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CEO da Nvidia perde quase sete mil milhões com queda das ações

A Nvidia caiu mais de 6% nas negociações após a apresentação dos resultados. E com o valor da cotada, também se foi a fortuna do seu CEO. Jensen Huang perdeu algum património, mas tem andado a vender títulos nos últimos dois meses… O que se avizinha para a tecnológica?

A Nvidia viu 210 mil milhões de dólares a evaporarem-se do seu valor de mercado depois da apresentação dos resultados, a 28 de agosto. A empresa liderada por Jensen Huang, um dos três co-fundadores e CEO, tornou-se uma referência entre as Sete Magníficas para o mercado.

Foi a primeira empresa cotada em bolsa a atingir a inimaginável capitalização de três biliões de dólares. Agora, depois de lucros e receitas recordes no segundo trimestre do ano, que contrastaram com as previsões dos analistas, a empresa sofreu uma desvalorização significativa em bolsa, com os títulos sujeitos a grande volatilidade, especialmente no after-hours.

Mas como é que se explica uma forte queda em bolsa quando os resultados são fora de série? Vamos por partes.

Quais os resultados da Nvidia?

A empresa de Santa Clara viu as receitas dispararem 122% face ao trimestre homólogo, até aos 30.040 milhões de euros (27 mil milhões de euros), num valor que engloba as receitas dos data centers: 26,3 mil milhões de dólares, mais 154% em relação ao segundo trimestre de 2023 e 16% que no trimestre anterior.

Já os lucros aceleraram 168% para 16,6 mil milhões de dólares, um novo recorde que superou as previsões do mercado.

Entre as novidades, a empresa revelou ter pago 15,4 mil milhões de dólares aos acionistas, em dividendos e recompra de ações.

Quanto perdeu o CEO?

Jensen Huang tem ‘apenas’ 3% da cotada, um valor que influencia a sua fortuna, mas bastante inferior à participação de vários CEO das tecnológicas.

Feitas as contas, Huang somava uma fortuna de 93,3 mil milhões de dólares no fecho da sessão do dia dos resultados, quarta-feira, 28 de agosto. Um valor que pode ser considerado modesto, tendo em conta que é dono da empresa mais valiosa do mundo. Aqui, e para contexto, a Nvidia ainda não tinha apresentado os seus resultados trimestrais.

O mais doloroso terá sido a abertura da sessão seguinte: numa só noite, Jensen Huang viu serem evaporados 3,4 mil milhões de dólares da sua fortuna, uma vez que contabilizava 89,4 mil milhões de dólares na sua carteira digital aquando da abertura de Wall Street no dia 29 de agosto. Esta queda é explicada pela perda superior a 6% nos títulos, nas negociações after-hours.

Mas a queda não viria a ficar por aqui… A perda foi-se intensificando ao longo do dia e Jensen Huang voltou a ficar mais pobre. A fortuna do CEO chegou ao fim de dia 29 de agosto nos 86,7 mil milhões de dólares.

Trata-se então de uma quebra acentuada de 6,6 mil milhões de dólares que voaram das contas de Jensen Huang em apenas uma sessão, após resultados considerados fortíssimos e que contrastaram com as expectativas dos analistas.

Reação no aftermarket é exagero?

Esta é a defesa dos analistas consultados pelo Jornal Económico aquando da queda inicial. Em muitos dos artigos de jornais norte-americanos é possível ler que a “Nvidia derrotou, mais uma vez, as expectativas do mercado”, indicando que esta era uma probabilidade muito assente.

Os analistas do Bankinter e do BCP, ouvidos pelo JE, dizem que o mercado está a ser “demasiado exigente” com a empresa. Isto porque a super-empresa dos chips semicondutores tem mantido um elevado padrão de resultados, num crescimento consistente nos últimos semestres.

Com a empresa a confirmar os atrasos no lançamento na nova geração de chips, os muito aguardados Blackwell, provavelmente até ao quarto trimestre, um research da Goldman Sachs indica que “apesar da antecipação [expectativa] em torno do Blackwell, a procura por chips de base Hopper continua forte, com a Nvidia à espera de um crescimento na segunda metade do ano”.

Este mesmo research evidencia que as receitas que envolvem estes novos chips estão perspetivadas já para serem na ordem dos mil milhões de dólares. Mas será a “força contínua na procura por produtos já existentes da Nvidia, bem como a perspetiva atualizada para a contribuição da Sovereign AI” que deverá impulsionar os resultados. A Goldman Sachs aponta que o facto da Nvidia se mostrar atrasada no lançamento e distribuição de alguns chips é positivo para a concorrência europeia.

