Os lucros recorde da banca em 2023 serviram como um reequilíbrio após uma sucessão de anos difíceis, considera o governador do Banco de Portugal (BdP), destacando que o resultado acumulado do sector na última década é pouco sustentável, apesar de positivo. Por outro lado, e admitindo que tal demorou a acontecer, Mário Centeno mostrou alguma satisfação por a subida de juros ter sido repercutida nos depósitos.
Após a sucessão de resultados recorde apresentados pela banca portuguesa em 2023, o governador do BdP relembrou os vários anos complicados para o sector, defendendo que os lucros dos últimos anos servem sobretudo para reequilibrar as contas. Mário Centeno recordou o resultado acumulado do sector de 200 milhões de euros e pediu prudência aos bancos, dada a improbabilidade de estes resultados se repetirem no futuro próximo.
“Se somarmos todos os resultados da banca portuguesa na última década, os resultados agregados apontam para um saldo positivo de 200 milhões, isto já contando com os resultados de 2023. Isto não é um indicador sustentável para nenhum sector bancário”, argumentou. Como tal, “2023 reequilibra anos sucessivos de perdas”.
“Como governador do BdP, fico muitíssimo mais preocupado quando [a banca] tem resultados negativos do que positivos”, resumiu.
Olhando para a frente, o governador avisa que “este ciclo vai-se repetir” e voltaremos a ver “os resultados da banca a reduzir-se”. Os bancos devem, portanto, aproveitar o ano extremamente positivo para “criar almofadas ou margens para precaver e se preparar para o ciclo que vem a seguir”.
Recorde-se que os sete principais bancos nacionais registaram lucros este ano de 4.633,9 milhões de euros, o que compara com os 2.761 milhões de euros obtidos em 2022.
Por outro lado, Centeno destacou a transmissão da política monetária não só do lado dos créditos, mas também dos depósitos, uma fonte de críticas regulares da sociedade portuguesa ao sector bancário – e até mesmo do próprio BdP. Se do lado do financiamento o aperto monetário se fez sentir rapidamente em Portugal, até pelo “peso muito grande dos empréstimos de taxa variável” no sistema, do lado dos depósitos o processo foi mais lento.
“Como tenho repetido desde o início deste ciclo dos juros, era muito importante que estas [subidas] se refletissem não só no crédito, mas nos depósitos. Felizmente isso aconteceu. Pode ter sido tardia […], mas o mercado conduziu-se nessa direção. Isso é o mais importante para nós”, rematou o governador.