Jon Fath, Cofundador e CEO da Rauva, fala do acordo de compra da licença bancária do Banco Empresas Montepio e de como esta aquisição é estratégica para a fintech passar a banco digital para empreendedores e Pequenas e Médias Empresas (PME). "Esta aquisição é essencial para a estratégia da Rauva e permite-nos cumprir a nossa missão de tornar o empreendedorismo facilmente acessível, respondendo a todas as necessidades de financiamento dos empreendedores e negócios de pequena e média dimensão", explica ao Jornal Económico o CEO da Rauva.
O Banco Montepio acordou esta sexta-feira a venda da sua participação de 100% no Banco Empresas Montepio (BEM) à Rauva Enterprises por um valor que supera os 30 milhões de euros. O que é então vendido? Apenas a licença bancária já que a carteira do Banco de Empresas Montepio será integrada no Banco Montepio. Assim como os trabalhadores do BEM.
Para a Rauva era a oportunidade que faltava para a primeira super-app empresarial portuguesa, que já se encontra ao serviço dos empreendedores e negócios de pequena e média dimensão do país, dar um salto para um outro nível. O objetivo da Rauva é ser um banco europeu quando receber a autorização para a aquisição do BEM pelo BCE.
"A missão da Rauva é tornar o empreendedorismo facilmente acessível a todos. Não existem bancos digitais dedicados exclusivamente a pequenas e médias empresas e a empreendedores na Europa, e queremos preencher esta lacuna e ter um verdadeiro impacto nestes negócios", diz Jon Fath.
"Com o acordo de aquisição de um banco, damos mais um passo no sentido de disponibilizar cada vez mais serviços e opções de qualidade aos nossos clientes, de forma dar maior valor aos seus negócios e ajudá-los a crescer", reforça o CEO da Rauva que acrescenta que "a aquisição de um banco permite à Rauva fornecer aos nossos clientes serviços inovadores e adicionais, incluindo soluções de crédito, que podem ajudar os empreendedores a iniciar, gerir e também expandir os seus negócios de forma eficaz".
A Rauva serve o mercado dos empreendedores pretendendo apoiá-los a gerir com segurança todas as suas necessidades financeiras através de uma única solução integrada.
A fintech criada em 2022 já teve uma ronda de financiamento e quer expandir a sua operação através da licença bancária que acaba de adquirir e já se sabe que em Portugal é mais fácil adquirir uma licença já atribuída do que pedir uma nova ao supervisor bancário.
Que tipo de operações a Rauva oferecerá às PME e aos freelancers?
"Com esta aquisição, a Rauva pretende preencher uma lacuna no sector dos serviços financeiros, tornando-se o primeiro banco digital português e europeu inteiramente orientado para as empresas, potenciando a inovação pela criação de novos produtos e serviços financeiros que permitirão apoiar os empresários, nomeadamente em matéria de crédito", reforça a fintech.
"Este acordo de compra materializa a nossa estratégia de oferecer aos nossos utilizadores as melhores e mais avançadas soluções, apoiando a sua visão em qualquer ponto do seu percurso empresarial", acrescenta a Rauva.
"Reconhecemos que as empresas, especialmente as pequenas e médias empresas, enfrentam desafios significativos na gestão da sua administração financeira, gastando horas semanalmente para gerir as suas finanças", diz Jon Fath que acrescenta que "a super-app da Rauva preenche a lacuna, fornecendo uma solução completa para ajudar os empreendedores a gerirem as suas finanças para que se possam focar apenas no crescimento do seu negócio".
"A nossa aplicação permite que as pequenas e médias empresas e os empreendedores abram uma conta comercial, utilizem cartões físicos e virtuais, tratem dos pagamentos, enviem e acompanhem facturas certificadas e totalmente conformes aprovadas pela AT (Autoridade Tributária), façam a gestão das despesas, e ainda oferece assistência especializada na criação de empresas portuguesas e na nomeação de um Contabilista Certificado", diz o CEO.
Qual a estratégia da Rauva para Portugal se tornar um banco?
Jon Fath sublinha que "como bem sabem, as PME são um motor crucial da economia portuguesa, representando 99% das empresas em Portugal. Esta é uma das razões pelas quais escolhemos Portugal para construir e lançar a Rauva".
"Além disso, Portugal tem um cenário tecnológico próspero, o que o torna uma excelente opção para uma empresa fintech como a Rauva ter a sua sede. Portugal está na vanguarda da digitalização na Europa", acrescenta o CEO da Rauva.
"O país já implementou ferramentas digitais como a faturação eletrónica, que está atualmente a ser implementada em toda a Europa. Isto faz de Portugal o mercado perfeito para começar, depois expandir-se pela Europa e ser o primeiro a entrar em novos mercados", conclui Jon Fath.
O acordo entre as partes foi formalizado com a assinatura de um contrato de compra e venda de ações (SPA – Share Purchase Agreement), o qual está sujeito, em especial, à verificação de determinadas condições precedentes necessárias à conclusão (closing) da operação, incluindo a aprovação por parte das autoridades de supervisão e de regulação.
Pedro Leitão aposta na simplificação do grupo Banco Montepio
Antes da conclusão da operação, todos os ativos, passivos e operações do BEM serão transferidos para o Banco Montepio e assim o banco criado por Carlos Tavares em 2019 chega ao fim. O Banco de Empresas Montepio foi anunciado a 20 de Fevereiro de 2019, durante o encontro de apresentação da nova imagem do Banco Montepio (que deixava a designação comercial Caixa Económica Montepio Geral). Carlos Tavares, à época presidente da administração do grupo financeiro, apresentou o Banco BEM como uma medida estrutural do Plano de Transformação do Montepio e como um banco especializado destinado a “ocupar um espaço que está vago na banca portuguesa”.
O BEM vinha na senda da necessidade de encontrar “fontes alternativas de financiamento, de mercado, capital de risco, que hoje as empresas, dado o grau de alavancagem que ainda têm, precisam urgentemente de ter disponibilizadas”, era dito por Carlos Tavares na altura. Na altura o BEM iria receber do Banco Montepio os clientes, grandes grupos económicos”, com volume de negócios acima de 20 milhões de euros e até 100 milhões.
No entanto sob a batuta de Pedro Leitão, o Banco Montepio decidiu integrar os ativos e passivos do BEM na casa-mãe e vendeu a licença bancária.
Para o Grupo Banco Montepio, esta operação insere-se no processo de integração das atividades do BEM no Banco Montepio, o que permitirá capturar sinergias e, simultaneamente, preservar e potenciar a proposta de valor integrada de banca comercial e de banca de investimento, desenvolvida com sucesso pela instituição, com o propósito de melhor servir os clientes a cada momento.
Recorde-se que o BEM foi criado a partir da licença atribuída ao Montepio Investimentos depois da compra do Finibanco em 2010.
O preço de venda terá como referência um múltiplo de entre 1,15x a 1,18x dos capitais próprios do BEM à data da conclusão (closing) da operação, estimados em 30 milhões de euros.
Com este acordo, o Banco Montepio deu mais um importante passo no cumprimento dos compromissos assumidos no Programa de Ajustamento, continuando a simplificar a estrutura empresarial e a melhorar o modelo operativo do Grupo.
Pedro Leitão, Presidente da Comissão Executiva do Banco Montepio, considera este acordo "um passo importante na nossa estratégia e surge na altura certa. Ao consolidar a nossa proposta de valor integrada de banca de empresas e de investimento, num modelo mais simples e focado, pretendemos elevar o nosso serviço ao cliente para um patamar superior”.