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China faz ver a Hong Kong que é “um país, um regime”

Surpresa de 2016 levou Xi Jinping a mandar alterar as leis eleitorais do território, para que não voltasse a haver qualquer sobressalto político. Não aconteceu, nem é suposto que alguma vez volte a acontecer.

Se nas eleições de 2016 ainda havia uma réstia de esperança, desta vez foi o desânimo que marcou o domingo eleitoral em Hong Kong: pouco mais de metade dos eleitores que se dispuseram a votar nas eleições anteriores acorreu desta vez às urnas, compondo uma abstenção de quase 70% - que ganhou com estrondo um ato eleitoral que poderá chamar-se, no mínimo, parcial. Os níveis de abstenção pulverizaram o recorde anterior, estabelecido nas eleições de 2000, quando tinham chegado aos 43,7%.

Não havia surpresas possíveis: com a alteração da lei eleitoral protagonizada por Pequim, os candidatos da oposição não eram admitidos a sufrágio, pelo que os partidos pró-chineses conquistaram todos os lugares nas eleições legislativas – 90, mais 20 que até agora. Mesmo assim, a nova lei dava lugar à presença de candidatos independentes ou moderados, que serviu para Pequim salvar a face – se era caso de estar preocupada com isso – perante a chamada Lei de Segurança Nacional, que entrou em vigor no ano passado, a que acresceu a reforma eleitoral de março de 2021.

Citada pelos jornais locais, Carrie Lam Cheng Yuet-ngor, chefe do executivo de Hong Kong, disse que a abstenção se fica a dever não a qualquer desmotivação ideológica ou política, mas tão somente ao mau tempo. Possivelmente também à pandemia, que atrasou as eleições por mais de um ano.

Em relação aos resultados, Lam considerou que o Conselho Legislativo (Legco, o parlamento autónomo) “é bastante representativo”. Não da oposição, por certo: nenhum dos candidatos entre os dez que se declaram independentes ou sem filiação foi eleito, e os principais partidos da oposição desistiram de indicar candidatos.

Starry Lee, líder do principal partido pró-China, o Aliança Democrática para o Melhoramento e o Progresso de Hong Kong, citado pelas mesmas fontes, afirmou que “não acho que a abstenção esteja diretamente relacionado ao facto de os cidadãos não concordarem com o atual sistema eleitoral”. “Leva algum tempo para as pessoas se adaptarem ao novo sistema”, acrescenta.

Há cinco anos, quando a Legco era composta por 70 deputados, os agrupamentos sectoriais decidiam metade dos lugares, sendo apenas a outra metade distribuída de acordo com o voto direto dos cidadãos. Nessa altura, a oposição pró-democracia conquistou 19 lugares, a que juntavam dez eleitos pelos agrupamentos sectoriais também ligados a esses movimentos. Perante este cenário, Pequim ponderou a forte possibilidade de nas eleições seguintes, as de domingo passado, a oposição que quer mais democracia no território tinha uma forte possibilidade de passar a ser maioritária. Isso era tudo o que Pequim tinha de impedir e a alteração da lei eleitoral - de nada tendo servido os protestos vindos do exterior, nomeadamente de Reino Unido – era a saída mais fácil.

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