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CIP: “Momento de tensão” com os EUA obriga a “capacidade de resistência” das empresas

Armindo Monteiro, 'presidente dos patrões', considera que as empresas portuguesas mais afetadas pelas eventuais novas tarifas norte-americanas serão aquelas que se destacam pelo preço. O mau momento para o comércio mundial pode ser usado para reverter essa lógica, que agora se percebe perversa.

Num contexto em que os empresários acreditam que a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aumentar as taxas aduaneiras à entrada de produção europeia nos Estados Unidos será para cumprir, a opinião comum é que “elas serão penalizadoras para todos”, fabricantes externos e consumidores internos incluídos. Portugal estará especialmente exposto, uma vez que os Estados Unidos são o quarto mercado mais importante para as vendas portuguesas ao exterior – com os setores automóvel e farmacêutico na frente.

De qualquer modo, ainda ninguém está a fazer as contas ao que estará eventualmente pela frente – “ainda não temos um número que nos permita fazer contas”, disse Rafael Campos Pereira vice-presidente-executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e afins de Portugal (AIMMAP), em declarações ao JE. Antes disso, é preciso ver, segundo adiantou ao jornal o presidente da CIP, Armindo Monteiro, “o momento de tensão” por que passam as relações entre os dois blocos “não nos deve fazer perder a cabeça: a globalização está aí” e esta perda de velocidade não quer dizer que vai parar. “É preciso capacidade de resistência, porque vai passar, tudo há-de voltar ao normal”, vaticina Armindo Monteiro. “Quem tiver elasticidade no preço” para acomodar o impacto de uma qualquer subida das taxas alfandegárias, vai conseguir ultrapassar esta fase mais adversa das relações comerciais EU-EUA.

Seja como for, e enquanto isso não acontece, “as empresas mais expostas serão com certeza as que ganharam mercado pelo preço”. O que, afirmou ainda, resulta numa oportunidade que importa não desperdiçar: “torna-se evidente que é preciso acelerar a transformação económica” para uma plataforma de excelência, inovação e valor-acrescentado”. Numa palavra, “sofisticar a economia é o que nos vai permitir ultrapassar” a conjuntura desfavorável – para uma situação em que, em definitivo, “a vantagem não seja pelo preço”.

Dupla exposição

O setor metalomecânico – que em parte serve para especificar o setor automóvel – está duplamente exposto: pela produção que em termos de exportação segue maioritariamente para a Europa, e que pode ficar bloqueada face às eventuais novas tarifas; mas também no que tem a ver com as exportações diretas para os Estados Unidos. No setor metalomecânico, um pouco mais de mil milhões de euros vão diretamente para os Estados Unidos – num total de 24 mil milhões em exportações). Com uma agravante: algumas empresas do setor decidiram nos últimos anos investir no México para ficarem mais próximos do cluster automóvel local – que suporta as exportações para os EUA. Para esses, os malefícios dos aumentos das tarifas já são uma certeza e não apenas uma forte possibilidade

No setor do calçado dá-se um efeito diferente – que ocorrer também nos têxteis: os Estados Unidos são desde há pouco menos de uma década uma prioridade no âmbito da procura de novos mercados – tão ao gosto da AICEP. Com 7% das exportações de calçado a seguirem para os EUA, “este possível aumento das tarifas é mau para todos, estas medidas são o posto do que é bom para a economia mundial”, explicou ao JE o porta-voz da associação setorial, a APICCARS, ao Jornal Económico. Que lembro que há cinco anos o mercado dos EUA pesava menos de 3% (40 milhões de euros) e em 2023 pesou 7% (100 milhões). Só para piorar: “ainda por cima há este momento de instabilidade porque não sabemos com o que podemos contar.

Uma ideia partilhada por Mário Jorge, bastonário da Ordem dos Despachantes, para quem “a decisão de Donald Trump vai ser disruptiva para o comércio internacional” a um ponto que só poderá ser minimamente antevisto “quando soubermos de que tarifas estamos a falar”. Para Mário Jorge, é de esperar que fiquem algures entre os 10% previstos para a China e os 25% destinados ao México e ao Canadá. Para aquele responsável, o setor dos componentes automóveis (que tem uma exposição aos EUA abaixo dos 6% das exportações, para dados de 2023) estará especialmente exposto – o mesmo acontecendo ao chamado mercado da saudade, onde pontificam os vinhos e as conservas, e de um modo geral tudo o que o agroalimentar.