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Conselho Europeu. O que falta para António Costa ser indigitado presidente?

No final da primeira reunião presencial entre os Estados-membros, o impasse continua e António Costa ainda não é presidente do Conselho Europeu. Talvez mais para o final do mês. Talvez só por meio mandato.

Que aconteceu na reunião presencial (e informal) para debater o tema?

Foi o primeiro encontro físico entre líderes, desde as eleições europeias, e a esperança era que os 27 chegassem a um acordo sobre quem iria ocupar a presidência da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e o cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros. Mas o ainda presidente do Conselho, o belga Charles Michel, alertou atempadamente que "não havia acordo", insistindo que os líderes reconheciam o seu "dever" de chegar a uma decisão até o final de junho – há uma cimeira formal a 27 e 28.

 

Que se passou?

Ninguém sabe ao certo, mas aparentemente tudo resulta da vontade dos partidos de extrema-direita de conseguirem uma posição de relevo – que de alguma forma faça transparecer o aumento da sua importância relativa, resultante das eleições para o Parlamento Europeu.

 

Qual o país com quem tem sido mais difícil de chegar a entendimento?

Parece ser a Itália. Numa tentativa de garantir um papel importante para o país em Bruxelas, a primeira-ministra Giorgia Meloni quer uma pasta de relevo: Economia, concorrência, defesa e imigração. Tem a seu lado o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, ex-comissário e ex-presidente do Parlamento Europeu, um membro de longa data do Partido Popular Europeu (PPE). Manobrando nos bastidores, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán – que assumirá a presidência do Conselho da União Europeia a partir de 1 de julho e até 31 de dezembro (em substituição da Bélgica) – parece ter a mesma agenda: transformar o bloco da extrema-direita numa referência em Bruxelas e Estrasburgo.

 

Que dizem os socialistas do PSE?
Dizem pouco. Afinal, foram um dos perdedores da noite das eleições.

 

E os conservadores do PPE?

Dizem muito, dado que foram um dos vencedores. O PPE deu mostras, exatamente porque o seu grupo parlamentar cresceu e o socialista diminuiu, que podia estar interessado em dividir o próximo mandato do Conselho Europeu em dois blocos de dois anos e meio, assegurando os socialistas um e os conservadores outro. Nada de novo: Charles Michel foi eleito a 2 de julho de 2019 para o período de 1 de dezembro de 2019 a 31 de maio de 2022 e foi reeleito, em março de 2022, para um segundo mandato para o período de 1 de junho de 2022 a 30 de novembro de 2024. A novidade seria mesmo a não repetição do mandato a partir do meio da legislatura. Os socialistas não parecem minimamente interessados na solução, tanto mais que Von der Leyen é a principal candidata do PPE e tem a comissão garantida nos próximos cinco anos, Roberta Metsola - também do PPE, é igualmente favorita a continuar como presidente do Parlamento Europeu. Assim, no limite, em metade do mandato de cinco anos, o PPE garantiria três dos quatro principais lugares da União Europeia.

 

Que são?

A presidência da Comissão Europeia, a presidência do Conselho Europeu, a presidência do Parlamento Europeu e o cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros.

 

Que nome está indicado para este último?

O da primeira-ministra estónia, Kaja Kallas, do grupo dos liberais. Convém recordar que os liberais foram também um dos grupos derrotados da noite das eleições. Ou seja, se os quatro cargos forem ocupados pelos nomes que ‘circulam’ – e o de António Costa continua a ser considerado o mais sólido para o Conselho – socialistas e liberais (em detrimento da direita radical) veriam a sua posição relativa atual beneficiada, dado que baixaram a representação no parlamento comum.

 

Costa mantém os apoios?
Aparentemente sim. Pelo menos os do chanceler alemão Olaf Scholz e do chefe do governo espanhol Pedro Sánchez. Já quanto ao previsto apoio do presidente francês Emmanuel Macron, as coisas parecem estar mais nebulosas, nomeadamente porque a gestão da crise caseira pode aconselhar a uma mudança estratégica, que alguns analistas já anteciparam mas que não conseguiram projetar em termos de um nome alternativo a António Costa.

 

Macron costuma gostar de surpresas?

Costuma. Há cinco anos, dizia-se que Macron queria Christine Lagarde na presidência do Conselho antes de ter aceitado ‘baixá-la’ para a governação do Banco Central Europeu. Diz-se também que Macron pressionou António Costa para aceitar o cargo em 2019. De qualquer modo, convém lembrar que as negociações de 2019 demoraram umas 50 horas e obrigaram os negociadores a uma maratona que durou uma noite inteira – e que a delegação francesa é sempre das mais ativas.