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CIP preocupada com baixo valor acrescentado das exportações pede incentivos ao investimento

A componente externa, que tem ajudado no crescimento dos últimos anos, está a perder gás e Armindo Monteiro lembra que em termos líquidos o cenário é ainda mais preocupante. Turismo ajuda a camuflar a falta de exportações industriais de elevado valor acrescentado.

As exportações portuguesas continuam a esfriar, trazendo efeitos negativos do lado do crescimento, e a tendência não é para melhoria nos próximos meses. Perante isto, o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal alerta para a necessidade de exportarmos bens de valor acrescentado maior, sob pena de continuarmos a ver crescer o volume vendido ao exterior, mas sem grandes ganhos em termos de valor.

As exportações abrandaram 4,7% em cadeia no terceiro trimestre, registando o segundo período seguido de quedas no indicador, um valor que se traduz num decréscimo de 8,8% em termos homólogos, isto de acordo com os dados do INE. São números que mostram bem as dificuldades do sector exportador e que se refletem no recuo de 0,2% em cadeia do PIB em igual período, depois de a componente externa ter sido um importante motor do crescimento nacional nos últimos anos.

Perante os números, Armindo Monteiro, presidente da CIP, não esconde a sua preocupação. Em primeiro lugar, o foco dado às exportações em Portugal prende-se com o valor absoluto, e não o líquido, ou seja, descontando as importações. Assim, o impacto real desta evolução acaba por ser, em parte, “absorvido”, além de se verificar que as importações têm encarecido mais do que as exportações.

“Não temos elasticidade no preço de venda e, no preço de compra, pagamos aquilo que nos pedem”, resume. Este é um problema para o qual a CIP vem alertando, pedindo mais investimento para desenvolver sectores com mais valor acrescentado, bem como incentivos para conseguir estes investimentos.

Lembrando a diferença entre exportação e internacionalização, Armindo Monteiro defende que são precisas mais empresas de carácter verdadeiramente internacional, que exibem uma maior resistência a períodos de recessão como o que a zona euro atualmente vive. Para tal, são necessários incentivos – que nem precisam de representar gastos consideráveis para o Estado.

Olhando para o caso espanhol, em que “apenas com base num incentivo fiscal que era uma dedução à matéria coletável de IRC” foi possível adquirir empresas portuguesas, o presidente da CIP lamenta a ausência de políticas semelhantes no nosso país. E, olhando para a proposta de Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), o cenário não se altera.

Outro foco de preocupação, continua, é a inclusão do turismo nas estatísticas de exportações. Sendo um serviço procurado por muitos estrangeiros, o turismo de não-residentes é contabilizado como uma exportação do sector terciário, algo acaba por “camuflar” o comportamento deste indicador, sobretudo se o objetivo é analisar as exportações de vertente mais industrial.

Apesar do impacto negativo no crescimento e o trimestre de recuo de 0,2% no PIB, Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, ressalva que a leitura “saiu dentro do esperado”. Na mais recente nota de conjuntura do think-tank, a projeção para o PIB no terceiro trimestre era de uma variação entre -0,2% e 0,1%, pelo que a estimativa rápida do INE fica no limite inferior deste intervalo.

O abrandamento da componente externa era algo que o próprio Governo já admitia, estando mesmo explícito no OE2024 como uma das razões para o menor crescimento no próximo ano, pelo que “não há propriamente uma surpresa”, continua o diretor do gabinete de estudos do Fórum. No curto prazo, as perspetivas não são animadoras.

“Temos perspetivas claramente negativas no quarto trimestre, como os primeiros indicadores do índice de gestores de compras (PMI). Portanto, a probabilidade de acontecer uma recessão técnica, quer em Portugal, quer na zona euro é significativa” e a atual incerteza deve agravar as expectativas.