispensáveis para a tomada de decisão final de investimento, o que determinou o atraso na execução do projeto. É também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal”, segundo o comunicado.
BMW cancela contrato de dois mil milhões com Northvolt
Em junho, foi revelado que a BMW cancelou um contrato no valor de dois mil milhões de euros em baterias para os seus veículos elétricos.
A companhia sueca Northvolt – co-fundada por Paolo Cerruti (na foto) – não conseguiu cumprir os prazos de entrega das baterias, segundo avançou a “Reuters” na altura, citando a imprensa alemã.
Esta semana também foi notícia na Suécia que a empresa estava a rever planos para a construção de uma gigafábrica de baterias no país escandinavo com a capacidade para produzir 100 gigawatt-horas (GWh) de baterias, e empregar até mil trabalhadores.
O objetivo inicial seria arrancar com as operações no final de 2024, contando com uma carteira de encomendas na ordem dos 50 mil milhões de dólares.
A empresa tem uma fábrica em funcionamento no norte da Suécia, uma em construção na Alemanha e tem um projeto para uma fábrica no Canadá.
Em Portugal, a Northvolt tem um projeto para construir uma refinaria de lítio em conjunto com a Galp, o consórcio Aurora.
A unidade industrial vai ficar localizada no Parque Industrial Sapec Bay e implica um investimento de 700 milhões de euros e a criação de 200 postos de trabalho diretos. Ao abrigo do acordo, a Northvolt fica obrigada a comprar 50% da produção anual desta refinaria.
O projeto Aurora vai ter capacidade para produzir o hidróxido de lítio suficiente para equipar 700 mil veículos elétricos, numa capacidade de produção inicial entre 28 mil a 35 mil toneladas de hidróxido de lítio, material essencial para produzir baterias de ião-lítio. Inicialmente, o consórcio luso-sueco tinha ideias de arrancar com a operação até ao final de 2025.