A “importação de vinho a granel, que não é da região” – e que implica uma redução clara das receitas dos produtores locais – é um dos problemas que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), vai levantar em audiência já pedida ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, disse um dos membros da direção daquela associação, Vítor Rodrigues, em declarações ao JE. Um caso de polícia? Esta prática “é de facto um caso de política, como diz” e é claramente indutora de uma grande perda de receita para os produtores da região – que neste momento “passam por graves dificuldades”.
Num contexto de vindimas a decorrer, a confederação tem vindo a alertar para o desespero dos pequenos e médios produtores face às ameaças dos grandes agentes da transformação e do comércio de não comprarem uvas, o que levou aquela estrutura a solicitar, no final da passada semana, uma audiência urgente ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes. “Ainda não foi marcada, mas esperamos que o seja em breve”, afirmou Vítor Rodrigues.
Aquele responsável adiantou que, para além dessa reivindicação – conhecida de todos mas sem que haja a identificação de quem (ou das empresas que) prevarica – a CNA vai ainda expor a José Manuel Fernandes que “o preço da uva não pode continuar a ser pago abaixo do preço de produção” – sendo certo que “os fatores de produção estão cada vez mais caros, desde logo porque a alteração das condições climáticas obriga a um cada vez maior número de intervenções” no ciclo de crescimento das uvas.
Por outro lado, “temos assistido a uma grande redução do benefício” – pipas que seguem para a produção de vinho do Porto, sendo por isso pagas a valores mais altos que o vinho corrente – “que só entre 2022 e 2024 desceu cerca de 30 mil pipas”. Feitas as contas a um valor médio de 500 euros por pipa, o resultado é que 15 milhões de euros deixaram de entrar nos cofres dos produtores – não será tanto, evidentemente, porque vinho sem benefício também tem valor económico.
Outra alteração que a CNA veria como um benefício seria, disse Vítor Rodrigues, a utilização de aguardente da região (que se mistura no vinho) para a produção de Vinho do Porto. Para além do ‘purismo’ que esta medida alcançaria (todo o produto, mundialmente famoso, seria oriundo do Douro, o que pode não acontecer neste momento), esta medida poderia resolver o problema do excesso de vinhos em stock – que é exatamente uma das ‘aflições’ atuais dos produtores. Vítor Rodrigues sabe que as grandes casas produtoras consideram que essa medida “iria encarecer a produção de Vinho do Porto”, mas seria um auxílio poderoso aos produtores mais modestos.
Os problemas do sector dos vinhos não se confinam ao Douro: “A CNA enviou um pedido de audiência urgente ao ministro da Agricultura para abordar a crise que se vive em todo o sector do vinho, com particular incidência na região demarcada do Douro, e reiterar a necessidade de medidas eficazes para colmatar, no imediato, a perda, em algumas situações total, de rendimento dos viticultores”, referia a organização em comunicado. Mas a confederação sublinha que é na região do Douro que a situação é mais grave, tendo em conta que os agricultores têm de lidar com o corte no benefício anunciado pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). Em causa estão menos 14 mil pipas, quando no ano anterior já se tinha verificado um corte de 12 mil. O facto de as uvas serem vendidas a preços de há 25 anos também não ajuda.
Para a CNA são necessárias medidas extraordinárias de apoio, que mitiguem a perda de rendimentos, apoios que a confederação defende que devem chegar até ao final do ano.