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Cimeira do clima arranca nos EAU, sétimo maior produtor mundial de petróleo

Cimeira para salvar o planeta arranca esta quinta-feira, 30, no Dubai, Emirados Árabes Unidos, um dos principais produtores mundiais de petróleo. Deslocação do Papa foi cancelada ontem à tarde, mas a sua exortação aos poderosos mantém-se: não podem deixar um planeta arruinado para o jovens.

Ironia do destino: é nos Emirados Árabes Unidos (EAU), sétimo produtor mundial de petróleo mas também grande consumidor devido a um modo de vida alicerçado em arranha-céus e ar-condicionado omnipresente no calor abrasador do deserto, que se realiza este ano a cimeira do clima. A COP28 - sigla para 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas - junta representantes de governos, empresas, ONG e personalidades destacadas da sociedade civil entre 30 de novembro e 12 de dezembro.

O Rei Carlos III é o nome mais sonante a participar na cimeira, depois de o Vaticano ter anunciado ontem ao final da tarde o cancelamento da deslocação do Papa Francisco, devido aos recentes problemas de saúde. Joe Biden e Xi Jiping são outros dois grandes ausentes no Dubai. A presença do Santo Padre nos Emirados Árabes Unidos era vista como “um gesto importante para exortar os poderosos do mundo a não deixar um planeta arruinado para os jovens".

Uma cimeira sobre o clima num grande país produtor de petróleo soa a contradição para não dizer antagonismo. O presidente da Cop28, Sultan Al Jaber, que é também CEO da petrolífera nacional Abu Dhabi National Oil Company, (Adnoc), está convencido que pode virar o jogo reunindo um grupo de empresas petrolíferas num “acelerador de descarbonização”, ao abrigo do qual prometerão reduzir as emissões associadas às operações de extração.

A COP28 realiza-se numa altura em que as temperaturas atingem níveis recorde e os fenómenos meteorológicos extremos se sucedem a cada dia. Paralelamente, as petrolíferas seguem de vento em popa, atingindo em 2022 resultados históricos. Em conjunto, Shell, BP, ExxonMobil, Chevron, TotalEnergies e Equinor somaram lucros de 224 mil milhões de dólares (204 mil milhões ao câmbio atual) no último ano. 

Para o cidadão comum é difícil compreender que 30 anos de negociações sobre o clima (a conferência do Rio de Janeiro ocorreu em 1992) não tenham conseguido produzir um acordo para lidar com os combustíveis fósseis, que são efetivamente a maior fonte do problema. O seu poder é tanto que só em 2021, em Glasgow, Escócia, se conseguiu incluir uma primeira resolução sobre combustíveis fósseis - um compromisso com vista à redução gradual de carvão. Sem efeito, porém, ficou a ambição dos 80 países que aprovarem uma decisão  visando eliminar progressivamente todos os combustíveis fósseis.

No Dubai será feito o primeiro balanço global do Acordo de Paris, o tratado climático histórico concluído em 2015 na capital francesa, traçando um curso de ação para reduzir drasticamente as emissões e proteger vidas e meios de subsistência.

Os Emirados Árabes Unidos realizam, pela primeira vez, uma cimeira sobre metano durante a qual os países e as empresas petrolíferas serão convidados a definir planos para resolver o problema.  As emissões de metano, um gás com efeito de estufa cerca de 80 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono, são outro enorme problema que se coloca ao planeta. 

A saúde, que é outro tema profundamente afetado pela crise climática e também estará em destaque na COP28, com um dia dedicado ao tema.

Divulgado 10 dias antes do início da COP28, o relatório The 2023 Emissions Gap Report, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é claro: “para preservar um clima habitável, a produção de carvão, petróleo e gás deve diminuir rapidamente, enquanto a capacidade global de energia renovável, incluindo energia eólica, solar, hídrica e geotérmica, precisa triplicar até 2030. Ao mesmo tempo, o financiamento para a transição os investimentos na resiliência climática necessitam de dar um salto quântico”.

Para regressar ao caminho do aumento de 2°C da temperatura acima dos níveis pré-industriais, as emissões precisariam diminuir, pelo menos, 28% em comparação com o cenário atual. Trazê-lo para dentro do limite de 1,5°C exigirá um corte de 42%.

Portugal marca presença nos Emirados Árabes Unidos através de entidades públicas e representantes da sociedade e da economia, num pavilhão localizado na Zona Azul, administrada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. A Fidelidade é uma das poucas empresas portuguesas na COP28. A presença da seguradora, pela primeira vez numa cimeira do género reflete o compromisso assumido de que a sustentabilidade "é uma oportunidade para poder partilhar os seus principais compromissos e iniciativas de descarbonização".

Com um programa temático diversificado, o dia 3 de dezembro, em que a Fidelidade terá uma presença de destaque, será dedicado à saúde, assistência recuperação e paz, pretendendo-se abordar políticas e investimentos que contribuam para a resiliência, bem-estar e estabilidade das comunidades, bem como soluções de adaptação, prevenção e atuação perante situações de perdas e danos como efeitos de alterações climáticas ou situações de conflitos.