Mercado suspeita de novo sell-off?

Não chegará a tanto. Os analistas preveem que foi só um ajuste perante as expectativas, e especialmente às perspetivas para os próximos dois trimestres.

Na sexta-feira, a Nvidia somava uma queda acumulada de 8,22% desde a apresentação dos resultados. Mas, para satisfação da empresa, as perdas ficaram controladas até ao fecho de Wall Street, com a cotada a fechar no ‘verde’ até à abertura de terça-feira (na segunda a praça dos EUA está fechada).

No fecho da sessão, a Nvidia somou um ganho de 1,51% para 119,37 dólares, caindo ligeiramente (0,11%) até aos 119,24 dólares no after-hours. Este valor permite fixar a capitalização bolsista da super-empresa em 2,93 biliões e a fortuna de Jensen Huang em 87,9 mil milhões.

E mesmo que o mercado fizesse um sell-off semelhante ao que aconteceu no início de agosto – o que gerou muito frenesim em torno da bolha de IA -, o mais provável é a fortuna de Huang sair ilesa. A razão? O seu património líquido quase saiu intocável.

Porquê?

Indica a “Fortune” que o empresário tem estado a vender centenas de ações, o que lhe tem permitido manter algum fluxo de entrada. Ainda assim, tem conseguido manter a sua percentagem, entre os 3% e 3,5%. No sell-off do início do mês, com muitos bilionários a perder património, a revista indica que o CEO mal sentiu o ‘despachar’ das ações, uma vez que iniciou a venda das suas ações ainda na primavera.

Sustenta a “Fortune” que Huang começou a vender as suas ações em blocos de 120 mil títulos, entre junho e julho, sendo que em julho vendeu 323 milhões de dólares, um valor que cresce até aos 361 milhões de dólares quando contabilizada a venda da primeira semana de agosto.

Então, como é que a fortuna de Huang continua a crescer, se está em modo venda?

A Nvidia ainda era uma empresa relativamente desconhecida há cinco anos, mas Jensen Huang já somava uma fortuna de 3,73 mil milhões de dólares, valor esse que tem disparado e oscilado constantemente, em função das negociações

No seu máximo, atingido este verão, Huang conseguiu amealhar um património de 119 mil milhões de dólares. Este montante só é possível devido ao rápido crescimento que a empresa tem sentido nos últimos meses, com aquele que é chamado de AI boom.

No entanto, contas da “Fortune” adiantam que a fortuna do CEO tem flutuado em cerca de 14 milhões de dólares, tanto com a venda das ações como com a valorização da empresa.

Até onde pode ir a Nvidia?

Ao que tudo indica, a Nvidia vai manter-se imparável. Portanto, para já, é impossível de prever onde pode ir.

Mas um novo research da “Best Brokers” indica que a super-empresa será a primeira empresa cotada em bolsa a atingir os quatro biliões de dólares em valor de mercado, isto depois de ter demorado perto de três meses a atingir os três biliões de dólares, além de ter ultrapassado a Microsoft e a Apple como empresa mais valiosa de Wall Street.

Mostra então a análise, com dados de 29 de julho deste ano, que a Nvidia vai atingir os quatro biliões em capitalização até ao início do próximo ano, “apesar da queda recente dos seus títulos por conta dos tremores da recessão que causaram o sell-off global”. “A Microsoft e a Apple estão projetadas para atingir este marco em 2026, bem à frente da Google, que só deverá chegar a esta meta em 2031”, indica o analista Paul Hoffman da “Best Brokers”, isto considerando o crescimento médio dos últimos dois anos.

Os dados mostram que a Nvidia chega aos quatro biliões de avaliação dentro de seis meses, isto partindo do seu crescimento médio de 104,25% nos últimos três anos. Mas há quem seja ainda mais otimista: “num cenário extremamente otimista, alguns investidores de tecnologia acreditam que a Nvidia pode subir até uma capitalização de seis biliões até ao final do ano. Um analista bullish prevê mesmo que a Nvidia vá atingir os 50 biliões dentro da próxima década”.

Indica a “Best Brokers”, em termos de comparação, que esta avaliação iria “exceder o valor de mercado combinado de todas as empresas no índice S&P500, atualmente nos 48,17 biliões de dólares, e quase duplicar o valor do PIB dos EUA, nos 28,78 biliões de dólares”.