O ex-primeiro-ministro português e candidato a presidente do Conselho Europeu, António Costa, terça-feira, 18 de junho, uma aposta da União Europeia (UE) na promoção de "campeões europeus", empresas com capacidade para competir nos mercados globais, mas advertiu que devem ser garantidamente europeias.
António Costa, que participava na conferência "Europa e o futuro: a nova legislatura", promovida pela sociedade de advogados Abreu, com Herman Van Rompuy, que foi o primeiro presidente do Conselho Europeu, entre 2009 e 2014, defendeu que as empresas europeias têm de “ganhar escala”, para poderem competir com as congéneres norte-americanas e chinesas.
“Precisamos de camões europeus”, disse, acrescentando que isto “significa mesmo europeus”.
Costa considera que este é um desafio e apontou que a promoção de campeões europeus tem de ser feita “sem sacrificar a coesão”.
“Não podemos apostar só nas cinco maiores economias”, disse, acrescentando, também, que estas empresas podem “não estar num só país, mas em vários, devido a toda a sua cadeia de valor”. Deu como exemplo os principais construtores automóveis europeus, que têm atividades em diversos países da UE.
O ex-primeiro-ministro português apontou a competitividade como um desafio e um objetivo da UE, assim como a aposta nas transições climática e digital, e o investimento na investigação e no desenvolvimento de novas tecnologias, defendendo que todos estão interligados.
“Temos de recuperar a liderança tecnológica”, defendeu. “[Temos] o desafio de manter a Europa como espaço de prosperidade, para fechar o gap com os Estados Unidos e a China”, acrescentou.
Antes, Herman Van Rompuy elencara também como desafios a competitividade e a produtividade, as alterações climáticas e a autonomia estratégica da UE, assim como a segurança e defesa, as migrações e a democracia.
“Os factos determinam a agenda”, afirmou.
No desafio da imigração, Van Rompuy salientou que será marcado pela concretização do Pacto de Asilo e Migração, mas avisou que é um tema “para as próximas décadas”, tendo como enquadramento o envelhecimento da Europa e a “explosão demográfica em África”.
Tal como Costa, salientou o “gap cada vez maior com os Estados Unidos na produtividade”, ainda que a UE tenha “o melhor programa de inovação”.
No novo quadro geopolítico e económico, identifica três players – UE, EUA e China – e defendeu que é necessário um esforço conjunto, corporizado na União Europeia, para que a Europa possa ser competitiva.
“Temos de ser capazes de competir com as importações chinesas”, afirmou. “Não podemos ser frugais”, sublinhou.
Também António Costa se referiu à necessidade de reforço do orçamento da UE, para responder aos desafios que se colocam aos atuais 27 e, mais ainda, depois do processo de alargamento.
“Dificilmente teremos novos recursos que não signifiquem novos impostos” da própria UE, advertiu. E deu como exemplos eventuais taxas sobre empresas digitais, carbono ou transações financeiras. “Podemos resolver dois problemas, obtendo mais recursos e maior justiça fiscal”, apontou.
Costa criticou aqueles que defendem uma maior ambição para a UE, mas sem recursos adicionais. “Seria vender ilusões”, afirmou.