A sociedade de capital de risco Bynd Venture Capital (Bynd VC) prepara-se para fazer três novos investimentos em startups de Portugal e de Espanha num valor total acumulado de um milhão de euros. Os financiamentos, que ainda não estão totalmente fechados com os fundadores, serão nos sectores da cibersegurança, saúde digital (healthtech) e ESG.
“Estão bastante avançados. Esperamos concluir nas próximas semanas”, disse ao Jornal Económico (JE) o partner Tomás Penaguião. Estes serão três dos dez a 15 investimentos que a empresa pretende fazer em 2024, em linha com o ano passado, quando completaram uma dezena, entre investimentos em novas startups e follow-on (subsequente) de outras “da casa”.
A TTR, uma das empresas no portefólio da Bynd, contabilizou 18 rondas de investimento em venture capital em Portugal em janeiro, num total de 63 milhões de euros, o que representou um crescimento homólogo de 125% no dinheiro mobilizado nestas operações. Segundo o investidor português, a expectativa é que 2024 seja um “ano positivo” para o ecossistema.
“Primeiro, no panorama macroeconómico, é expectável que exista uma descida das taxas de juro e uma descida da inflação e isso torna mais propício o investimento. Segundo, o capital existente em fundos de capital de risco tanto em Portugal como em Espanha - os nossos mercados de foco - gera necessidade de o desembolsar. Terceiro, inovação. As diferentes vagas da tecnologia, nomeadamente Inteligência Artificial generativa”, argumenta Tomás Penaguião.
Em relação ao último ano, diz que houve uma desaceleração do investimento em venture capital, sobretudo em rondas maiores, embora na fase de early stage (inicial), na Península Ibérica, essa desaceleração não se tenha sentido de forma tão acentuada. Logo, acabou por ser um 2023 à semelhança do período pré-pandemia. “Acho que também é importante vermos o contexto de onde vínhamos: de 2021-2021, anos relativamente atípicos e outliers em termos do investimento em venture capital”, ressalva ao JE.
E houve “nuances” no modus operandi dos investidores. “Em 2023, houve uma mudança e começou-se a apostar em empresas com um caminho mais claro para a rentabilidade e com objetivos traçados para chegar lá. Anteriormente, havia um foco muito grande em apostar em startups com um crescimento exponencial e essa era uma das principais métricas - praticamente a única - às quais os fundos olhavam”, conta o partner da Bynd VC.
Farfetch e as três razões do "desfecho inesperado"
Alertas que se associam ao caso Farfetch. Na perspetiva de Tomás Penaguião, a tecnológica de José Neves quebrou por três motivos: um desfasamento entre a expectativa dos investidores e a realidade da empresa, um marketplace demasiado dependente de poucas marcas de luxo e pouca atenção à rentabilidade.
“Talvez tenha havido também um foco maior do crescimento e não tão grande na rentabilidade, que depois pôs em causa a sustentabilidade financeira da empresa”, explica, acrescentando que, ao olhar para trás, “é fácil criticar e apontar o dedo”, mas o exemplo que a Farfetch deu “como primeiro unicórnio para o ecossistema português é um caso positivo de sucesso que não teve o desfecho esperado”.